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MEMÓRIA VIVA - LEMBRANÇAS QUE O TEMPO NÃO APAGA

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

Versão I

Em qualquer época sempre houve a formação de grupos de adolescentes românticos, sonhadores, sem pressa para definir seus projetos de futuro. Foi assim no meu tempo. De uma coisa tenho certeza: hoje nos grupos de jovens, os relacionamentos são diferentes, posto que, não existe mais aquela ingenuidade de outrora.  
O nosso grupo era eclético, em termos de núcleo residencial, posto que, éramos formados por jovens moradores da Rua do Comércio e da Rua da Cruz. O foco da nossa diversão era o futebol. Num segundo plano, com certa freqüência, fazíamos caminhadas pela beira do rio para os nossos banhos costumeiros.
 Quase sempre o nosso ponto de parada era o poço da panela. Era um lugar bastante procurado pelos jovens da minha época para se banhar e
se divertir. O banho era emocionante por conta do risco que o ambiente nos submetia. O local mais procurado era o poço da panela. Era sim um banho de alto risco. Por que tanto risco?
 Pois é, para tornar sensacional o nosso banho, escolhíamos a pedra mais alta para os saltos de ponta, cujo espaço reservado para o mergulho era mínimo, em razão da existência de duas pedras paralelamente posicionadas a nos esperar lá em- baixo. Tínhamos que pular com os braços apontados em direção a água para evitar choques com as malditas pedras. Era muita emoção, antes e depois do salto.
 Tempos depois essas pedras ceifaram a vida do inexperiente Jair Alcântara. Este jovem, ao saltar, por uma razão qualquer, talvez tenha se desconcentrado, perdeu o equilíbrio, bateu de testa numa das pedras. Foi um momento de aflição pra os amigos que se faziam presentes.
  O primo Antonio Tavares que estava no momento falou-me que ninguém pôde fazer nada para socorrê-lo, pois não deu sequer pra ver o seu último suspiro. Tudo foi muito rápido. Era assim mesmo, um passo em falso seria fatal. Jair deu esse passo, ao saltar para o último mergulho no velho poço da panela. Daí por diante ninguém mais ousou mergulhar naquele lugar.
 O nosso grupo antecedeu ao grupo de Jair. Éramos bons nadadores, sobretudo habilidosos no momento do salto. A panela não era o único poço onde nos banhávamos. Às vezes descíamos até os poços do Redondo, da Camboa na busca de novas aventuras.
  O poço do Araçá era outra opção. Apenas os iniciantes o procuravam este poço, postos que, funcionava como uma escolinha preparatória para quem quisesse enfrentar os desafios do poço da panela. Isso mesmo, os iniciantes rigorosamente tinha que estagiar no Poço do Araçá.
 Terminada a nosso aventura, no retorno a casa, a gente passava pela Pedra do Sino a fim de tirar um som que fazia lembrar a batida do sino da Igreja Matriz. Não sabíamos a que se devia a tão espetacular sonoridade daquela pedra.
 Com o passar do tempo, soubemos que a Pedra do Sino era única, pois, não havia outra igual. Era resultante de uma liga petrificada, com certeza desceu lá de cima, composta de materiais ferrosos diversos, razão da sonoridade que habitualmente extraíamos quando provocávamos o atrito com outra pedra.
 O fato triste foi o desaparecimento misterioso da Pedra do Sino.  Se alguém a roubou, até hoje ninguém sabe, ninguém viu. Em não sabendo do seu destino ficamos a supor que a dita pedra foi transformada em paralelepidos justo naquela época que o prefeito da cidade estava a calçar as primeiras ruas da cidade.  O mistério continua até hoje.
  Por outro lado se por razões outras foi levada pra algum lugar distante, com certeza foi fatiada em pedaços, pois era um bloco monolítico de enorme proporção. Assim sendo, era impossível ser conduzido através dos meios de transportes convencionais.
  Isso mesmo, afora as travessuras que fazíamos rio abaixo, sempre em grupo, deslocávamos para outras partes da cidade a fim de desafiar outros jovens adolescentes através de disputadíssimas partidas de futebol. Brigas? Era coisa rara. Vez por outra havia alguns estranhamentos, mas eram resolvidos em tempo hábil para evitar enfrentamentos generalizados entre os grupos.
 Quase sempre os acertos para disputas futebolísticas eram feitos no Grupo Escolar João da Mata. Essa unidade de ensino foi o ambiente mais representativo da convivência social pacifica, entre jovens de classes sociais diferentes.
 Considero aquela velha unidade de ensino, um exemplo de democracia social onde se misturavam ricos e pobres, brancos pretos, meninos e meninas. Todos coexistiam pacificamente. Nos intervalos, os amigos da Rua da Cruz engrossavam nossas fileiras, o que nos fazia um grupo forte, por isso respeitado.
 Dada a representatividade do nosso grupo éramos procurados por outros grupos com a finalidade de marcar encontros em ambientes apropriados para o lazer futebolistico, nos finais de semana. No próximo texto falarei sobre esses bons momentos que felizmente ainda guardo na memória em cores vivas e irretocáveis. Aguardem..
João Pessoa, 26 de Agosto de 2015

*Economista e Escritor 
MEMÓRIA VIVA - LEMBRANÇAS QUE O TEMPO NÃO APAGA MEMÓRIA VIVA - LEMBRANÇAS QUE O TEMPO NÃO APAGA Reviewed by Clemildo Brunet on 8/26/2015 09:18:00 PM Rating: 5

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