banner

O rio e a lama

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

Meus olhos conheceram as águas límpidas do Rio Doce. As visualizei no ano de 2008 quando visitei Minas Gerais. Evidentemente que não percorri seus 853 km, mas logo pude verificar que da nascente, em Minas Geais, até sua foz na Vila de Regência, Município de Linhares, Espírito Santo, certamente suas águas corriam levando vida e mil encantos.
Ali, a cada aurora, sob a luz do Sol, pela mata passarinhos cantavam como poetas divinos. Eram manhãs sublimes, de andorinhas rasgando os céus, de canoas e pescadores. Das águas do rio, peixes e sonhos. A mata formosa assistia a correnteza das águas percorrer vales e
serras até seu encontro final com o oceano. Nessa viagem, o caminhar do Rio Doce vivenciava a energia do Sol, até que no chegar da noite se entregava a serena Lua, noiva rodeada de estrelas e que com sua luz prateava as águas do encantado rio.
O rio tinha doçura, havia harmonia da vida aquática e sintonia do caminhar de suas águas com as matas, aves e a tranquilidade de seu povo. Mas, inegavelmente, à época, já haviam preocupações com a sustentabilidade de tão formoso rio. O homem, com sua ganância ilimitada não percebeu que o minério maior era o próprio rio. O assoreamento decorrente de desmatamentos e queimadas, além da inconsequente e nefasta ação das mineradoras, romperam barragens e fizeram a lama descer, engolir homens, animais, fauna e flora. O rio que pedia socorro, foi devastado pela lama tóxica.
O desastre matou mais onze toneladas de peixes. A água ficou barrenta, imprestável para irrigação, para uso de animais e do próprio homem. Como diz o ditado, o rio só caminha para o mar. E, assim, a lama chegou ao oceano e invadiu suas águas e o verde da vida se contrasta, hoje, com o marrom da morte. Ela tem como toxina não só rejeitos minerais, mas a violência, o cinismo, os males do crime organizado, a incredulidade e a corrupção que destrói tudo que vem pela frente.
Que o Sol de um novo dia permita luz para o homem implementar mudanças, a começar com o seu próprio proceder. Quero voltar a Minas, beber a doce água desse rio, sentir o calor da mata, ouvir o canto dos pássaros e adormecer sob o charme de sua Lua. A mudança depende do homem. Que Deus nos ilumine e sobre a terra o homem possa viver em harmonia com a natureza.
*Escritor Pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB

onaldorqueiroga@gmail.com
O rio e a lama O rio e a lama Reviewed by Clemildo Brunet on 12/09/2015 10:39:00 AM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion