VIDA, E VIDA EM PLENITUDE
Teófilo Junior |
Teófilo
Junior*
A defesa da vida é um dos principais
fundamentos da Bíblia Sagrada. Jesus se coloca explicitamente como aquele que
veio “para que todos tenham vida e vida em abundância”. Só no primeiro livro da
Bíblia (Gênesis), Deus nos adverte quarenta vezes para defendermos a vida. No
evangelho de João há outras quarenta e duas passagens em que Jesus defende a
vida; na primeira Epístola de João, vinte e uma vezes; no Apocalipse, vinte
vezes.
Nos dias atuais, como não poderia ser
diferente, a Igreja assume claramente a luta pela vida, num instante em que
viver - e viver em abundância - tem se tornado um grande desafio para muitos e
Em que pese o brotar de algumas medidas
tímidas e meramente paliativas, avalia-se que hoje cerca de milhões de
brasileiros não se alimentam com as normas calóricas mínimas, vivendo em
permanente subdesnutrição. A taxa de mortalidade infantil ainda é grande para
os “parâmetros aceitáveis” – como se pudesse haver algum parâmetro para se
avaliar quem deve ou não morrer de fome.
As estatísticas brasileiras ainda
apontam que dos 48 milhões de crianças que conseguem sobreviver, 25 milhões
vivem em estado de pobreza e 13 milhões na miséria absoluta.
Por outro lado, a matança sistemática de
meninos e meninas de rua é outra expressão alarmante da degradação dos direitos
humanos, o seu perfil é de criança abandonada, mendiga, faminta, que acorda na laje
fria de cimento, candidato a assassino, estuprador, bandido. Nascem sem direito
nenhum. Estão na rua por condição imposta, para assegurar sua sobrevivência!
A nossa realidade continua mostrando que
nossa pretensa paz e harmonia racial não passam de mera ficção e que não são
decretos que vão regulamenta-los. A violência racial, outra forma de destruição
da vida, age de modo sutil, através da reprodução da desigualdade entre grupos
étnicos, e no campo da educação, se manifesta nos índices de analfabetismo: 13%
de brancos e 29% de negros. No campo acadêmico, atingem o nível universitário
7,8% dos brancos e apenas 0,9% dos negros.
A criação de cotas nas universidades
para negros é apenas mais um atestado da combalida e frágil relação racial
vivida por todos nós e pela estrutura estatal. Fruto de um passado não muito
distante de escravidão e preconceito.
O mais grave é que este sistema se
reproduz em todos os espaços e todas as relações sociais. As pessoas são
formadas para amoldar-se ao sistema que está aí, ignorando ou negando os
conflitos, desigualdades e diferenças.
A nossa própria estrutura social,
portanto, gera as desigualdades e as violências, expondo os excluídos como
“doenças sociais” e se imunizando nas suas próprias individualidades a ponto de
um Ministro de Estado atribuir à violência urbana ao êxodo do nordeste
brasileiro.
É preciso repensar a nossa vida, a
minha, a sua, a de todos! É preciso redirecionar a nossa paz um pouco mais além
de nós e empreendermos ações pela vida e pela justiça moral e social.
Ao firmamos o nosso compromisso com o
outro, estaremos lutando pela vida, e vida em plenitude! Ao lutarmos pela vida
estaremos firmando o nosso compromisso com Deus, com o nosso próximo e com o
nosso país.
É preciso mudar, é preciso fazer!
Ignorar isso tudo, fechado em nosso casulo interior, é não pensar na vida e
atar-se à morte!
*Escritor
e Jurista
VIDA, E VIDA EM PLENITUDE
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/10/2015 03:14:00 PM
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