O Rei Gonzagão. Inesquecível. 26 anos de Saudade
Onaldo Queiroga |
Por
Onaldo Queiroga*
A história conta que o sertão no dia
dois de agosto de 1989 amanheceu melancólico. O sabiá, o carão, a asa branca e
a acauã entoaram um canto dolente numa homenagem de adeus ao cancioneiro maior
do sertão.
O zabumba tocou tristonho, o triângulo
respondeu sentido e
Mas ele não se foi. Seu exemplo de vida
e sua obra permanecem povoando a nossa existência. Basta olhar um rosto
sofrido, a caminhada dos retirantes, a travessia de um riacho seco, que logo
vem sua imagem. Falar em sertão é lembrar Luiz Gonzaga. Em suas canções ele
cantou tudo sobre esse encantado pedaço de terra. Falou da seca, da invernada,
dos pássaros, dos padres, dos cangaceiros, das cidades, das cabrochas, da fé
que move o seu povo, enfim, de tudo um pouco. O filho de Januário é chuva que
não vem, é sertanejo em busca d’água, é vaca magra soluçando saudade,
esmorecida nas veredas no ocaso cinzento da estiagem desoladora que sob a égide
do sol castiga uma nação chamada Nordeste. É ouvir o gemido do gado morrendo de
sede, num céu sem nuvens.
Mas o filho de dona Santana é também
mato molhado, inverno amanhecendo com a passarada, água corrente enchendo
córregos, riachos, rios e açudes. É colheita do milho e do algodão. É a voz das
cantorias, dos aboios e das novenas. É baião, forró, xote, xaxado, coco,
embolada, mandacaru, repentes, choro e frevo de um povo.
Nos umbrais da cultura brasileira o
repouso eterno. Seus restos mortais descasam no Parque Aza Branca. Lugar
sagrado do Baião, onde os espelhos das águas do Itamaragy refletem a paz do
azul celestial e o cantador aguarda pacientemente a suavidade do bafejo noturno
do vento “Cantarino”.
Tu sempre estarás no Nordeste: nas
noites de São João, nos foguetes, na sua animação, nas suas crenças, no fole
gemendo, na fogueira, na chapada do Araripe com sua floresta e seus encantos.
Enquanto houver sertão, um pé de bode, uma sala de chão batido, uma morena
faceira num arrastar de alpargatas de um samba que se renova, jamais tu serás
esquecido. Viva Luiz Gonzaga!
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito de 5ª Vara Cível de João Pessoa PB onaldoqueiroga@oi.com.br
O Rei Gonzagão. Inesquecível. 26 anos de Saudade
Reviewed by Clemildo Brunet
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8/03/2015 08:34:00 AM
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