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Ódio de classe é o que resta

João Costa
João Costa*

Embalado pela propaganda e cartilha política do Departamento de Estado americano, militares brasileiros assumiram o poder em 1964, acreditando piamente na ameaça comunista, e que o Brasil, segundo a mídia norte-americana e seus ideólogos, poderia se transformar numa república sindicalista. Discursos populistas, do tipo  feito pelo presidente João Goulart que a reforma agrária seria feita na “lei ou na marra”, cortejos conservadores do outro lado em defesa da “Família, Deus e Propriedade” formaram o caldo de cultura que resultou em mais de duas décadas de ditadura. O golpe militar se deu sem um único e
escasso tiro de canhão. Página virada da história?
Não precisa ter dois neurônios para enxergar, que apesar daqueles acontecimentos, o ódio de classe não estava manifesto de forma explícita. Pulo os capítulos seguintes: 68, anos 70, Colégio Eleitoral, Tancredo, Sarney, Collor. Agravados pelo governo de espírito vira-lata da era FHC;  mais Doze  anos da era Lula de profundas transformações sociais, redução da miséria, protagonismo do país no plano internacional e, agora, a crise que bate à porta, adentra e se instala com uma face claríssima: o ódio de classe. Foi o que o país assistiu nas manifestações de 16 de agosto.
O ódio de classe que se manifesta por trás do biombo da moralidade. Os políticos impolutos da hora, não tiveram fôlego suficiente para  virar a mesa das eleições de 2014, derrubar a presidenta Dilma Vana numa ação meteórica e realinhar o país nas fileiras do colonialismo saudoso da mídia nativa, que estancou a aventura golpista após, imaginem, os incrédulos, um duro  CHEGA!  Da FIESP, do senhor Trabuco, homem que controla o maior banco privado do país, o Bradesco, e da expertise da Família Marinho e administrar a escalada de ataque ao estado de direito que ainda reina no país.
O país, na melhor das hipóteses entrou esta semana na fase do “abraço de afogados”. Temos uma presidenta que não exerce seus poderes, encurralada por um Judiciário que faz justiça seletiva, por um Congresso corrupto, uma mídia que oscila entre o ódio e a irresponsabilidade diante de um país, onde a cada semana, o cenário muda, como um teatro de revista.
Direto ao ponto. Não deu tempo às elites golpistas avançar com o golpe juridicamente travestido de impeachment – ameaça ainda não dissipada no horizonte – mas cujo estágio é de campo minado, e todos vão atravessá-lo: Dilma, Gilmar Mendes, Cássio, Hugo Mota, seu líder, Eduardo Cunha e outros.
O editor da revista Época escreve que a presidenta está biruta porque não faz sexo. De quebra, não ofende apenas a mandatária democraticamente eleita pelo povo, mas agrede senhoras idosas, avós, ensandecido pelo ódio. O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, vira réu, acusado de pedir propina de U$ 5 milhões, e instado a devolver mais de R$ 200 milhões. De quebra, Eduardo Cunha arrasta seus seguidores na Câmara, inclusive parlamentares paraibanos compromissados como gangster carioca para o “abraço de afogados”, avisa que não vai sozinho para a cadeia.
A mídia assiste ao colapso de Cunha com complacência, sequer pediu seu afastamento da presidência da Câmara, já que a denuncia está no STF, o Olimpo do golpe jurídico. Cunha diz que nada teme, cobra de seus seguidores que não o abandone, e ensaia coragem para peitar a Nação e a República.
O senador paraibano Cássio Cunha Lima, a reboque de outros líderes golpistas como FHC, Aécio Neves e quejando, discursa no Senado, pedindo “grandeza” da Dilma Vana através da renúncia, ato que ele não fez antes de ser despejado do Palácio da Redenção. Fez um discurso que caiu no vazio, reverberado apenas por sites copiadores de notícias aqui da Paraíba.
Quem estava na Av. Paulista no dia do protesto para derrubada do governo? Por lá apareceram mais brancos que pardos, negros, ninguém viu. Segundo da própria Folha de São Paulo – jornal porta-voz das forças reacionárias do país – a maioria tinha mais de 50 anos, mais de 70% votaram no playboy de Copacabana, burguesas com camisas da CBF ( Êpa!), senhoras pedindo derramamento de sangue, enfim o ódio explícito que vem da Casa-Grande.
 Do outro lado, na mesma semana, sindicalistas pelegos em defesa do governo desfilaram pelas ruas, com direito a falastrões como o presidente da CUT. A mídia que fracassou ao estimular o golpe e, agora, não tem a quem chamar de ladrão: A presidenta Vana, que não é acusada de nada, o presidente da Câmara que é acusado de tudo, e o juiz que ganha R$ 77 mil de salário, faz o que pode para aplicar a lei sob sua ótica, bel prazer e interpretação, mirando o alvo – presidente Lula, que ainda não reagiu. Assim caminhamos para cadafalso.

*João Costa é radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Ódio de classe é o que resta Ódio de classe é o que resta Reviewed by Clemildo Brunet on 8/23/2015 06:03:00 AM Rating: 5

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