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TERIA AINDA UMA BOTIJA ENTERRADA NA ZONA RURAL DE POMBAL?

José Alves de Sousa Neto
José Alves de Sousa Neto*

A história é antiga.
Contavam-me nos tempos de criança.
Os ricos de antigamente enterravam suas riquezas com medo de cangaceiros ou outros malfeitores.
Prata, ouro, dinheiro e outras coisas que tivessem valor iam parar debaixo do chão.
Ocorria muitas vezes que essas pessoas morriam e seus valiosos pertences ficavam enterrados, pois, em alguns casos, nem sequer as pessoas mais próximas tinham conhecimento.
Passados dessa para melhor, esses ricos deixavam contas a acertar na terra, pois não poderiam entrar no reino dos céus sendo ainda possuidores de grandes fortunas terrenas.
Essas eram as botijas.
Para descansar em paz, essas almas penadas precisavam mostrar a alguém onde se encontravam os tesouros para serem desenterrados.
Mas a comunicação do outro com este mundo não era fácil.
Para começar, a revelação não poderia ser feita a herdeiros do falecido. Por desapego às coisas mundanas e
assim obter o alvará celestial, a alma penada deveria passar a informação para estranhos, que nada contribuíram para a formação do tesouro.
Diziam os mais antigos que essas almas, trajando longas roupas brancas, como se espera de alguém que está no purgatório, apareciam em sonho a felizardo previamente escolhido, contando-lhe onde estavam escondidos os tesouros
A certeza de que seriam almas do purgatório justifica-se porque do inferno não poderiam ser, pois neste caso nada mais haveria a ser feito, visto que ali a condenação é para sempre; e do céu, nem tampouco, porque neste caso não haveria mais porque se preocupar com tesouros deixados na terra, pois, aos que lá estão, já fora concedida a salvação eterna.
A pessoa escolhida deveria arrancar a botija à noite, sob a luz de lamparina, sozinha ou acompanhada por quem expressamente havia sido também indicado.
O problema é que o capeta, não satisfeito com a possibilidade de expiação daquela alma ainda presa aos tesouros terrenos, dificultava ao máximo a vida de quem fora indicado para recebê-los.
Pessoalmente, ou através de seus comandados, procurava aterrorizar os arrancadores da botija, para forçá-los a desistir do empreendimento.
Conta-se que, ao proceder à escavação, o felizardo era posto à severa prova, pois coisas muito assustadoras poderiam acontecer: de repente, uma ventania forte, sem que se mexessem as folhas das árvores, apagava a lamparina. Tudo ficava no escuro, enquanto eram ouvidos gritos horripilantes e uivos ensandecidos. O som de correntes arrastadas ou de alguma coisa enorme se aproximando era de arrepiar.
Era preciso muita coragem para arrancar uma botija.
Mas, às vezes, acontecia de surgir o boato de que alguém arrancou uma, ficou rico e sumiu no oco do mundo.
Pois bem: impressionado com essas histórias, certa noite tive a nítida sensação de que uma alma do outro mundo me apareceu indicando o local exato de uma botija.
Mas não foi simplesmente um sonho daqueles que no dia seguinte só resta uma vaga lembrança. Foi uma imagem clara que me pareceu muito real.
Dizia que eu deveria arrancar o tesouro juntamente com Otacílio, irmão de Chico Martins.
Explicou que o ouro e a prata estavam enterrados debaixo do batente da porta da sala da casa de Chico Alfredo, no sítio Maniçoba, zona rural de Pombal.
Para quem não sabe, o local exato está na rodovia estadual PB 325, que liga a BR 230 a Catolé do Rocha.
Após passar a ponte do riacho do sítio Maniçoba, no lado esquerdo, na subida, quase em frente à entrada da Fazenda Revência, estão localizados os escombros do que um dia foi a casa de Chico Alfredo.
Na última vez que passei por lá, vi que ainda estava no lugar o batente da porta sala. Naquele local, a uma profundidade de dois metros estava o tesouro enterrado. Foi o que a alma me disse.
Não tive coragem de ir arrancar.
Falei primeiro com minha mãe.
Disse-lhe do sonho e do meu descrédito, pois o velho Chico Alfredo sempre fôra pobre de Jó, não tendo posses para deixar tesouros enterrados.
Para minha surpresa, minha mãe disse que  naquele terreno, no começo do século passado, moraram pessoas ricas, possuidoras de barracões, como eram conhecidos os grandes estabelecimentos comerciais de antigamente.
Otacílio, depois de ser informado do sonho e de que havia falado tudo para minha mãe, disse que estava tudo perdido.
Não se pode falar sobre essas coisas para outras pessoas. Só se pode dar conhecimento a quem for escolhido e indicado pela alma. Agora, se a gente for lá e escavar, só vai encontrar mulambos, disse ele.
Não levei à frente a nossa empreitada e tentei esquecer o assunto.
Porém, ainda hoje, algumas questões me martelam a mente:
- será que realmente fui agraciado com o comunicado de uma alma penada e não dei crédito suficiente para desenterrar o tesouro e hoje, ser um homem rico e, talvez, ter mudado a minha história?
- Será que realmente existia a botija e eu botei tudo a perder?
- Será que essa estória de falar para outras pessoas transforma realmente o tesouro em andrajos?
O certo é que nunca fui lá conferir.
Hoje, passados muitos anos, resolvo tornar público o assunto.
Se alguém acredita em botija e que, uma vez enterrados, o ouro e a prata não se transformam em farrapos só porque o indicado deu com a língua nos dentes, o endereço ainda está lá.
Antiga casa de Chico Alfredo, na BR 325, sítio maniçoba, na entrada da Fazenda Revência.
A alma me falou no sonho que está tudo enterrado debaixo do batente da porta da sala.
É só ir lá conferir.

*Advogado e ex-redator da antiga Rádio Maringá AM de Pombal
TERIA AINDA UMA BOTIJA ENTERRADA NA ZONA RURAL DE POMBAL? TERIA AINDA UMA BOTIJA ENTERRADA NA ZONA RURAL DE POMBAL? Reviewed by Clemildo Brunet on 11/09/2015 09:55:00 AM Rating: 5

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