Desarme-se, é o fim de um ciclo
"Nossos sonhos são
os mesmos há muito tempo, mas não há mais muito tempo para sonhar" (Engenheiros
do Hawaii)
Rinaldo Barros |
*Rinaldo
Barros
Conheço alguns militantes e ex-filiados
do PT, pelos quais tenho o maior respeito. Pela sua capacidade de luta e pela
virtude de continuar acreditando em ideais e princípios que foram rasgados por
alguns dirigentes lulo-petistas, para os quais, aliás, a história reserva
lugares pouco dignos.
Registre-se que, nos governos do PT,
questões maiores da pauta histórica da esquerda, como as Reformas agrária,
fiscal, urbana, política e
Será que Lula falava a verdade em agosto
de 2006, quando estourou o escândalo do mensalão? Ou não?
Dizia o então presidente: “Quero dizer,
com franqueza, que me sinto traído. Não tenho vergonha de dizer ao povo
brasileiro que nós temos que pedir desculpas”.
Lula se reelegeu e mudou de opinião. Em
novembro de 2009, proclamou que “foi uma tentativa de golpe. Foi a maior
armação já feita contra um governo”.
Em 2010, já comemorando a eleição de sua
sucessora, anunciou: “Vou desmontar a farsa do mensalão”. Depois, numa
entrevista à TV Portuguesa, corrigiu: “A verdade é que nunca houve mensalão”.
A realidade é que Lula nunca foi de dar
muita bola para os fatos. Quando não gosta deles, simplesmente os descarta.
Prefere criar suas próprias versões.
Agora, em 2016, com o tsunami de fatos e
versões reveladoras emergindo da operação Lava Jato, do “Petrolão” e do
processo de impeachment, pergunto eu: para onde vão os militantes sinceros do
PT?
A resposta imediata que emergirá à mente
do leitor sarcástico é impublicável.
Todavia, além de não ser uma resposta
academicamente aceitável, pode sugerir, erradamente, ao leitor que o autor de
tal pensamento é ideologicamente de direita.
A propósito, a fauna política está
repleta de hienas que riem à toa, um riso hipócrita que acoberta o ranger
raivoso dos dentes contra tudo que questione os seus privilégios, os quais são
tidos como direitos naturais desde os tempos mais remotos.
Há também lugar para os ressentidos, os
arrependidos e os oportunistas de última hora.
No campo do petismo, há os que já
arrearam a bandeira do partido. Uns simplesmente jogam-na na lata do lixo da
história e se recolhem ao recôndito espaço do lar e das suas consciências;
outros a substituem por novas bandeiras, que imaginam serem límpidas e
corresponderem aos ideais suplantados pela política petista-lulista, e se
filiam a outros partidos.
Há os que desejam lavar a bandeira
vermelha com a estrela solitária, purificá-la e hasteá-la no altar da política,
um gesto que simbolizaria o resgate da ética e dos princípios originais; e há,
ainda, os perplexos que a mantém, qual tal um pano surrado, a meio pau, como
que em sinal de luto.
Em meio à perplexidade, lágrimas e
esforços de superação da crise, sobrevive o continuísmo amparado numa retórica
saudosista, auto apologética e culpabilizadora do outro. É a sobrevivência da
política como relação amigo-inimigo, bem ao gosto de uma época na qual não se
admitia críticas.
O mundo gira e os fantasmas do passado
assaltam as mentes dos que vivem no presente de construção democrática.
Democracia não é fácil, há que se praticar a tolerância, e aceitar a alternância
no poder como pilar do Estado Democrático de Direito.
Sempre é preciso saber e aceitar quando
uma etapa chega ao final, desarmando os espíritos.
Se insistirmos em permanecer nela mais
do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que
precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos -
não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da
vida que já se acabaram.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no
presente e no passado. O que passou não voltará: feche a porta, mude o disco,
limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem
é. A vida é renovação. Às vezes é necessário morrer, fechar ciclos, para que se
renasça.
Ano da Graça de 2016. É o fim de um
ciclo.
*Rinaldo Barros
é professor- rb@opiniaopolitica.com
Desarme-se, é o fim de um ciclo
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/09/2016 06:48:00 AM
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