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UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS -

Evandro Nóbrega
ESPECIALMENTE PARA A ESCRITORA, TRADUTORA, JORNALISTA & PESQUISADORA Rosa Freire d'Aguiar: por - Introito
— O Velho Arraial de Piranhas
— Dois Lançamentos Póstumos
— Cumprindo a Promessa
— “Fui Induzido a Erros”
— Uma Reedição Abortada
— A “Saga” da Edição Definitiva
— Zélia, Raphael e Carneiro Arnaud
— Introduções a Wilson
— Uma História por Escrever
— Trabalho Paleográfico
— Encantando a Plateia
— Julgado de Piancó &... Piancó
— Para Ler Wilson
Introito — Solicita-nos o historiador José Octávio de Arruda Mello, um dos dois ilustres organizadores desta coletânea que, depois de tratarmos de Celso Mariz, devemos acrescentar algumas informações sobre outro grande historiador dos Sertões, Wilson Nóbrega Seixas — sabendo-se, porém, que Wilson mereceria por si só um capítulo à parte.
Especialista na História dos Sertões paraibanos, chegou a ser comparado a Capistrano de Abreu, autor de Capítulos de História colonial e de Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil, entre outras imperdíveis obras. Com isto não concorda o historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, para quem “Wilson é Wilson”, em sua originalidade e em suas criações próprias, não podendo, conseguintemente, ser comparado a qualquer outro historiador.
Entre outros historiadores que também contribuíram para um melhor entendimento do povoamento interiorano da Paraíba (e dos Sertões nordestinos em geral), encontram-se Horácio de Almeida, com sua História da Paraíba (dois volumes, Editora Universitária da UFPB, 1978) e Brejo de Areia (cuja segunda edição saiu também pela mesma Editora Universitária, em 1980); Elpídio de Almeida (especialmente com sua História de Campina Grande, segunda edição pela Editora Universitária da UFPB, João Pessoa, 1978); et alii.
Ainda sobre o Interior da Paraíba, Horácio de Almeida publicou, nas Edições Históricas do jornal O Norte editadas por Evandro da Nóbrega em 1984 e 1985, e depois inseridas por José Octávio de Arruda Mello (organizador) no livro Capítulos de História da Paraíba (Editora Grafset, Campina Grande, 1987), o artigo “O elemento humano - Indígenas paraibanos: potiguaras, tabajaras e cariris”.
Embora reconhecendo a grandeza de seus trabalhos, Wilson corrigiu algumas escorregadelas de Horácio e de outros historiadores, paraibanos ou não — e, como se verá adiante, corrigiu SEUS próprios enganos historiográficos, vez que temia mais que tudo induzir a erros os especialistas mais jovens.
O Velho Arraial de Piranhas — A contribuição de Wilson Nóbrega Seixas provém especialmente (mas não exclusivamente) da segunda edição de seu livro O velho arraial de Piranhas (Pombal), lançado originalmente em 1961, pela gráfica do jornal A Imprensa, de João Pessoa — mas completamente reformulado pelo próprio Autor, numa reedição que, a seu pedido, tivemos a honra de coordenar e editar.
Essa segunda edição é a que se deve levar em conta, pelo que a seguir se esclarece. Nos últimos anos de vida, Wilson afligiu-se enormemente por constatar erros factuais e de interpretação em sua principal obra. Chegou a entrar em depressão e, por intermédio do desembargador Raphael Carneiro Arnaud, convidou-nos para um entendimento sobre como publicar uma edição aumentada, corrigida e definitiva de O velho arraial de Piranhas.
Colocamo-nos à sua inteira disposição — e, juntamente com ele, em seu computador, fomos pacientemente revisando toda a obra, até chegarmos a um texto final satisfatório. Mas Wilson faleceu sem poder lançar seu livro, cuja edição já estava totalmente pronta e acabada. Seu falecimento ocorreu a 11 de março de 2002, em João Pessoa, aos 86 anos de idade e com 37 anos de atividades no IHGP, onde ocupava a Cadeira nº. 15, cujo patrono é Fernando Delgado Freire de Castilho.
