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TARZAN: O ídolo de todos nós...E a corda no Rio Piancó...

Maciel Gonzaga*
Quem no final dos anos 50 e início dos anos 60 não assistiu em Pombal filmes de Tarzan no Cine Lux? Eu, pelo menos, passava sempre em frente ao prédio do velho cinema, na Rua Jerônimo Rosado, para observar os cartazes e ainda perguntar a Galdino Mouta, a Zé Cleôncio ou a Fagundes, quando chegaria um novo filme de Tarzan. Fui um privilegiado, pois Galdino me antecipava sempre o filme que estava para chegar e, assim, eu, Valdir Mendonça e Zé Coelho, saíamos avisando à molecada por toda cidade. Não conheço ninguém do nosso tempo que não gostasse de Tarzan. Até mesmo o Padre Andrade, apreciava com muito gosto as aventuras do Rei das Selvas.
Pois bem! Vamos relembrar um pouco, neste artigo, sobre Tarzan. Trata-se de um personagem de ficção criado pelo escritor americano Edgar Rice Bourroughs no romance "Tarzan of the Apes", de 1912. Na verdade, a visão da África criada por Bourroughs tem pouco a ver com a realidade do Continente, pois ele inventa que a selva africana esconderia civilizações perdidas e criaturas estranhas. Bourroughs, entretanto, nunca esteve na África. Dezoito livros de Tarzan foram publicados no Brasil pela Cia. Editora Nacional a partir de 1933, na lendária coleção Terramarear. As traduções foram feitas por importantes escritores, como Monteiro Lobato, Godofredo Rangel, Manuel Bandeira e outros.
Mas, o nosso ídolo maior no cinema foi o grande e inesquecível Pater Johnny Weissmuller (1904-1984), um romeno atleta e ator que se projetou no cinema americano fazendo o papel do verdadeiro Tarzan em doze fitas, primeiro na MGM, depois na RKO. Antes de entrar para o cinema, Weissmuller teve uma carreira excepcional como nadador, tendo conquistado cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Em 1934 imortalizou no cinema o personagem e transformou Tarzan, já conhecido através dos romances de Edgar Rice Bourroughs, em mito conhecido universalmente. Weissmuller fez doze filmes como o homem macaco, celebrizando o famoso e estilizado grito de vitória do personagem. Esse grito, que seria reproduzido por todos os Tarzans subseqüentes, não passava de uma hábil mixagem dos sons de um barítono, uma soprano de cães treinados. Nenhum Tarzan subseqüente jamais esteve à sua altura. Depois de Tarzan, ele ainda interpretou com sucesso o personagem Jim das Selvas na série do mesmo nome, feita para a Columbia entre 1948 e 1955. Johnny Weissmuller morreu em 1984 vítima de um edema pulmonar em Acapulco, no México, onde vivia com a sexta esposa há sete anos para se recuperar de uma trombose.
Devido à censura da época, os trajes de Weissmuller e, principalmente, de O'Sullivan (Jane) foram aumentando de tamanho de filme para filme. Boy (vivido por Johnny Sheffield), introduzido em “O Filho de Tarzan” (1939) não era filho do casal e, sim, adotado, conforme mostra o título original. Nos livros, no entanto, Tarzan e Jane são pais do menino Korak, que chega à idade adulta nos romances finais. Outros Tarzans que ficaram famosos foram Lex Barker, que substituiu Weissmuller a partir de 1948 e Gordon Scott, que é considerado por alguns críticos como o ator que melhor interpretou o herói. Das atrizes que interpretaram Jane, a única lembrada é Maureen O'Sullivan, que fez os seis primeiros filmes da série com Johnny Weissmuller e depois saiu porque não queria ficar presa à personagem, sendo substituída por Brenda Joyce.
