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ROSIL CAVALCANTE E OS CEM ANOS DE SEU DE NASCIMENTO

Clemildo Brunet
Clemildo Brunet*

2015 é o ano do centenário de nascimento do radialista e compositor Rosil Cavalcante. Nasceu no dia 20 de dezembro de 1915 em Macaparana, na divisa de Pernambuco com a Paraíba, se tornou um dos profissionais da comunicação mais talentosos e polêmicos do Nordeste.
Em sua trajetória de vida teve uma passagem por Pombal onde trabalhou na Brasil Oiticica no início dos anos 50 e
montou o seu próprio Serviço de Alto Falante – Radio Difusora Tupã.
 A Imprensa paraibana já começa a se movimentar no sentido de homenageá-lo pela passagem do centenário de nascimento, a exemplo do Jornal Correio da Paraíba que no último domingo dia (14) publicou sobre a vida do artista que deu seu ponta pé inicial como compositor na cidade de Campina Grande.
Em 15 de agosto deste ano está prevista outra homenagem a Rosil Cavalcante no Parque Cultural “Rei do Baião” na fazenda do Jornalista Chico Cardoso em São João do Rio Peixe.
Este ano também o pesquisador Rômulo Nóbrega de Campina Grande vai lançar um livro sobre a vida daquele que despontou no cenário nacional a começar pela Rainha da Borborema.
Associando-me a essas homenagens transcrevo em minha coluna para conhecimento de meus leitores, um artigo do colunista Ignácio Tavares publicado no Livro “Histórias do Rádio em Pombal” que fala sobre a vida do compositor de Sebastiana, Tropeiros da Borborema, Aquarela Nordestina entre outras, quando de sua estada em nossa cidade.