Dois Lançamentos Póstumos — Sua viúva, Dona Zélia Carneiro Arnaud Seixas, seus filhos e outros familiares, enfrentaram todas as dificuldades para que se cumprisse a promessa de que o livro seria lançado, mesmo postumamente.
Assim é que ela e o editor da segunda edição da obra (o autor das presentes linhas) promoveram um pré-lançamento na terra natal de Wilson, Pombal, a 9 de outubro de 2004, durante a Festa do Rosário daquela cidade sertaneja.
E, em 25 de novembro seguinte, o então presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães, coordenou o lançamento da edição corrigida de O velho Arraial de Piranhas na sede do Instituto. Atualizada e grandemente ampliada, a nova edição tem 466 páginas (ao contrário das 200 e poucas páginas originais) e saiu pela Editora Grafset.
Quem falou em nome da família, durante a solenidade no IHGP, foi o advogado, poeta e escritor Everaldo Dantas da Nóbrega. Presentes, entre outras personalidades, o desembargador Raphael Carneiro Arnaud e o médico Antônio Carneiro Arnaud (irmãos de Zélia); os presidente e diretor da Grafset, José Neiva Freire e Vladimir Neiva; o cronista Gonzaga Rodrigues; o designer Chico Pereira, autor da capa; o historiador José Octávio de Arruda Mello (autor de um dos estudos introdutórios do livro); os pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck Abrantes de Sousa (que auxiliaram o editor na atualização completa do texto do livro).
Por se tratar de obra importante, comparável, em relação a Pombal e ao Interior da Paraíba, às obras Brejo de Areia, de Horácio de Almeida, e História de Campina Grande, de Elpídio de Almeida, a Presidência do IHGP decidiu lançar essa segunda edição em grande estilo — e encarregou um de seus sócios mais atuantes, o Dr. Joacil de Britto Pereira, para falar em nome da instituição.
Cumprindo a Promessa — Com a publicação desse volume, Dona Zélia e todos nós cumprimos solene promessa feita ao “primo” Wilson Nóbrega Seixas pouco antes de seu falecimento — a de publicar post mortem um de seus mais importantes livros, O velho Arraial de Piranhas (Pombal) numa “edição crítica e definitiva” que escoimasse os erros encontrados pelo próprio Autor, ao longo dos anos, à medida que avançava seu conhecimento em torno História dos Sertões paraibanos.
Como sempre atuamos juntos, ele e eu, a partir dos anos 1960, e como Wilson sempre me procurasse para anunciar suas repetidas descobertas sobre a História do Interior da Paraíba, inclusive para efeito de publicação de seus artigos ou entrevistas em O Norte, ele nos depositava muita confiança. Tanto que certa vez, já presa do mal que o ceifaria, comigo abriu o coração sobre o livro que muitos consideram sua maior obra, O velho Arraial.
Falou mais ou menos nestes termos:
— Vou morrer com uma mágoa: sem publicar uma edição corrigida deste meu livro. Receio que os erros nele contidos, erros que sou o primeiro a proclamar, levarão a novos equívocos pesquisadores do futuro e marcarão negativamente o valor de minha já essencialmente modesta contribuição historiográfica.
Deteve-se, pensativo, por alguns instantes, para completar: “— A não ser... A não ser que você se comprometa comigo a publicar uma edição definitiva da obra, sem tais erros. Mesmo que eu venha a falecer, e acho que isto não está muito distante...”
Protestamos veementemente contra tal vaticínio. Mas Wilson pensava mais em sua obra do que na vida que lhe restava: “ — Pois bem, mesmo que venha eu a falecer logo e, portanto, não possa ver essa nova edição desejada, deixarei todas as indicações para que você ajude minha família a lançar um volume corrigido. Quer dizer, sem aqueles erros historiográficos a que me refiro”.
