O fascínio artístico-popular pela Paixão de Cristo
João Costa |
João
Costa*
Em meio ao furacão que a Nação padece à
Paixão de Lula, com julgamentos de cartas marcadas, traições anunciadas e
concretizadas, e uma crucificação moral e política, que só confirma a
necessidade de tragédias nacionais, volto minhas atenções para outra Paixão – a
de Maria Madalena, inexistente enquanto espetáculo. Não contabilizo frustrações teatrais, mas
gosto de revisitar três vontades cênicas que ficaram apenas nisso – na vontade
de fazer diante da impossibilidade inexplicável de concretizar.
O artigo da semana vai para os meus
amigos de teatro, que também serve para um depoimento de memória teatral no
capítulo “teatro inacabado”. O 1º teatro inacabado: lembro que na década 1990,
em companhia do dramaturgo e
Para escrever o texto, mergulhamos numa
tremenda pesquisa de livros religiosos sobre Maria. O texto ficou pronto,
cheguei a ensaiá-lo em duas oportunidades: uma no campus de Areia com
estudantes de Agronomia, depois de lá montar “Intimidades Domésticas”, de
autoria do mesmo Marcos P. Pequeno. Esbarramos num problema, que não se
resolveu: Pelos Evangelhos, na Anunciação, Maria tinha 14 ou 15 anos. Logo,
precisaríamos de duas Marias: uma atriz adolescente e uma adulta. Não achamos
uma adolescente e não fazia e nem faz sentido encenar a vida da Mãe de Jesus,
se não mostra-la na Anunciação. Pensem num impacto cênico: uma adolescente
judia grávida aos 15 anos, casada com um carpinteiro idoso - e grávida de um
deus.
Outra tentativa foi feita em Santa Rita,
logo após encerrar uma oficina de teatro promovida lá pela UFPB e prefeitura,
que encerrou com dois espetáculos: um que encenei e uma peça infantil, dirigida
por Jack Monero – o nosso Jacinto Moreno. Os dois espetáculos foram
apresentados no campi de Areia e num teatro ao ar livre em Santa Rita, que
depois virou banco.
Em 1999 achávamos que o milênio
acabaria, mas o século XX só se exauriu mesmo em 2000. Daí que eu resolvi
adaptar um texto de João do Rio, Salomé – de Oscar Wilde. A Lei Viva Cultura
estava no auge, e um projeto cuja produção artesanal não passaria de três mil
reais, saltou para quarenta e cinco, pois o teatro paraibano àquela altura
havia “amadurecido e se profissionalizado”. Pulei fora, isso depois de promover
uma oficina de dança do ventre e fazer leituras de mesa da peça.
A terceira vontade. Encenar uma Paixão
de Cristo para um palco de teatro – e não ao ar livro com dezenas de atores e
atrizes. O que seria uma Paixão de Cristo evoluiu para uma Paixão de Maria
Madalena. Primeiro passo: uma modesta pesquisa nos Evangelhos e tudo estaria
resolvido. Mas corria o ano da graça de 2003, ano em que, depois de consultar
os Evangelhos e, insatisfeito com vazios e as contradições gritantes entre os
evangelistas sobre Jesus, me deparei com dois livros, que simplesmente
derrubavam os argumentos dos evangelistas Marcos, Lucas, Mateus e João.
Resolvi escrever um roteiro para uma
Paixão de Cristo-Madalena recorrendo aos evangelistas e a três livros: dois de
pesquisa sobre o cristianismo e um da chamada heresia cátara. Eis os livros que
recomendo:
“O Santo Graal e a Linhagem Sagrada”, de
Michael Bargent, Richard Leigh e Henry Lincoln ( editora Nova Fronteira – 2003,
décima nona edição; este livro, que dá tratamento especial à relação entre
Jesus e Madalena, nunca foi contestado pelo Vaticano). “Maria Madalena – A
Mulher do Vaso Alabastro”, de Margaret Stabird. Este livro é uma tese de
dourado; Margaret é teóloga cristã e mergulhou numa tese para, segunda ela
mesma, “desmascarar” livro “O Santo Graal”, que nada mais é que uma pesquisa
religiosa que depois virou documentário da BBC. Acabou ratificando aquilo que
pretendia desmascarar. Recorri a outros livros como “Por Dentro do Priorado de
Sião”, de Robert Howells, “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, tradução de Ari Barroso
(este proibido no Brasil) e “A serpente Vermelha” – uma coletânea de escritores
do Priorado.
O roteiro estava indo conforme os demais
sobre a Paixão. Aí tomou outro rumo: Jesus sobrevive à crucificação. Parece
blasfêmia, mas teólogos modernos, e a própria Igreja Católica através do
Vaticano não contestaram essas pesquisas que a crucificação fora apenas um
ritual, para isso basta consultar os Evangelhos e comparar.
Aliás, essa Paixão começa com o
matrimônio de Jesus e Madalena, àquele do primeiro milagre do vinho, cenas de
outros milagres, especialmente da ressureição de Lázaro – também um ritual.
Lázaro só aparece no Evangelho de João – por sinal, o mais estranho deles e o
mais confiável, por ser mais ou menos contemporâneo de Cristo.
Tem a cena de Salomé, mas
contextualizada na conspiração pela linhagem, simplesmente o profeta João
Batista é descartado e morto; ele, primo legítimo de Jesus. A disputa entre
Jesus e o profeta é realçada, até João renunciar suas pretensões.
Outros personagens importantes da Paixão
seguem outro roteiro: José de Arimatéia, aquele que reivindica o corpo de
Cristo junto a Pilatos, que se surpreende com a rápida morte na cruz, uma
suplício que durava dias, mas que no caso de Cristo durou apenas algumas horas.
E a crucificação ocorreu num terreno privado e se criminosos comuns ou
políticos não tinham direito a uma sepultura, como Cristo ganhou uma nova, já
vazia?
Pilatos é o grande personagem da Paixão.
Se o governador era um déspota e
corrupto por que os Evangelhos o retratam com isenção na morte de Cristo,
elevado à categoria de homem justo, inclusive? Pilatos, era casado com Cláudia
Prócula, uma seguidora de Jesus. Nos evangelhos ela aprece apenas num
parágrafo. Pilatos, influenciado por Cláudia, poupou Jesus o quanto pode. O
próprio Cristo havia curado o bebê de Cláudia e Pilatos.
A fuga de Maria Madalena para a Grécia e
depois para a Gália. Com os filhos de Jesus, no caso da peça, apenas com a
pequenina Sara, que dá sequência à Linhagem Sagrada. O espetáculo começa com
Cavaleiros Templários conduzindo o sepultamento de Madalena como a guardiã do
Santo Graal – que vem a ser sangue real e não apenas um copo – ou cálice sagrado.
*João Costa é radialista, jornalista e
diretor de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica.
Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
O fascínio artístico-popular pela Paixão de Cristo
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/21/2016 06:19:00 AM
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