ACORDA POMBAL 145

NO TEMPO DA RÁDIO DIFUSORA TUPÃ: Rosil Cavalcante. No início dos anos cinquenta, o cenário político de Pombal sofreu algumas alterações, no quadro de suas lideranças, devido a presença de novos atores, além dos já conhecidos. Doutor Queiroga, velho prócer da política local, foi eleito prefeito tendo como vice o vereador, representante do então distrito de Lagoa, o senhor Francisco Vieira Pereira e ainda criou condições favoráveis para a eleição do médico Isaias Silva para nos representar na Assembleia Legislativa.
O Doutor Queiroga faleceu em pleno exercício do cargo, e o senhor Frâncico Pereira assumiu a titularidade da administração municipal, dando inicio um novo ciclo de liderança política, que durou várias décadas. O PSD, partido social democrático, liderado pela família Carneiro, assistiu à ascensão da UDN, união democrática nacional, sob o comando da família Pereira. O quadro preferencial da população, no que respeita a um e outro partido, era bastante equilibrado.
Assim sendo, com o eleitorado bem dividido, era comum, a cada período eleitoral, haver alternância do poder. Isso foi bom porque gerou as condições ideais para que o povo pudesse fazer comparações do desempenho administrativo entre diversos gestores, que estiveram à frente do executivo municipal.
Oxalá que continuasse assim, porque seria um excelente remédio para quebrar os grilhões da dominação política por grupos gananciosos e até certo ponto já viciados na prática de mutretas, extremamente prejudiciais ao tesouro municipal, através do mau uso do dinheiro do povo. Quero dizer com isso que, nessas situações, os projetos prioritários são relegados a um segundo plano, em favor dos chamados projetos eleitoreiros.
Por conta desse pequeno diferencial nas preferências do eleitorado, a disputa pela adesão de novos adeptos, pelos dois partidos, era bastante acirrada. O ambiente político tornou-se, até certo ponto, agressivo, mesmo fora do período eleitoral. Foi nesse clima que aportou em Pombal um jovem radialista com o firme propósito de instalar um serviço de rádio-difusora moderna e diferenciada.
Este jovem chamava-se Rosil Cavalcante. Para se estabelecer, queria um ponto bem central e próximo ao centro comercial da cidade. Esse ponto foi cedido por minha família, exatamente onde hoje funciona o serviço de reparação e conserto de refrigeradores do sobrinho Jerdy Nóbrega de Araújo. O prédio foi dividido em duas partes. Ao lado norte, funcionava a alfaiataria do nosso tio Lelé e ao lado sul, o estúdio da Rádio Difusora Tupã. Pombal vivia um momento esplendoroso, do ponto de vista econômico, por conta da cultura do algodão, o “ouro branco”, como era conhecido, por seu elevado valor de mercado.
Circulava muito dinheiro no comercio e no bolso do povo. Não havia bancos, portanto o dinheiro era guardado no fundo do baú, em cofres de pessoas amigas ou em baixo do travesseiro. Dessa forma, em pouco tempo, a Rádio Difusora Tupã passou a ser o centro das atenções e logo conquistou corações e mentes do povo da terrinha. Assim sendo, a audiência era simplesmente espetacular.
Rosil Cavalcante tornou-se querido e admirado por todas as classes sociais, posto que, o seu relacionamento com público, assim como a programação jornalística e musical da Rádio Difusora Tupã, contribuíram para que ocorressem consideráveis mudanças no modo de ser e pensar, em grande parte de população. Os políticos ficaram de orelhas acesas, em particular as espertas raposas da UDN. Dessa forma, não era apenas a programação musical e os comerciais que ocupavam os espaços da emissora. Isso porque de forma engenhosa e inteligente, o jovem empresário implantou um tipo de jornalismo até então desconhecido pelo povo.
            As notícias, que eram garimpadas e catalogadas pela sua secretaria e esposa, abrangiam todos os recantos do Brasil, do Estado, afora o noticiário local. As informações eram repassadas através de alto-falantes localizados em pontos estratégicos da cidade. Rosil não batia bem, politicamente, com o grupo da UDN. Isto porque o governo do estado, que pertencia aos quadros desse partido, com muita frequência cometia abuso de poder, por solicitações dos agentes locais, que, quase sempre resultavam em perseguições explicitas a funcionários e eleitores simpatizantes do outro lado.
      Coisas daquele tempo, que vez por outra ainda se repete em algumas administrações retrógradas e rancorosas. Com efeito, vez por outra, o jornalismo da Tupã fazia algumas considerações desairosas à atuação do delegado de polícia, que só prendia os adversários, assim como ao próprio governador do estado, o senhor Osvaldo Trigueiro, que transferia funcionários, a pedido dos seus correligionários, para lugares distantes de suas famílias, quando não podia demiti-los.
A política em Pombal, assim como acontece nos dias de hoje, sempre estava na ordem do dia. Em ambos os lados havia os partidários apaixonados. As rodas de discussões eram frequentes e apimentadas com muitas futricas, envolvendo as lideranças políticos do município. Entre tantos apaixonados, lembro-me do velho Sindô Gouveia, decano dos alfaiates da terra.