“Fui Induzido a Erros” — Fizemos ver a Wilson que estava exagerando em muito a extensão de tais erros — ainda mais porque ele mesmo já publicara, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, muitos artigos que complementavam esse e outros livros seus. Nada o demoveria, porém, do legítimo desejo de ter publicada a “edição crítica e definitiva” de O velho Arraial.
Disse também Wilson que se vira induzido a alguns de seus erros por se haver baseado em demasia “naqueles padres que escreveram sobre História, padres que sempre foram teimosamente contrários ao Marquês de Pombal e que puxavam a sardinha para a brasa da Religião”...
Prova maior disso, reclamava, é que um desses padres escritores julgava ser a expressão “bom sucesso” (na designação da antiga Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso, futura Vila de Pombal) alusão a um milagre de cunho religioso — quando ele, Wilson, tinha finalmente em mãos os documentos, a prova irrespondível, a evidência paleográfica de que se tratava apenas do “bom sucesso” das armas luso-brasileiras contra os índios bravios da região do Piranhas-Piancó...
Uma Reedição Abortada — Tais sentimentos antieclesiásticos amainaram um pouco no espírito de Wilson na medida em que avançava nossa conversa — até porque lhe fiz ver que os
sacerdotes historiadores não podiam fugir ao estado-da-arte do conhecimento de seu tempo. A determinação de Wilson de deixar uma edição atualizada de seu livro aumentou quando soube haver sido lançada em Mossoró uma reedição ipsis litteris da obra, “ajudando a eternizar os erros”...
Os editores dessa nova cópia mossoroense tiveram a melhor das intenções, ao reeditarem um dos mais importantes textos sobre os Sertões nordestinos. Ainda assim, Wilson agradeceu comovido pela homenagem, mas discretamente solicitou-lhes que não distribuíssem os exemplares, sendo cumprida sua vontade.
Não reclamou publicamente, não armou escândalo, embora se mantivesse firme na decisão. Continuava preocupado, no entanto, e exagerava na queixa: “Não posso deixar este meu livro do jeito que está, eivado de erros!”...
A “Saga” da Edição Definitiva — Mas, enfim, firmamos com ele o “compromisso de sangue, amizade e honra” de editar o volume corrigido d’O velho Arraial de Piranhas, cuja primeira edição, como se viu, era de 1961.
Uma das primeiras coisas que neste sentido ele devia fazer era mandar digitar o livro inteiro (do jeito que estava, incluindo os erros alegados) no formato texto em qualquer outro processador eletrônico.
Por outro lado, no volume original e também em folhas ou laudas separadas, ele devia indicar os textos a serem corrigidos, os cortes e/ou acréscimos a fazer — enfim, todas as modificações necessárias para a montagem da “edição crítica e definitiva”.
Ainda chegamos a trabalhar nisto, com ele, usando o computador de sua filha Lígia Maria, no então apartamento 505 da família (quinto andar, Edifício Eduardo Henriques, Avenida BeiraRio/José Américo de Almeida).
Duas razões nos fizeram mudar de método: o crescente agravamento do estado de saúde de Wilson e nossa crônica falta de tempo. Teve ele então a idéia de recorrer a dois outros amigos e admiradores de sua obra, os pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo (também nosso comum parente) e Verneck Abrantes de Sousa.
Verneck e Jerdivan nasceram em Pombal e, mesmo residindo em Campina Grande, já eram então conhecidos estudiosos da História da cidade, sobre a qual haviam publicado artigos e outros trabalhos de peso.
Zélia, Raphael e Carneiro Arnaud — Uma das principais tarefas de Jerdivan e de Verneck consistiu, primeiramente, no escaneamento e na digitação de todo o livro original e, depois, na introdução das correções desejadas pelo Autor.
