Combate à violência foi um logro oferecido que a Nação aceitou e os militares voltam ao poder político
João Costa |
João
Costa*
A intervenção militar no Rio de Janeiro não
é uma mudança de paradigma na política brasileira porque traz de volta os
militares para a cena principal, mas pelo novo papel que as Forças Armadas
passam a desempenhar daqui pra frente. O Exército não só está nas ruas, ele deixa
de ser avalista das instituições para ser o ator principal nos acontecimentos;
mais que o Judiciário, muito mais ainda que os partidos.
Neste novo cenário as Forças Aramadas
vão abandonam seu viés nacionalista para abraçar o modelo neoliberal que está
sendo implantado a fórceps desde a aprovação da PEC que impõe limite aos gastos
públicos, a vigorar pra valer a partir de 2019.
Vamos por partes, como diria o
esquartejador.
Qual a explicação para um presidente
denunciado três vezes por formação de quadrilha, obstrução da justiça e
corrupção se manter incólume no poder e, ainda por cima, decretar uma
intervenção federal no segundo estado da Federação?
Há uma explicação racional para um
títere que chegou ao poder mediante um golpe parlamentar promover tantas
reformas nas relações de trabalho, preconizando-as; destruindo um legado
construído ao longo de 70 anos em tão pouco tempo sem reação digna por parte
dos trabalhadores ou da Nação?
Michel Temer não tem estatura de chefe
de estado, muito menos poder suficiente
para comandar o que está em curso.
Desde o governo Dilma, o general Sérgio
Westphalen Etchegoyen, atual chefe do gabinete-militar, se credenciou como
articulador político entre os militares e o poder civil. É atribuído a ele o
poder de fato que Temer não tem e os créditos no plano de intervenção militar
no Rio.
A
sorte de Temer, digamos assim, o colocou com a faixa presidencial num momento
em que poder civil da República gravita
entre as famílias Marinho, Civita, Frias e banqueiros do Itaú e Bradesco em
consonância com o Departamento de Estado dos EUA. Como disse acima, Temer é
apenas um títere.
O Judiciário vai seguir a reboque e a
ele está reservado o papel de dar legalidade a tudo que emanar dessa conjunção
de forças, que podemos definir como “Deus Mercado”.
Para implementar ou aprofundar essa
agenda em curso desde 2016, impossível de ser concebida num governo democrático
e popular, só será viável pelas baionetas – e as Forças Armadas assim farão,
mas com a cautela de manter a opinião pública favorável, ainda que esta seja
manipulada pela pelas Organizações da Família Marinho.
Por tabela, não será surpresa se as
eleições de outubro forem suspensas, e se elas ocorrerem não serão livres, pelo
impedimento de participação de Luiz Inácio.
O tal combate à violência ou ao crime
organizado é apenas um bom pretexto, palatável, de fácil aceitação. Trata-se de
um logro oferecido a Nação e que ela embarcou.
Não estamos de volta a 1964, não há
ameaça externa do comunismo, nem Ligas
Camponesas pedindo reforma agrária. O que temos é uma agenda neoliberal que os
Estados Unidos reservaram para o seu “quintal” - a América Latina.
É geopolítica do Departamento de Estado
que tem no Brasil juízes, procuradores,
autoridades de polícia e de inteligência como longa manus na imposição dos seus
interesses. O presente não é escravo do passado, e o que aguarda o Brasil no
futuro bem próximo é pura loteria.
As hordas fascistas e seus líderes
simplesmente foram tragados. Desde quando aqueles que estão no comando do que
estamos assistindo precisam de um Bolsonaro? A partir desta semana o nome do
general Braga Neto será martelado dia e noite nos telejornais e, se obtiver
algum sucesso no Rio de Janeiro, ofuscará de vez a direita nativa.
Quanto a Lula, possivelmente será preso
dentro deste contexto de “limpeza” que criminalizou a esquerda. É uma incógnita
se terá capacidade para reverter o quadro – O Minotauro já saiu do labirinto.
*João Costa é
Radialista, Jornalista e Diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Combate à violência foi um logro oferecido que a Nação aceitou e os militares voltam ao poder político
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/21/2018 05:04:00 AM
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