Era um apaixonado pelo PSD. Um senhor de respeito, sorridente, brincalhão, de alegria transbordante, contagiante e por onde passava chamava atenção dos circunstantes. Por isso todo mundo admirava e gostava do velho Sindô ou Pai Dodô, como era chamado por filhos e netos. Acontece, que numa dessas discussões, o nosso saudoso Sindô falou alguma coisa que aborreceu o núcleo duro e zangado da UDN. Não deu outra, emboscaram Sindô, numa boca de noite e bateram sem dó nem piedade.
A cidade ficou traumatizada e horrorizada com o nefasto acontecimento. Este ambiente de agressões a pessoas indefesas deixou Rosil Cavalcante bastante motivado, para dar ênfase ao jornalismo fundamentado nos acontecimentos da política local. Dessa forma, a questão do desrespeito à pessoa humana passou a ser a âncora do jornal diário da Rádio Difusora Tupã. Centenas de pessoas acotovelavam-se em frente ao estúdio, para escutar os editoriais, que eram lidos antes do início do jornal de cada dia, escritos caprichosamente pelo editor do jornal.
Rosil sabia muito bem o risco que estava correndo diante das posições assumidas contra grupo em questão. Corajoso e destemido, em nenhum momento curvou-se à pressão da força repressora udenista, em assim sendo, continuou a deitar falação e denunciar firmemente os atos de barbárie cometidos contra as pessoas indefesas.
O seu propósito era o de acabar, de uma vez por toda, com esse tipo de agressão perversa e gratuita. Não tardou, numa certa noite, quando encerrou a sua programação, foi atacado por desconhecidos de forma brutal e humilhante. Diante do quadro de terror que se instalou na cidade, resolveu definitivamente sair de Pombal e decidiu fixar residência em Campina Grande. Mirado, no que conteceu com o saudoso Sindô e Rosil, há anos atrás e no que ocorreu recentemente, aqui na terrinha, envolvendo a esposa do senhor prefeito, pergunta-se: será que os velhos tempos estejam voltando? Custa-me acreditar, portanto, deixemos isso pra lá e continuemos a história da Rádio Difusora Tupã.
 Dessa forma, Pombal, perdeu o maior comunicador, sem desmerecer nossos jovens comunicadores de hoje, de toda sua história, mas em compensação o Brasil ganhou um grande compositor de música popular regional. Ao se estabelecer em Campina Grande, não sei se na rádio Caturité ou na Borborema, criou o famoso programa musical de caráter regional, conhecido como “O Forró de Zé Lagoa¨. Foi a partir desse novo momento, que passou a tomar gosto pela música regional e resolveu compor letras e músicas para os cantores da região.
Na segunda metade dos anos cinquenta, lançou ¨Sebastiana¨, que projetou JACKSON DO PANDEIRO, para todo Brasil. Depois fez o Cabo Tenório, Moxotó, Gabriela, Coco Social e tantas outras, gravadas por Jackson. Luiz Gonzaga também gravou suas músicas com retumbante sucesso, com destaque para o título ¨Véio Macho¨ e tantas outras. Mas, a mais importante composição de Rosil, em Parceria com Raimundo Asfora, que, no meu modo de pensar, é capaz de fazer parte de qualquer antologia da Língua Portuguesa, foi e ainda é os Tropeiros da Borborema.
 A beleza da letra e música é tanta que o povo de Campina escolheu como a música do século passado. Rosil jamais esqueceu Pombal. Em 1962, quando Dr. Avelino foi candidato a prefeito da terrinha, preparou um ¨Jingle ¨, aproveitando a música de Veio Macho e ajustada, em parte, a uma outra letra bem apropriada para aquele momento. A letra era simples e por isso caiu no gosto do povo. Se não estiver enganado, era mais ou menos assim: Cabra da peste nunca foi capacho, ô veio macho, ô veio macho, e assim por diante.
Rosil já está noutra dimensão. Mesmo assim meu caro e saudoso comunicador, poucos sabem o que você representou para o povo de Pombal, razão pela qual escrevo este texto em homenagem a sua memória, que doravante as novas gerações que nunca ouviram falar no seu nome vão ficar sabendo que, no solo abençoado desta terra, ficaram as marcas do seu sangue, assim como de suas pegadas, que continuam abertas para que muitos possam trilhar pelo mesmo caminho.
Digo, o caminho da dignidade e do respeito ao ser humano. Lá do alto, acredito que permaneça ainda com o olhar fixo no nosso velho burgo, revivendo boas e más lembranças. Porém, na certeza de que aqui ficaram plantados seus nobres ideais de justiça e liberdade.
Ao velho e saudoso Sindô, também as nossas lembranças e muito obrigado por ter vivido entre nós e ainda pelo seu temperamento brincalhão, pelo seu riso de criança feliz, permanentemente estampado no seu rosto e pela mensagem de paz e alegria que nos transmitiu, durante o tempo que viveu no nosso meio. Pai Dodô e Mãe Talina, é o nosso desejo que vivam em paz na casa do Senhor. Até breve.
João Pessoa, 06 de Junho de 2007.
*Ignácio Tavares
Extraído do Livro Histórias do Rádio em Pombal pág. 33

*Clemildo Brunet - Radialista e Escritor
ROSIL CAVALCANTE E OS CEM ANOS DE SEU DE NASCIMENTO ROSIL CAVALCANTE E OS CEM ANOS DE SEU DE NASCIMENTO Reviewed by Clemildo Brunet on 6/15/2015 05:52:00 PM Rating: 5

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