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Os reclames e o efeito manada

João Costa
João Costa*

Para sua consideração - Houve um tempo em que a mídia nativa tratava a notícia como notícia, opinião só nos editoriais e colunas, e interpretação dos fatos embalada na forma de notícia beirava a desonestidade. 
Podia até replicar estilos, um toque de sensacionalismo sempre ajudava – propagação do ódio, do medo e
apologia ao crime não contaminava a redação, nem das difusoras do interior, por onde comecei.
Lá pelos idos dos anos 1970, na difusora Lord Amplificador, de propriedade da lenda viva do rádio pombalense Clemildo Brunet, na condição de “asilado” do rádio, comecei como controlista, que atende hoje pelo pomposo nome de DJ, mas ficava fascinado, com inveja mesmo, ao ver colegas papas do rádio, redigindo o noticiário e, principalmente os reclames.
- Texto para o comercial precisa ser conciso e propositivo e, por tabela, seduzir o ouvinte de seis aos 70 anos, martelavam os locutores de antanho, como Zeílto Trajano, Eurivo Donato, Carlos Abrantes e, principalmente o proprietário do negócio.
-Tem que ter um bordão para ser repetido pelos ouvintes; uma melodia que martele os ouvidos como um despertador. O ouvinte gosta da propaganda, compra; o anunciante fatura; paga, e eu levo a minha comissão, era o mantra.
Se hoje está difícil acompanhar o noticiário da TV, espaço em que se imaginava da notícia; está mais difícil ainda digerir os reclames, que perderam o pudor, não da sensualidade, mas da graça e inteligência. Redatores, publicitários e quejandos parecem que aderiram ao efeito manada, eles parecem contaminados pelo que emana das flatulências dos patrões e editores. Se a ordem e espalhar o terror econômico ou político, ou simplesmente o medo nos caríssimos ouvintes ou telespectadores, então manda ver. As pérolas ideológicas dos reclames contaminam até a propaganda institucional.
O reclame institucional do TSE apelando para prazos e formas do cadastramento biométrico, é primoroso e vai nessa linha: O cadastramento é obrigatório, se você não fizer, não pode tirar passaportes e nem fazer concursos, terá seu salário cancelado e não pode ter acesso aos benefícios sociais, enfim, rendam-se ao voto obrigatório. A ameaça é dirigida tanto para as senhoras do Bolsa Família como as distintas madames que planejam uma viagem à Disney.
- Pra que tudo isso? Indaga uma moça num presencial da prefeitura de João Pessoa, encantada com o volume de obras administrativas. Frase infeliz, pois foi fácil aplica-la no duplo sentido e acabou servindo de bordão para os adversários políticos do alcaide.
- Você conhece alguém que recebeu de forma fraudulenta o seguro DPVAT? Ligue e a gravação é gratuita, estimula a delação o locutor com uma voz ameaçadora. O delator, todos sabem, é um criminoso confesso, que em troca de benefícios pecuniários e da lei, resolve dedurar seus comparsas de crime. No Brasil, vira herói e fonte de crédito. O delator se assemelha a quem participa de linchamentos públicos de delinquentes comuns ou da reputação de desafetos no meio profissional.
Isso no intervalo. Quando a âncora voltou ao ar, sapecou quase que sorridente: estudante pula do décimo oitavo andar no dia de formatura de sua turma de faculdade. Bem, quando suicídio vira notícia, é hora de desligar e colocar o DVD da metralhadora, que faz apologia de organizações criminosas, mas é menos dissimulado.
Aí tem o velho truque da mídia nativa a copiar a norte-americana. Para cada matéria, uma entrevista com um especialista “afinado com a casa”, que tem a função exata de corroborar com a “verdade” que está sendo noticiada.
- Mulheres estão tomando a decisão de não engravidar; outras aceitam fazer abordo, por recomendação dos médicos em face dos casos de microcefalia, brada o âncora com voz soturna. Decididamente, a mídia decretou que a microcefalia esta ligada intrinsicamente ao vírus Zika, e está encerrada a conversa.
No caso da pandemia do vírus que varre o planeta, inicialmente imaginei ser exclusividade do Brasil. Teve até um “líder” de partido que responsabilizou o governo numa entrevista. A voz era tão piegas e de cortar coração, convincente, não fosse o tal líder um demagogo contumaz. Assim Caminha a Humanidade!

*João Costa é radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Os reclames e o efeito manada Os reclames e o efeito manada Reviewed by Clemildo Brunet on 2/11/2016 11:08:00 AM Rating: 5

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