Provocações
“Uma
viva inteligência de nada serve se não estiver a serviço de um caráter justo”.
(Luc de Clapiers, ensaista e escritor francês)
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
Vinha eu descendo a ladeira do Sol,
comendo uma goiabinha, quando um amigo passou e me provocou, perguntando: “o
que você está fazendo de sua vida, em sua passagem por este planeta”. Aproveito
este espaço para transferir a provocação para o caro leitor. Pense nisso.
No patropi, o homem comum das ruas é
beneficiário de uma situação igualmente inesperada. Inesperada, mas não
irrelevante. Por trás dela, há toda uma camada de valores a ser estudada pelos
analistas sociais.
Curiosamente, o Brasil é simultaneamente
um país laico e
A historiadora Maria Helena Capelato faz
uma distinção entre os pensadores comprometidos com a vida política e os
intelectuais improdutivos que “fazem cara de paisagem” frente aos dilemas do
mundo atual. “Há intelectuais ligados ao PSDB e ao PT; há aqueles engajados,
mas sem vinculação partidária, e há os que apenas produzem conhecimento
mantendo a velha postura, típica do século XIX do “sábio” pensando e falando
para si mesmo”, pondera.
Lamentavelmente, na “República
Surrealista dos Trópicos” (com a licença do Mestre Walter Gomes), os
intelectuais desta geração se dividem entre:
os que se despolitizam, impregnados pela
ideia-mestra de que “não há mais utopias”, dedicando-se unicamente à Academia –
onde, “a rigor, não há diferença entre um filósofo e um engenheiro e; 2) os que
assumem novos ideais, a minoria.
Deixo aqui algumas provocações, para as
quais os intelectuais orgânicos dos principais partidos políticos brasileiros
têm obrigação de formular respostas.
Qual será o cenário que está sendo
montado, ao longo do século XXI? Quais as grandes tendências sociais, políticas
e econômicas?
Frente ao fenômeno inusitado da
Internet, que ideologia está dominando a mídia à essa altura da história da
humanidade?
Conseguirá o capitalismo consolidar um
novo padrão de acumulação? Que novas formas de gerenciamento da economia
internacional estão surgindo?
A ambição, a ganância, o individualismo,
a competição, a busca do lucro máximo, a destruição ambiental, a desigualdade
social, o colonialismo, a dominação, o autoritarismo, a intolerância e a
violência ainda serão os nossos paradigmas, ao longo deste século?
Quais os novos conceitos integradores
das ciências sociais?
Quais são os prováveis novos caminhos
para a luta dos trabalhadores?
Por que a esquerda logra ser alternativa
de governo, mas não consegue ser alternativa de poder?
Constato também que não é apenas no
campo econômico que há disparidades profundas entre as classes sociais no
Brasil. Também no campo dos valores e do pensamento: aborto, casamento gay,
racismo, e outros itens da agenda comportamental, esbarram no perfil
conservador da maioria da população brasileira.
Eis o que brota de toda essa discussão:
a descoberta de que a maioria da população brasileira, sobretudo suas camadas
média e baixa (mas não apenas), é conservadora.
Zé ninguém não referenda a agenda
comportamental da vanguarda intelectual universitária. Ouve mais o padre e o
pastor que o político, o sociólogo, o artista ou o intelectual.
Por que - há décadas - não surgem textos
brasileiros sobre temas tão relevantes?
Será a derrota do pensamento? Será que a
estupidez humana trinfará?
A resposta é privilégio do caro leitor.
*Rinaldo
Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
Provocações
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/15/2016 07:23:00 AM
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