PAZ INTERIOR
Por Severino Coelho Viana*
O primeiro questionamento é bem lógico e está em conexão diretamente à individualidade pessoal, cujo funcionamento permitiria ter conhecimento de sua profunda existência, pelo percurso natural de vinte e quatro horas ligado ou desligado ao seu redor. Isto é, a plena consciência do seu próprio viver. Você sente perfeitamente as batidas de seu coração? Compreende os alertas e os toques de sua mente? A sua mente é sempre atordoada por impulsos repentinos. Age rapidamente por força destes impulsos? Sente um pouquinho de arrependimento posterior pelo o que fez no dia anterior? Reflete se o agir foi certo ou precipitado? O que você falou é verdadeiramente real? Você acredita na primeira informação que lhe é repassada? Tenta fazer uma pequena investigação do que chegou ao seu conhecimento ou logo tirou as suas próprias conclusões? Quando se olha no espelho vê algo de sua alma?
Hoje em dia muitas pessoas têm acesso a um espelho e um exercício muito simples para praticar é encarar os próprios olhos. São poucas as pessoas que realmente se olham nos seus próprios olhos.
A guerra exterior está exposta a olho nu, mas o conflito interior depende de sua exclusiva ação para esta grande descoberta. E parece até um contraste: a paz interior a pessoa consegue quando começa a enfrentar os seus combatentes ocultos. O resultado final desta aguerrida batalha você vencerá e erguerá o troféu de sua própria paz se tiver uma permanente vigilância.
Cada ser humano tem sua própria personalidade, característica, educação e sofre a interferência do meio em que foi criado, mas nenhum desses fatores serve de desculpa para impedir que nos tornemos seres humanos melhores, mais pacíficos, controlados, compreensíveis e ter o dom do perdão. Não devemos nos levar pelo desequilíbrio gerado por forças exteriores, seja no trabalho, no lar ou na comunidade e no meio social.
Devemos pensar várias vezes antes de responder uma provocação, usando o tempo como nosso aliado. Se deixarmos a resposta para o dia seguinte, certamente estaremos mais calmos e centrados, portanto, menos passíveis de cometer erros, evitando assim uma discussão que pode chegar ao extremo da agressão.
Refletir sobre tudo que vemos e ouvimos é de suma importância para manter o nosso equilíbrio e obter a consequente paz. Se nós nos tornamos mais humanos, pacíficos, reflexivos, calmos e centrados, estaremos colaborando para um mundo sem violência, uma visão infinitamente melhor que a atrocidade de um animal irracional.
Não podemos acabar com a violência externa, se nós carregamos um barril de violência dentro de nossa própria alma. Se guerreamos com os nossos irmãos e amigos íntimos, como podemos contribuir pela paz social?
Esta grande contradição da busca pela paz através da guerra foi o próprio Krishna que há milhares de anos, tão conhecida no Bhagavad-Gita onde Ele, como Mestre encarnando a voz de Deus, orienta Arjuna, o príncipe, na sua grande batalha. E que batalha é essa? Khrishna diz, dirigindo-se ao príncipe, "deves estar atento ao teu dever. Tu és o príncipe da casa dos guerreiros. Tens por dever combater com resolução e heroísmo. O dever de um soldado é combater e combater bem. O combate justo honra o guerreiro, e abre-lhe a porta do céu. Se desistires da legítima luta pela verdade e pelo direito, cometerás um grande crime contra a tua honra, contra o teu dever e contra o teu povo".
A guerra, neste caso, é travada contra o nosso ego que é, na realidade, o grande inimigo e o grande empecilho à nossa paz interior. Enquanto nós não vencermos esta guerra, enquanto esta batalha não for vencida, enquanto não compreendermos essa grande contradição que a guerra traz, nós não sentiremos a paz invadindo o nosso coração, não alcançaremos o nosso ser transbordar de paz. Então, por mais contraditório que pareça, por mais paradoxal que pareça, a paz interior começa com uma guerra, uma grande batalha. Esta batalha leva a vida inteira, e não somente esta vida terrena, limitada, mas também em outros planos transcendentais.
O que uma pessoa pensa é justamente o que se traduz na realidade dela. Portanto, se a pessoa deseja ter condições cheias de paz, afortunadas, conducentes, a chave de tudo é um coração puro, as aspirações altruístas da própria pessoa, sua motivação pura. As suas ações e as ações dos outros podem não ser tão diferentes; a diferença está no coração, na motivação pelo que você faz.
A trilha da paz interior é feita, passo a passo, sem raiva ou malícia. Desprovido de inveja que acarreta o ódio e aniquila o pensamento humanitário. Ela é feita de paciência e bom senso, e de um grande interesse em desvelar o véu de preconceitos e hábitos irrefletidos que sustentam nossas ilusões. A importância de tudo isso é ter boa vontade, dá o primeiro passo na busca do ideal, inclusive, levando um escudo de defesa para as rebordosas que surgem sutilmente do contra-ataque alheio que vem como um terremoto arrasador.
A maldade é um campo minado do imã atrativo que desenreda os bons propósitos, destrói o seu poder de imaginação e o faz refém de suas malícias intrigantes.
É muito fácil ser sócio da bondade e da vida de retidão. Você não consegue tudo isto porque não se olha no espelho. Não o é espelho que produz a imagem virtual, é a imagem real que está dentro de si próprio e não faz a menor tentativa de amoldá-la e aperfeiçoá-la nos padrões da ética cotidiana.
A alegria não reside no fato de mudar de uma casa pequena para uma grande, de trocar um carro velho por um novo, ou deixar o campo pela cidade. É aquilo que existe dentro de nosso coração que faz da vida um Paraíso ou um Inferno.
Quando você cultiva a compaixão e a bondade amorosa, você cria no seu coração uma jóia que realiza desejos. Você não pode comprar isso. Você não a obterá no topo de uma alta montanha. Está apenas no seu próprio coração.
João Pessoa, 17 de dezembro de 2009.
*Pombalense e Promotor Público de Justiça em João Pessoa.
PAZ INTERIOR
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/19/2009 06:09:00 AM
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