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Coca divina, divina coca

João Costa
João Costa*

Para sua consideração – “Traficantes proíbem Candomblé e até roupas brancas em favelas”, eis a manchete do jornal O Globo, que dominou a semana e remete a uma realidade já vivida em favelas do Rio de Janeiro, e a proibição parte dos chamados “guerreiros de Deus”, traficantes evangélicos, que deportam mães-de-santo, ou seguidores de religiões de origem africana para outras comunidades e
bairros cariocas.
                  A ética meia-boca dos traficantes do bairro Lins de Vasconcelos não difere muito da ética da chamada “bancada da Bíblia”, que controla significativa parcela do Parlamento, tendo o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, seu mais destacado ícone, incensado, temido, tolerado, referenciado e líder inconteste das oposições ao governo da presidenta Dilma. Ele, que responde por seis acusações de lavagem de dinheiro e de evasão de divisa, e destinatário de dinheiro sujo da corrupção.
- Mas Cunha é o corrupto do bem, numa democracia também meia-boca, que exacerba na intolerância religiosa escudada na profissão fundamentalista da fé judaico-cristã. Se Cunha tem veículos e empresa em nome de Jesus, por que traficantes não podem vender a cocaína de Deus? 
Acho bacana e engraçada a postura dos falsos moralistas e confrarias de plantão pregando o Apocalipse brasileiro na TV, pelos jornais, revistas e portais. Sabe-se que a polícia brasileira apreendeu e liberou um helicóptero que transportava meia tonelada de cocaína, aeronave esta de propriedade de políticos notáveis de Minas Gerais. Piloto e receptadores da droga também foram liberados e os donos da aeronave, sequer foram importunados. Certamente a droga do helicóptero era pura, como puros são os traficantes evangélicos, que por consequência vendem uma cocaína pura e abençoada por Deus, em concorrência com a cocaína vendida por negros que não professam a fé judaico-cristã. 
Eduardo Cunha segue presidente da Câmara e lá vai permanecer como aval da democracia brasileira. Tem apoio irrestrito das facções e partidos de direita como o PSDB, assim como do PT e do seu partido, o PMDB.
Cunha, nosso salvador -Também li uma matéria, que a mídia nativa não foi atrás dos detalhes nem fez estardalhaço, sobre a importância do Cunha para a democracia brasileira neste momento.
A matéria narra o encontro secreto entre Michel Temer, vice-presidente da República, com o candidato derrotado para presidência Aécio Neves. Na pauta, a necessidade de transferir para Temer o papel de chefe de estado num eventual momento de transição com a deposição da presidenta Dilma, enquanto na outra ponta, Eduardo Cunha se responsabilizaria pela legalidade do golpe, ao lado de alguns ministros do Supremo.
Para este encontro, segundo a matéria, Temer driblou sua segurança, mas para sorte da Dilma e da Nação, um anônimo homem de sua segurança o localizou, e deu a informação que salvou a pátria: o Ministério Público da Suíça estava no encalço de Cunha, o nosso paladino da moralidade cristã, confirmando em suas contas grana suja da corrupção. Foi à senha: parem as máquinas!

*João Costa é radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Coca divina, divina coca Coca divina, divina coca Reviewed by Clemildo Brunet on 11/08/2015 06:52:00 AM Rating: 5

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