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VOZES DA SECA

Teófilo Júnior
Teófilo Júnior*
“Sequei os olhos de tanto o céu olhar, nenhuma lágrima, não posso nem chorar, nenhuma nuvem bonita pra chover e desse jeito não tem jeito pra viver.”
Os versos outrora escritos pelo cancioneiro Luiz Gonzaga bem que poderiam ter sido compostos nos dias atuais! A paisagem árida e cinzenta que tanto inspirou o rei do baião hoje serve de moldura e inspiração para as cantilenas de agrura e preces do pobre agricultor nordestino frente a mais uma seca confirmada e
a previsão de outra anunciada.
O céu azul sem nuvem alguma, a barra do poente que não veio, o silêncio do carão na mata são sinais que instigam a sabedoria popular a decretar, num tom de desesperança e profecia, que teremos um inverno ruim para nossas bandas, trazendo desolação e angústia para o bravo povo do sertão.
Na Paraíba, especialmente, já há um misto de expectativa e de medo, sobretudo na região do alto-sertão, onde muitos açudes já secaram e as comunidades são abastecidas por carros pipa, muitos deles particulares, ao custo de R$ 120,00 reais.
Os que não dispõem dos recursos passam a compor uma infindável lista pública de espera pela água que lhe matará a sede.
A falta de estrutura e a ausência de políticas públicas específicas ao combate à seca aumenta ainda mais o sofrimento e o desassossego do agricultor nordestino. Se por um lado falta planejamento de ações públicas direcionadas, por outro, a situação se agrava à medida que são previstas chuvas bem abaixo da média para o próximo ano e mesmo assim em períodos descontínuos, tornando dificultoso assegurar a lavoura, a produção agrícola e até mesmo a sobrevivência do homem e seu rebanho no sertão nos anos vindouros.
De outro modo, se lhe falta o amparo político ao feijão sobra-lhe fé na providência divina sempre alimentada pelas preces iluminadas a lamparinas de querosene. O sertanejo, “traído pela sorte,” agarra-se à sua fé num místico de socorro e oração para minimizar o abandono material em que se encontra.
“Que Deus garanta ao menos água para os bichos”, roga a agricultora Maria da Conceição da zona rural de Pombal. “Deus é pai e pode mudar o tempo!” Profetiza o sertanejo Jairo Araújo Alves, agricultor do sitio Timbaúba, município de São Bentinho.
Enquanto isso, o bravo sertanejo, firme e forte, continua como sempre esteve: Ao Deus dará!

*Teófilo Júnior é Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Campina Grande. Especialista em Prática Judiciária pela Universidade Estadual da Paraíba. Técnico Judiciário do Tribunal de Justiça da Paraíba.  
VOZES DA SECA VOZES DA SECA Reviewed by Clemildo Brunet on 8/11/2015 04:45:00 PM Rating: 5

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