HOMENAGEM A DR. AVELINO ELIAS DE QUEIROGA
Maciel Gonzaga (foto)
MACIEL GONZAGA*
Caráter em psicologia é o termo que designa o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo; esta qualidade é inerente somente a uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, sua natureza e temperamento. O conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a concepção moral; seu gênio, humor, temperamento, este, sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais. Para mim, resumindo, caráter é a soma de hábitos, virtudes e vícios, é a imagem interior de uma pessoa.
Como o Blog de Clemildo tem neste período de aniversário da cidade, voltado para enaltecer vultos e personalidades da cidade de Pombal, resolvi abordar neste artigo um nome que não devemos esquecer: Avelino Elias de Queiroga, ou simplesmente Dr. Avelino. Não vou aqui aditar informações sobre a sua vida política e profissional como “médico dos pobres”. Vou apenas prestar-lhe uma homenagem com um depoimento verídico.
Nos anos 60, quando se candidatou pela primeira vez para prefeito de Pombal, o refrão da música de sua campanha dizia: “Doutor Avelino/O pobre vai lhe eleger/Por que seu destino/É não deixar ninguém morrer...”. Militou politicamente na mesma época com o velho Chico Pereira - o seu principal adversário -, com Paulo Pereira, Jovem Assis, Cândido Queiroga. Foi correligionário de Ruy Carneiro, Janduhy, Dr. Azuil Arruda, Dr. Atêncio Wanderley, Dona Dalva Carneiro, Major Manuel Arruda, José Benigno de Sousa e muitos outros. O meu testemunho é de que nenhum desses políticos citados, sendo vencedores ou derrotados, fechavam as portas de suas residências ao povo, fosse seguidor ou adversário.
O episódio que relato a seguir, talvez, poucas pessoas tenham conhecimento em Pombal. A minha família, ou mais precisamente, a minha mãe, Dona Roza Gonzaga de Luna, por cerca de 40 anos morou em Pombal. Sempre foi adversária de Dr. Avelino. Era pessoa da casa de “Seu” Chico Pereira. Quando Dona Almira viajava para João Pessoa acompanhando o seu marido deputado, as chaves da residência, localizada na Rua Padre Amancio Leite, em frente à bodega de Fiel, ficava com a minha mãe Roza, que cuidava da limpeza e da conservação dos móveis.
Pois bem, Dr. Avelino se elegeu prefeito. Mãe Roza criava um rebanho de ovelhas. Eis que as ovelhas desapareceram. O rebanho completo, cerca de 15 cabeças. Mais de uma semana depois, o guarda noturno conhecido por “Nego Chicó” vai lá em casa e, pedindo segredo, informa que as ovelhas tinham sido apreendidas pelo “Rapa” da Prefeitura e estariam numa fazenda no distrito de São Domingos. Minha mãe espera a chegada do deputado Chico Pereira e comunica o fato. Houve uma reunião na casa do senhor Miguel da Silva, na Rua do Rio, com a presença – é claro do deputado Chico Pereira - do juiz da Comarca, do Promotor de Justiça e do delegado da cidade. Coisas da política e de quem tinha força e prestígio. A princípio, o desejo era mandar prender o prefeito por apropriação indevida. Por fim, chegou-se a uma conclusão: expedir um mandado de busca e apreensão dos animais e determinar a polícia o cumprimento imediato da ordem judicial. Zezinho de Peixe-Rei foi chamado para executar a missão com um grande aparato policial. Uma confusão grande, mas as ovelhas foram resgatadas. Foi feito um escândalo com divulgação do fato nos jornais de João Pessoa, tentando-se denegrir o mais que possível a imagem do prefeito e lhe imputado a responsabilidade de forma espalhafatosa. Na verdade, o prefeito não tinha culpa. O meu irmão Massilon, que acompanhou tudo, pois, à época, eu estudava no Seminário de Cajazeiras, ainda hoje diz que “vieram mais ovelhas do que as que foram levadas”. Essa versão minha mãe contestava.
O tempo passou. Minha mãe Roza, que ganhou o apelido dado por padre Luiz Gualberto de “Roza Rica”, era funcionária do Hospital e Maternidade “Sinhá Carneiro”. Contava ela que muitas vezes passava por Dr. Avelino nos corredores e ele torcia o rosto para não lhe cumprimentar; e vice-versa. Eis que ela fora acometida de uma crise aguda de apendicite tendo que ser internada em regime de urgência no Hospital. O único médico especialista era Dr. Avelino. A Madre “Do Carmo”, que era diretora do Hospital, o chamou para atender a paciente, mas já antecipou: “É Roza Rica!”. Numa demonstração do seu alto profissionalismo, de moral e caráter ilibado, o médico-prefeito levanta-se de uma cadeira no refeitório onde se encontrava, sem dar uma única palavra e vai em direção ao apartamento onde estava a paciente. Chega, faz uma análise rápida da situação, manda chamar o seu companheiro médico Dr. Azul e diz: “Ou faremos a operação agora, ou ela morre. E mesmo com a operação, ela ainda pode morrer, pois a apêndice estrangulou”. A cirurgia foi feita imediatamente e minha mãe escapou da morte. No período da convalescença, Dr. Avelino ia diariamente ao apartamento visitá-la. Lá chegando dava bom dia, boa tarde ou boa noite e perguntava: “Como está a paciente?”. Depois, fazia as recomendações médicas, sem falar mais nenhuma outra palavra e se retirava, isso até Dona Roza receber alta médica e ir para sua casa.
Os anos passaram. Já morando em Campina Grande, depois de romper politicamente com seu Chico Pereira (história que depois contarei em outro artigo), minha mãe toma conhecimento de que Dr. Avelino seria candidato a Deputado Estadual. Pega um ônibus em Campina e vai até Pombal. Desloca-se até a residência do querido médico, logo nas primeiras horas da manhã, e pede para falar-lhe. É anunciada por uma pessoa em meio a certa desconfiança por saber de quem se tratava, mas foi muito bem recebida. Dona Roza dirige-se a Dr. Avelino e lhe diz as seguintes palavras: “Aqui estou para fazer o pagamento pelo fato do senhor ter salvado a minha vida para que pudesse terminar de criar meus três filhos. O meu pagamento é arranjar votos em Campina Grande para o senhor”. A resposta de Dr. Avelino foi: “Eu apenas cumpri com a minha obrigação de médico”. Os dois se abraçaram e choraram juntos. Nesta eleição, Dr. Avelino obteve 153 votos em Campina Grande, sendo que 108 foram nas urnas do bairro do Catolé, onde residia à senhora Rosa Gonzaga e seus filhos. Quando Dr. Avelino morreu prematuramente, a minha mãe mandou celebrar uma missa por sua alma na igreja Matriz do Catolé, tendo como celebrante o padre Luiz. Eu estava lá.
Desculpem-me os leitores desse Blog por relatar aqui algo tão pessoal. Mas, não tenho dúvidas de que se trata de um depoimento que apenas vem ilustrar a personalidade e o caráter ilibado do pombalense que foi Avelino Elias de Queiroga. Que Deus o tenha em um bom lugar!
*Jornalista, Advogado e Professor – Natal RN.
HOMENAGEM A DR. AVELINO ELIAS DE QUEIROGA
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8/02/2008 06:12:00 PM
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