Sabe-se, no entanto, que dificilmente um texto de tal dimensão, uma vez submetido à (re)digitação, sai incólume de novos erros de datilografia. Para além disto, mesmo os softwares mais avançados com a tecnologia OCR (optical character recognition ou reconhecimento ótico de caracteres), utilizados pelos scanners da modernidade, não são capazes de reproduzir com 100% de acurácia os textos escaneados. De modo que a primeira versão do trabalho teve que ser devida e exaustivamente revisada, até se obter resultado confiável — um mínimo de “erros de revisão”, que livros sem eles não os há ou são raríssimos na História da Imprensa, desde Gutenberg...
Todas essas etapas — inclusive as que se seguiriam, já a nosso cargo, de revisão crítica do texto, correções adicionais, conformação do texto à norma cultura moderna, formatação, editoração eletrônica, notas etc etc etc — demandaram, como sempre demandam, grande dispêndio de tempo e, sobretudo, de atenção, até que se conseguisse trabalho razoavelmente apresentável, pois continua valendo a antiga tese de que, como no caso dos edifícios, é mais fácil construir um livro novo que reformar um antigo...
Mas, enfim, estava pronta a segunda edição — o livro correto, escoimado dos erros. Para a tal resultado chegarmos, sempre contamos com todo o apoio e estímulo da viúva de Wilson, Dona Zélia, e dos irmãos dela (cunhados e igualmente admiradores de Wilson), como o médico Antônio Carneiro Arnaud e o desembargador Raphael Carneiro Arnaud, da mesma forma que Dona Zélia empenhados no resgate desta já antiga dívida para com o espírito do notável historiador de Pombal.
Introduções a Wilson — Para que se valorizasse ainda mais essa “edição definitiva”, houve por bem o editor e coordenador Geral dos trabalhos não apenas reproduzir o Prefácio da obra original, a cargo do historiador Celso Mariz, mas igualmente anteceder o texto atualizado e corrigido de Wilson com alguns estudos críticos a cargo de outros reconhecidos scholars paraibanos.
Assim é que o leitor tem a oportunidade de ampliar seu conhecimento em torno do historiador Wilson Nóbrega Seixas e de sua indispensável obra lendo artigos especiais de Luiz Hugo Guimarães, José Octávio de Arruda Mello, Humberto Cavalcanti de Mello, Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, Verneck Abrantes de Sousa e Jerdivan Nóbrega de Araújo.
Uma das mais longas e substanciais contribuições, no volume em referência, foi aquela justamente escrita pelo então presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães — mesmo porque foi publicada sob a forma de plaquette, constituindo o volume 14 da excelente Coleção Historiadores Paraibanos, do mesmo IHGP. Os demais artigos introdutórios são também imperdíveis e indispensáveis à compreensão do livro de Wilson — e da própria figura do historiador Wilson Nóbrega Seixas.
Tenha o leitor sempre em mente que, apesar das atualizações recém-procedidas no texto, Wilson Seixas escreveu esta obra em inícios da década de 1960. Assim, muitas coisas que eram “atuais” em Pombal à época em que o livro se viu lançado cederam lugar a novas realidades.
De todo modo, esta segunda edição constitui livro sob muitos aspectos totalmente novo, inclusive com o acréscimo de capítulos inteiros, sendo portanto em grande parte muito diferente, em estrutura e conteúdo, da edição original.
Ao cumprirmos a solene promessa feita a Wilson, já podíamos dizer: “Resquiescat, Vilsone Anofrica Saxum, in pace!”... [“Repouse em paz, Wilson Nóbrega Seixas].
Uma História por Escrever — Como Rosa Godoy e muita gente boa da Historiografia, Wilson também pensava que a real, autêntica, verdadeira História da Paraíba está quase toda por escrever. Para ele, “enquanto não contarmos com todo o acervo documental referente à Paraíba e que se encontra ainda espalhado por vários pontos do Brasil e do Exterior, não será possível qualquer tentativa para se escrever a História da Paraíba, de forma a sintetizar sua realidade profunda, objetiva e institucional”.
