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A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO...

Maciel Gonzaga
Maciel Gonzaga*

Na Roma Antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política "panem et circenses", a política do pão e circo.

Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu) e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão). O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia e se alimentava também esquecia os problemas e não pensava em rebelar-se. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano.

Séculos depois, Nicolau Maquiavel com o foco para o Estado – não aquele imaginário e que nunca existiu – mas aquele que é capaz de impor a ordem, chega a defender a política do Pão e Circo, para que a população carente esquecesse os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.
Praça Mons. Valeriano Pereira
Em Pombal, dentro dessa linha de raciocínio, ao assumir a Prefeitura para quatriênio de 1960 a 1963, o médico-prefeito Azuil Arruda de Assis, eleito pelo PSD, ao se deparar diante de uma cidade que não oferecia lazer aos seus munícipes, como uma das medidas administrativas construiu Praça Mons. Valeriano, por trás da Igreja Matriz do Bom Sucesso, onde foi posto um aquário no qual tinha um Pirarucu (Arapaima gigas), um dos maiores peixes de água doce fluviais e lacustres do Brasil, que pode atingir três metros e peso de até 200 Kg. Aos domingos à noite era o ponto de diversão da população, principalmente, a garotada.

Além disso, na administração do prefeito Azuil Arruda registra-se a passagem do Centenário da Cidade de Pombal - 21 de julho de 1962. Pombal era só festa! Para as comemorações, deu-se a primeira reforma nas praça Getulio Vargas e Dr. José Queiroga, as lâmpadas originais são substituídas por fluorescentes. Dentro da programação se verificou: lançamento do livro "O Velho Arraial de Piranhas", teatro sobre História de Pombal, desfile estudantil da Escola Normal Arruda Câmara e Ginásio Diocesano, missa campal, conferências, apresentação folclórica dos pontões, congos e reisados, entre outras. O Coreto da Praça passa a ser denominado de Bar Centenário. O ponto alto da festividade foi a primeira grande Vaquejada de Pombal, realizada pela primeira vez na cidade. Na época, a sede Municipal tinha 8.171 habitantes e 1. 898 prédios, mas não tinha sequer um Colégio Estadual de 2º Grau.

Assim, a situação ocorrida na Roma Antiga e na Pombal dos anos 60 é muito parecida com o Brasil atual. Em nosso país o crescimento urbano gerou, gera e continuará gerando problemas sociais. A quantidade de comunidades (também conhecidas como favelas) cresce desenfreadamente e a condição de vida da maioria da população é difícil. O Governo da União, tentando manter a população calma e evitar que as massas se rebelem criou o “Bolsa Família”, entre outras bolsas, que engambela os economicamente desfavorecidos e deixa todos que recebem o agrado muito felizes e agradecidos. Estes programas sociais até fariam sentido se também fossem realizados investimentos reais na saúde, educação e qualificação da mão-de-obra, como cursos profissionalizantes e universidades gratuitas de qualidade para os jovens.

Aquela velha frase “não se dá o peixe, se ensina a pescar” pode ser definida como princípio básico de desenvolvimento em qualquer sociedade. A saída desta dependência é a educação, e as escolas existem em nosso país, mas há muito que melhorar. Os alunos deveriam sair do Ensino Médio com uma profissão ou com condições e oportunidades de cursar o nível superior gratuitamente, e assim garantir seu futuro e de seus descendentes. Proporcionar educação de qualidade é um dever do estado, é nosso direito, mas estamos acomodados e acostumados a ver estudantes de escolas públicas sem oportunidades de avançar em seus estudos, e consideramos o nível superior como algo para poucos e privilegiados (apenas 5% da população chega lá).

Precisamos mudar nossos conceitos e ver que nunca é tarde para exigirmos nossos direitos. Somente com educação e cultura os brasileiros podem deixar de precisar de doações, de festas e, assim, se desligar desse vínculo com o “pão e circo”, pois estes são os meios para reduzir a pobreza. Precisamos de governos que não se aproveitem das carências de seu povo para obter crescimento pessoal, e sim que deseje crescer em conjunto.

*Jornalista, Advogado e Professor. Natal RN.
A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO... A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO... Reviewed by Clemildo Brunet on 8/14/2011 05:34:00 PM Rating: 5

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