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POPULISMO: "passa pelo o nosso nariz com um ligeiro olor agradável como se fosse uma forma de ação útil em defesa do povo"

Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

Inicialmente, esboçamos que os fenômenos políticos conhecidos por coronelismo e populismo são muitos próximos de significado, mas há uma sutil diferença na forma de agir, no espaço e no tempo que estes estilos se apresentaram ou ainda se apresentam. A roupagem é semelhante, o aspecto pessoal amoldou-se, o olho dilatou a pupila de tanto mirar para a chave do cofre público e as ações se internacionalizaram e acompanharam o processo tecnológico. Ou seja, ao invés de guardar o ouro no baú, tem senha e conta secreta nos conhecidos paraísos fiscais.
O conceito de populismo aparece cheio de dubiedade e
complexidade dependendo da ótica do conteúdo político-ideológico do analista e qual seu posicionamento: se defensivo ou acusatório. As brigas ideológicas são infindáveis, resta-nos perceber o modo de governar, se a sociedade está bem ou má. Portanto, o populismo foi um modo determinado e concreto de manipulação das classes populares, mas foi também um modo de expressão de suas insatisfações e necessidades.
            A origem do populismo ocorreu na Rússia, onde se buscava uma revolução, uma sociedade ideal, livre da modernização capitalista e com valores tipicamente agrários, sendo que o povo seria o centro das realizações políticas.
A palavra populismo passa pelo o nosso nariz com um ligeiro olor agradável como se fosse uma forma de ação útil em defesa do povo. Na verdade, o seu significado não é bem assim, é uma coisa que aparenta ser, mas não é! O populismo é um estilo de caráter pessoal para designar um conjunto de práticas políticas que consistem no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e o líder carismático. O nosso velho coronel chamado de caudilho que age, por exemplo, para a obtenção do apoio popular não sendo preciso de intermediação dos partidos políticos, entidades de classes ou órgãos representativos da sociedade civil, esquecendo os meios de representação do sistema democrático.
Teoricamente, nos discursos populistas está presente a ideia de que a vontade do povo prevalece. Na prática, as políticas populistas favorecem mais as elites dominantes do que setores da classe média da sociedade. Isto é, tudo que o populista fala e realiza por trás existe o caráter pessoal de sobressair sobre os demais. Inclusive, os asseclas o livram de sacrifício ou o isentam de participação quando cai nas emboscadas de envolvimento em corrupção.
A base é o poder de políticos carismáticos com a capacidade de mobilizar as massas com o discurso bem elaborado, usando muito as palavras urbanização, industrialização, informação, modernização e mobilização, sempre em defesa das ações típicas e exclusivas do poder político.
A história política mostra claramente que o populismo teve o seu momento de apogeu na América Latina, nos anos 1930, com o fator do processo de industrialização e o crescimento da população urbana, no tempo que se percebia à luz do dia quanto era forte o poder oligárquico mantenedor da aristocracia rural. Na América Latina, os exemplos de experiência populistas podem ser compreendidos na ascensão dos governos de Juan Domingo Perón (1946 1955/1973 – 1974), na Argentina; Lázaro Cárdenas (1934 – 1940), no México; Gustavo Rojas Pinilla (1953 – 1957), na Colômbia; e Getúlio Vargas (1930 – 1945/ 1951 – 1954), no Brasil. Apesar de se reportar a uma prática do passado, ainda hoje podemos notar a presença de algumas práticas populistas em governos estabelecidos na América Latina.
A gênese do populismo, no Brasil, está ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, levando Getúlio Vargas ao poder, com o ideal de perfeito caudilho e visão de reforma trabalhista, tornando-se a figura central da política brasileira até seu suicídio, no ano de 1954.
Este estilo de fazer política respalda em qualquer corrente de ideologia encontrando representantes tanto na esquerda quanto na direita. O populismo, estando à direita ou à esquerda, é péssimo para o povo. O populismo é sempre um mal, mesmo que o populista, eventualmente, pretenda fazer o bem. Depende muito de quem está sentado na cadeira governamental: se for de direita, a esquerda chama de caudilho; se for de esquerda, a direita chama-o de caudilho. Identificamos simplesmente pela sua forma de atuação, a linha de ação social que está se orientando e o uso indevido do dinheiro público.
