Duplo padrão ou a dissimulação é uma arte
João Costa |
João
Costa*
Para sua consideração – “Matar dois
coelhos de uma só cajadada”, todos sabem, é alcançar dois resultados benfazejos
com uma única e escassa ação. Mas o tempo ensina que esse provérbio grego se
aplicado nos dias atuais, remete ao útil padrão duplo de comportamento moral,
compreensão, decisões jurídicas, relações de trabalho, crença religiosa. Enfim,
o alvo duplo nos conduz.
Se há algo que tem se tornado senso comum na
vida brasileira é o duplo padrão. Na economia, chamam de capitalismo selvagem;
na guerra, efeito colateral; na política consideram como pragmatismo; nas
religiões judaico-cristãs, afirmam ser a escolha do Senhor. O Judiciário, ao
que tudo indica, resolveu, também, adotar duplo padrão em seus julgamentos.
Enfim, nossa percepção dos valores de civilização também tem esse viés duo, que
vale até para a arte - principalmente.
O país convive com dois mandatários: uma
presidente legitimamente eleita afastada e
um interino que age como se legitimidade
tivesse. No caso da Dilma Vana, as razões apresentadas para o seu afastamento
compulsório, comprovadamente foram derrubadas, mas não têm mais a menor
importância. Afastada está, afastada seguirá, pois se era para aprovar o
impeachment, porque desaprovar?
O procurador-geral pediu a prisão de
senadores pesos-pesados da República – não foi atendido. Das duas uma: ou Janot
tinha e tem provas irrefutáveis contra quem acusou ou suspeita, ou destruiu
todas. O que valeu para o senador Delcídio, não se aplicou aos demais senadores
imbuídos do dever de “estancar a sangria” de denúncias mostrando os pais da
Pátria chafurdando na corrupção. O que vale para dona Mariza não se aplica à
mulher do Cunha e por aí vai. A classe
média não foi ou não vai mais à janela do apartamento para bater panelas.
Certamente deixou de degustar feijão – cujo preço do quilo é uma temeridade ou
coisa do Temer.
E o duplo padrão como a mídia nativa
trata denúncias de corrupção, contaminou a mídia tabajara em relação ao
prelado. Trata o caso do arcebispo como renúncia, truque ao qual nem a mídia do
Vaticano ousou recorrer. Sabe-se que o papa Francisco encara casos de pedofilia
na Igreja Católica como Pedofilia, porque de pedofilia se trata. E neste termo
cabem muitas interpretações: perversão, pederastia, parafilia no sentido de
doença, até o simples afeto por crianças está incluso. No mundo atual é crime.
O arcebispo da Paraíba que se vai, de
boné, embrulhado numa bandeira nacional, de apito na boca, mão sobre o peito em
ato contra o governo Dilma, faz lembrar o cardeal Richelieu – não o personagem
de “Os 3 Mosqueteiros”, mas o outro, que pregava que a “dissimulação é uma
arte” ou a arte dos reis. Ou até mesmo a arte das elites dominantes. Esse papa
Francisco ainda vai obrigar a Igreja Católica adotar o Cristianismo como
doutrina da fé. Assim sendo, a Igreja de Francisco na Paraíba ficou maior,
ponto parágrafo.
Faz parte desse padrão duplo, apagar a
trajetória dos políticos e candidatos em evidência. Lendo os articulistas
políticos, percebo a maneira matreira como tratam da sucessão em João Pessoa.
Uns, categoricamente afirmam que a campanha será polarizada entre o alcaide,
candidato à reeleição, e Cida Ramos, a
candidata ungida por Ricardo Vieira. Especulam com a possibilidade (real) dos
senadores José Maranhão e Cássio se aliarem num projeto comum para derrotar a
candidata de Ricardo Vieira, já que unidos eles estiveram na patranha que
derrubou o governo Dilma.
Outros tentam até o recurso de
criminalizar o PT, na ausência de melhor argumento para contrapor ao professor
Charlinton Machado. E o que seria de João Pessoa sem as verbas do governo PT lá
em Brasília? Alguns políticos egressos do PT tornaram-se impolutos, certamente
– ainda que tenha seu modo de administrar, motivo de investigação criminal.
Voltemos ao Procurador da República que até
fez gracejo ao usar o bordão popular: “o que vale pra Chico, vale pra
Francisco”, no esforço de mostrar um único padrão nas investigações que conduz.
Por isso gosto de misturar alhos com bugalhos nos artigos que cometo. Exatamente
porque não sei o que é joio nem muito menos trigo.
E convenhamos, caros amigos, depois que
se mistura uísque com água com gás, não se bebe nem uísque, nem muito menos
água. É outra bebida, duplo padrão de bebida que recomendo.
*João Costa é
radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Duplo padrão ou a dissimulação é uma arte
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/07/2016 09:49:00 AM
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