E prosseguia, com carradas de razão:
— Muitos fatos importantes de nossa História estão ainda nos arquivos, onde jaz muita luz escondida, aguardando a mão libertadora.
Se antes era tarefa difícil a realização de qualquer pesquisa, tanto em nosso país, como no Estrangeiro, hoje, entretanto, isso já não é mais verdade, principalmente se levarmos em conta o progresso técnico, científico e cultural de nossos dias.
Não procede o argumento do ilustre historiador Horácio de Almeida, ao afirmar que não era preciso ir a Portugal para obter informações acerca da História da Paraíba.
Trabalho Paleográfico — Especializado em História dos Sertões paraibanos, Wilson também se especializou na leitura de documentos antigos, especialmente os dos séculos XVI, XVII e XVIII, num trabalho de decifração paleográfica autodidaticamente assimilado. Sempre baseava suas conclusões em documentos primários. Era expert em Historia do Sertão, tornandose um dos maiores pesquisadores nessa área.
Seus estudos aprofundados baseados em prova primária insuspeitável, corrigiram vários enganos cometidos por sucessivos historiadores que se dedicaram à conquista e formação do interior paraibano.
Wilson foi, em suas próprias palavras, “um dos primeiros a divulgar o acervo documental existente no arquivo da antiga FAFI/UFPB”, onde esteve pesquisando por anos. Ali encontrou “uma infinidade de documentos e cópias xerográficas”, cedidos pelo ilustre professor pernambucano José Antônio Gonsalves de Melo.
Tratou de “ler toda aquela documentação extraída do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, cuja divulgação permitiu conhecimento de determinados fatos e coisas do nosso passado, além de oferecer perspectivas para novas interpretações da História paraibana”.
Tinha elementos, portanto, para refutar algumas hipóteses e teorias de colegas historiadores, dentre os quais Horácio de Almeida, sem por eles perder a admiração e o respeito.
É o que se sabe desde sempre: a História está o tempo todo sendo reescrita, reformulada. Nos cartórios do Interior, que pesquisava, especialmente em Pombal, salvou muitos documentos importantes de serem simplesmente incinerados ou “jogados no mato” pela ignorância e insensibilidade de uns.
Encantando a Plateia — Quando das comemorações pelos 500 anos do descobrimento do Brasil, o IHGP promoveu importante Ciclo de Debates sobre a História da Paraíba. Um dos palestrantes convidados foi Wilson Seixas, para apresentar painel num seminário sobre a conquista do Interior paraibano.
Tal conferência está disponível, juntamente com os debates, no site do IHGP. Sobre ela, manifestou-se o historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, confessando-se “embevecido” com o que acabara de testemunhar: “O que ouvi aqui hoje foi uma belíssima, rara e completa história da conquista do sertão, partindo de quem tem plena autoridade para fazê-lo, porque fundamentou o que disse em fontes
primárias. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade, e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de Paleografia, já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem, pois escreve a partir das fontes que ele lê. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI, nas transcrições documentais que ele fez, falando da ffé, com dois F, de Piancó, com NH e de trechos de frases inusitadas. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII”.
E acrescentou o Dr. Guilherme: — Foi realmente maravilhoso; fiquei transportado para essa época ao ouvir aquelas transcrições seguras, em que Wilson fala do sistema sesmarial e remete implicitamente à necessidade do conhecimento da história administrativa deste país, tão pouco ressaltado e tão necessário para se fazer história. Wilson Seixas passeia com uma intimidade em cima da História que causa à gente uma sensação de estar vendo um belíssimo filme com imagens muito nítidas. Fala de Garcia d’Avila, aquele antigo feitor da Alfândega do Governador Tomé de Souza, que veio a construir um império e, através dos séculos, estendeu terras desde Tatuapara, a 14 léguas de Salvador, até o Maranhão, e que tem uma enorme importância nessa conquista do nosso sertão. Fala no clã dos Oliveira Ledo.