Neste nosso Brasil querido e amado, às vezes, com seus surtos de raiva, automaticamente, quando falamos no termo populismo, ligamos à figura de Getúlio Vargas, o exemplo máximo do populismo no Brasil. Getúlio Vargas escalou o poder através da revolução de 1930 (a conhecida era Vargas que durou de 1930 até 1945), elegendo-se democraticamente presidente, em, 1951, governando até suicidar-se, em 1954. Apelidado de "pai dos pobres", sua popularidade entre as massas é atribuída à sua liderança carismática e ao seu empenho na aprovação de REFORMAS TRABALHISTAS que beneficiaram a classe trabalhadora brasileira. O modelo de gestão, nas mãos de Vargas, gerou para os trabalhadores brasileiros a criação da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas -, redução da jornada de trabalho, a instituição do salário mínimo, com um bom padrão aquisitivo à época, além do Dia do Trabalhador, no dia 1° de maio. No entanto, há de convir, alguns alegam que suas medidas apenas minaram o poder dos sindicatos e de seus líderes, tornando-os dependentes do Estado e distorcidos pelos políticos matreiros por muito tempo para angariarem popularidade e receberem o voto no dia da eleição.
Uma das contradições mais marcantes do populismo consiste em pregar a aproximação ao povo, mas, ao mesmo tempo, estabelecer mecanismo de controle que não permitam o aparecimento de tendências políticas contrárias ao poder vigente. Além do autoritarismo e do assistencialismo, os governos populistas também tem grande preocupação com o uso dos meios de comunicação como instrumento de divulgação das ações do governo. Por meio da instalação ou do controle desses meios, o populismo maneja a propaganda oficial de forma massiva, procurando disseminar entre os mais distintos grupos sociais através do apoio irrestrito de rádios, jornais, revistas e emissoras de televisão, mesmo bancado pelo dinheiro público.
O populismo real que persiste no Brasil atual, com uma estrondosa diferença daquele do passado, verificamos no terreno movediço da corrupção, cuja migalha dada à pobreza corresponde à ínfima parte em comparação aos arroubos da corrupção praticada pelo
minúsculo grupo que se locupleta ilicitamente do dinheiro público. Os ricos continuam sendo beneficiários e os pobres permanecem votando no caudilho.
Os principais problemas causados por um governo populista são:
1- O líder populista se preocupa mais com seus discursos do que com suas ações, valoriza mais suas teorias do que a prática e os resultados.
2- O governo populista sempre vai oferecer soluções superficiais para os problemas existentes.
3- O governo populista sempre vai investir mais em publicidade e marketing para promover seu governo e sua imagem pessoal do que em ações transformadoras.
4- E, sem dúvida, o pior dano causado por um governo populista ao povo é tirar a capacidade de questionamento do cidadão, controlar os eleitores como marionetes que assistem tudo passivamente e defendem tudo e qualquer coisa feita pelos seus falsos líderes.
Na verdade, a grande falácia desse modo de governar é fazer as pessoas acreditarem que estão diante de um estágio de desenvolvimento alentador, que irá resolver as questões do dia a dia num futuro próximo, pois suas agruras vividas no momento foram causadas pelo governante anterior. Elas não questionam, nunca, as históricas condições degradantes nas quais sempre viveram, por conta da esmola assistencialista que se torna perene, vindo daí o fatalismo que tudo aceita como coisa normal: a saúde ruim, os políticos corruptos, a educação pública ineficiente e a segurança inoperante que só faz causar o aumento da violência.
Segundo a força de expressão firmada pela espanhola Glória Alvares, no dia a dia captamos que suas palavras tem forte carga de razão::  “O POPULISMO AMA TANTO OS POBRES QUE OS MULTIPLICAM”.
Por isso podemos constatar que o populismo está em baixa pelas suas práticas estão ultrapassadas. Não se tolera mais os conchavos tresloucados. O esbanjamento na vida de luxúria que oprime os mais fracos. A corrupção desenfreada e a chacota com a cara do povo. A encenação montada num palco de artificialismo onde apresenta o povo como o bobo da corte. Não! Não! Não! O povo é o dono do poder!
João Pessoa - PB, 09 de dezembro de 2015.
*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa - PB

scoelho@globo.com
POPULISMO: "passa pelo o nosso nariz com um ligeiro olor agradável como se fosse uma forma de ação útil em defesa do povo" POPULISMO: "passa pelo o nosso nariz com um ligeiro olor agradável como se fosse uma forma de ação útil em defesa do povo" Reviewed by Clemildo Brunet on 12/09/2015 09:44:00 AM Rating: 5

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