POMBAL: "MENOS IRRIGAÇÃO"
Ignácio Tavares |
Ignácio
Tavares*
Este texto objetiva
fazer uma alerta aos combativos políticos da minha terra sobre a exclusão de
Pombal das políticas de irrigação levadas a efeito pelo governo federal. Não
obstante as potencialidades irrigáveis da nossa terra, para o nosso desencanto,
sempre estamos fora das políticas publicas de incentivo a irrigação. Não se
trata de quizila, azar, ou coisa do gênero, mas às vezes chego a pensar que é
algo mais ou menos parecido. Vejamos:
No dia 13 de novembro
a Presidenta Dilma anunciou novo plano de irrigação cujo título é bem
sugestivo, seja “Mais Irrigação”. Varias áreas do nordeste serão beneficiadas
com o referido programa. No nosso Estado foram selecionados os municípios de
Sousa (São Gonçalo) com cerca de 2 500 hectares, outros municípios da
microrregião do litoral com 3.000, e
o perímetro irrigado de Sumé com 275
hectares.
E nós? Não sei se o
governo sabe disso, pois, temos muita terra irrigável subutilizada e água a
vontade. O que sobrou pra a gente? Nada, simplesmente nada. O que me deixa
pasmo é a ignorância, o desconhecimento dos poderes públicos sobre o potencial
irrigável dos municípios de Pombal, Paulista e São Bento. São três municípios
que podem revolucionar a produção irrigada no sertão paraibano, tal qual como acontece no Baixo Açu, no vizinho estado
do Rio Grande do Norte.
Nada contra os
municípios vizinhos que estão a receber benefícios de magnitude invejável.
Posso citar o caso do maravilhoso projeto das Várzeas de Sousa. Que beleza,
hein? É verdade que a condução da água para viabilizar a irrigação, de
aproximadamente 5.300 hectares, via canal de Redenção custou uma fábula de
milhões de reais, porquanto os três municípios situados às margens da calha do
Piancó, como menos investimentos poder-se-á irrigar tanto quanto o que se
pretende irrigar em Sousa, talvez, quem sabe, até um pouco mais.
Neste caso os
encargos financeiros do governo são infinitamente menores porque não há
necessidade de construção de canais para adução, uma vez que a calha do rio já
desempenha esse papel. Por outro lado não precisa desapropriar terras, posto
que o sistema de posse da terra, através da sucessão por heranças, se
encarregou de fazer a distribuição com a prevalência de estabelecimentos agrícolas
entre dez e cinquenta hectares. Este sim é um espaço ideal para um programa de
irrigação com elevada capacidade de geração de emprego e renda.
Repito: até hoje nada
foi feito para transformar os três municípios em grande centro produtor de
hortifrutigranjeiros. O pior de tudo é que as águas que descem pela calha do
Piancó, em termos de aproveitamento econômico, pouco nos servem, não obstante o
nosso elevado potencial irrigável. Temos muita água disponível para pouca
produção, por conseguinte menos empregos, associados a pouca geração de renda.
O que foi feito até
hoje para solucionar esse problema? Nada. Quantas vezes reclamamos? Nenhuma.
Assim sendo, o que se deve fazer para chamar atenção dos poderes públicos pra
essa realidade? Claro que as nossas lideranças vinculadas aos partidos que dão
sustentação aos governos estadual e federal é que estão com a palavra. Com
certeza o povo quer ouvi-los sobre essa questão.
Que triste sina essa
da minha terra. As coisas boas passam por cima qual uma ave aparentemente sem
rumo e pousam n’outras plagas. Vejam só: morreu Levi, o homem que brigava, desdobrava-se por sua terra. Antes da sua
morte o saudoso amigo estava com o firme propósito de levar uma unidade da
CEASA pra terrinha. A elaboração do projeto ficou sob a minha responsabilidade.
Com autorização do então prefeito Carneiro Arnaud, usei a estrutura da CPM e em
poucos meses o projeto estava pronto.
Estrategicamente o
projeto foi apresentado a Antonio Mariz candidato a governador do Estado. Foi
aprovado, uma vez que o projeto das Várzeas de Sousa, também no papel, poderia
ser o grande fornecedor de hortifrutigranjeiros para CEASA de Pombal. Tudo
certo porque as coisas se encaixavam perfeitamente. Tecnicamente tudo favorecia
a instalação de uma unidade da CEASA cá em nossa terra, mas ninguém contava com
a morte de Levi.
Em seguida morreu Antônio
Mariz, fiador convicto do nosso projeto. