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Banho de chuva

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

Não há banho de chuveiro, de banheira, de piscina, de mar, de cachoeira, de açude, de rio e de riacho, que seja melhor do que um banho de chuva no sertão de meu Deus.
Só quem é das plagas sertanejas sabe bem o que representa despedir a estiagem, que na curva da estrada faz seu caminho para o oco do mundo. Açoitada pelos relâmpagos cortando os céus e sob o som estremecedor dos trovões, a seca vai embora e o menino corre livre pelas veredas banhadas pelas chuvas. Ele vai parando em cada biqueira, molhando o corpo e
lavando a alma. O moleque segue sem medo dos raios e banhando-se alegre nas águas da chuva mandada por Deus, corre feliz na amplidão do sertão.
Um dia fui menino no sertão. A invernada me lembra bem esse momento já vivido. Quando a chuva chega logo me recordo desse tempo. Por muitas vezes, em tardes de chuvas, desci e subi as ruas da minha terra Pombal. Não adiantava ordens de pais ou de avós para ficar em casa, a molequeira ganhava as ruas. O banho de chuva nos atraía para o mundaréu d'água que caía fortemente do céu sertanejo. O banho de chuva era, e ainda é, um batismo para a felicidade, principalmente no sertão, que quando chove, veste-se do belo verde, contagiando-nos de esperança por dias melhores, a cada pingo que vem do céu
Quando vi a notícia de chuva no sertão, me inquietei. Queria descer a Serra de Santa Luzia. Ir ao encontro da chuva e abraçando o sertão, deitar numa rede e da varanda ver o céu carregado de nuvens escuras despejar água naquele mundo todo. Queria ver os clarões dos relâmpagos, ouvir o ronco dos trovões e o som da sinfonia das águas batendo e escorrendo pelas telhas. Queria ver o voo da volta da Asa Branca descrito por Zé Dantas e cantado por Gonzagão. Queria sentir a poesia Zé Marcolino: “Pássaro Carão cantou / Anum chorou também / A chuva vem cair no meu sertão / Vi um sinal meu bem / Que me animou também / Ainda ontem vi cobra no chão / É bom inverno que vem...”
Vou voltar ao sertão. Vou tomar banho de chuva, deixando-a que lave meu corpo e minha alma, renovando minhas energias, sonhos e fé em dias de paz e amor nesse mundo de desencontros.
*Escritor e Juiz de Direito

onaldorqueiroga@gmail.com
Banho de chuva Banho de chuva Reviewed by Clemildo Brunet on 1/22/2016 05:10:00 PM Rating: 5

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