Enfim, não deixa escapar nem Martim de Nantes com sua Rélation succinte, que, se não fora uma tradução feita pela Brasiliana em pequeno formato, restaria apenas a raríssima edição primeira, da qual poucas pessoas viram o texto. Contesta Capistrano, Horácio de Almeida, Coriolano de Medeiros, o Barão de Studart; não escapa nem frei Vicente do Salvador, com caranguejos que roçavam a beira da praia.
Julgado de Piancó &... Piancó — De fato, corrigindo alguns senões de Horácio e Elpídio de Almeida, Capistrano de Abreu e Coriolano de Medeiros, entre outros; indo além das noções que antes tínhamos do povoamento e dos caminhos antigos; e voltando-se para sua própria obra, a fim de também fazer autocorreções, Wilson nos deu melhor visão de como ocorreu a consolidação da conquista interiorana, na Paraíba e Estados vizinhos.
Lançou novas luzes sobre a família dos Oliveira Ledo, avançou no conhecimento das sesmarias e fazendas de gado, o papel dos paulistas e da Casa da Torre no desbravamento dos sertões, a continuidade da civilização do couro e o way of life dos antigos vaqueiros, a formação dos arraiais, das povoações, das cidades...
O historiador Humberto Cavalcanti de Mello também considerou “brilhante” essa palestra de Wilson, mesmo para quem já conhecia de perto suas qualidades de pesquisador.
Ele esclareceu os espíritos, mais uma vez, e de maneira definitiva, sobre a real extensão jurisdicional do Julgado de Piancó, cuja sede era na atual Pombal (PB), mas que se estendia por vasto território, abrangendo inclusive Patos, Sousa, Piancó e até larga área do Rio Grande do Norte, até o Apodi — não se devendo supor, assim, que tal jurisdição se restringisse ao Vale do Piancó. De modo que o historiador Rocha Pita estava correto ao afirmar que os desbravadores paulistas, como Domingos Jorge Velho, estiveram “em Piancó”.
Para Ler Wilson — Uma boa maneira de iniciar-se no estudo da obra de Wilson Seixas é ler, primeiramente a plaquette sobre ele produzida pelo falecido presidente do IHGP, Luiz Hugo Guimarães, na Coleção “Historiadores Paraibanos”.
Depois, é preciso fazer uma leitura em regra de O velho Arraial de Piranhas, onde há indicações para o prosseguimento do estudo, tendo em mente que, a bem dizer, a Historiografia colonial do Interior paraibano repousava nas contribuições de Celso Mariz, Horácio de Almeida e Wilson Seixas. Nas últimas décadas, recebeu também o influxo do trabalho impecável do historiador e médico Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins.
Há também que compulsar seu capítulo “A Casa da Torre e o bandeirantismo na conquista do sertão”, entre as páginas 58-67 do livro Paraíba: Conquista, patrimônio e povo, organizado por José Octávio de Arruda Mello e Gonzaga Rodrigues [Edições Grafset, João Pessoa, 1993].
Diferente da contribuição de Celso Mariz, mas com igual importância, ficou-nos o legado de Wilson, falecido depois de quase 40 anos de bons serviços prestados ao IHGP, onde foi substituído na Cadeira 15 pelo historiador Luiz de Barros Guimarães. *Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, historiador, editor e membro do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) - [druzzevandro@gmail.com]

[A foto de busto de Wilson Nóbrega Seixas, nesta postagem foi obtida no perfil do jornalista, escritor e emérito pesquisador sertanejo Clemildo Brunet de Sá].
UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS - UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS - Reviewed by Clemildo Brunet on 7/22/2017 06:24:00 AM Rating: 5

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