Os filmes de Tarzan com Johnny Weissmuller exibidos no Brasil foram estes: "Tarzan, o Homem Macaco” (1932); "A Companheira de Tarzan" (1934), considerado o melhor da série; "A Fuga de Tarzan" (1936); "O Filho de Tarzan" (1939); "O Tesouro de Tarzan" (1941); "Tarzan Contra o Mundo" (1942); "Tarzan o Terror do Deserto" (1943); "Tarzan, o Vencedor" (1943); "Tarzan e as Amazonas" (1945); "Tarzan e a Mulher Leopardo" (1946); "Tarzan e a Caçadora" (1947); e "Tarzan e as Sereias" (1948). Desses filmes, tenho em meu poder três deles – “O Tesouro de Tarzan”, “Tarzan o Vencedor” e “Tarzan e as Amazonas”, cópias que me foram enviadas gentilmente de Brasília por Valdir Mendonça.
E a corda de Tarzan no Rio Piancó? Ah! Fez muito sucesso em Pombal nos anos 60. Armada nas Ingazeiras, propriedade de "Seu" Olinto, no Benedito - local que diziam, era mal assombrado - a corda pertencia ao meu irmão Massilon Gonzaga, que era quem melhor dava o grito característico esganiçado do legítimo Rei das Selvas. Tudo começou depois de uma das enchentes do rio, que deixou um determinado local fundo e próprio para banho da molecada, mesmo sendo uma área cheia de pedras e perigosa. Aproveitando a onda do sucesso de Tarzan, os moleques armaram uma acorda para "voar" até o meio do rio, onde se soltavam e caiam na água. Ali eram presenças garantidas, quase que diariamente, além do legítimo dono (Massilon), os filhos de Chico de Ernesto (Geraldo e Tinta); os filhos de Zé de Rosa Pescador; Zé Coelho (que era tão apaixonado por Weissmuller que introduziu ao seu próprio nome o prenome Johnny e passou então a se assinar por Johnny José Agostinho Coelho); Geraldo “Bucho Verde”, Dedé “Pé de Bola”, Manezinho de Pão de Milho, Geraldo de “Procotó”, Chaguinha, o Gordo e o Magro (netos de Joaquim Vieira), Bernardo Aleijado e João Fon-Hon-Hon (os mais velhos de todos); uma cambada do "Cacete Armado", liderada por dois primos meus (Paulo Barbosa e Xavier – “Gazo de Zé Lotero”); Nêgo Eduardo (filho do guarda noturno Chicó Preto); Nêgo Bié; galeras da Rua de Baixo e da Rua do Comércio; além dos estudantes universitários que vinham passar férias em Pombal, só que estes tinham segundo uma intenção: fazer Arrubacão, sempre acompanhados cachaça, violão e galinha roubada na noite anterior seja lá de quem fosse.
Aos domingos, era uma festa com muita gente fazendo pic-nic. Durante a semana, a molecada tomava de conta, antes roubando batatas nas vazantes de Godô, enterrando na areia e fazendo um fogo em cima para assar. Vez por outra, apareciam as mães dos freqüentadores, de corda na mão, botando o filho para casa debaixo de peia. A vaia comia no centro! Certa ocasião, um dos freqüentadores da corda, um neto de Joaquim Vieira – e membro da “dupla” o gordo e o magro – caiu de mal jeito e quebrou o braço. Lamentavelmente, depois de uma grande enchente, o rio mudou o percurso. As Ingazeiras ficaram, mas não tinha mais lugar fundo para se tomar banho. Assim, Tarzan e a Corda no Rio Piancó fizeram parte da vida de muitos pombalenses. Que saudades!
*Jornalista, advogado, Professor. Natal - RN.
TARZAN: O ídolo de todos nós...E a corda no Rio Piancó... TARZAN: O ídolo de todos nós...E a corda no Rio Piancó... Reviewed by Clemildo Brunet on 7/22/2009 10:29:00 PM Rating: 5

Um comentário

Cessa Lacerda disse...

Comentário sobre: "TARZAN:O ÍDOLO DE TODOS NÓS...E A CORDA NO RIO PIANCÓ..."
Querido Maciel!
Parabéns pelo sugestivo texto que nos proporciou também uma forte emoção da reminiscência saudosa.
Muito bem elaborado pois você viveu as estratégias do seu tempo de menino, porém eu me emocionei pelo fato de ter assistido a todos os filmes de Tarzan que foram exibidos em Pombal. Como Rei das selvas ele era admirável e por isso eu também era sua fã. É muito importante possuir conterrâneos como você, Jerdivam, Inácio e outros que tocam as nossas recordações saudosas.
Tomei um mergulho no passado conhecido e vivido de grande valor para nós através deste importante documentário.
Abraços de recordções!

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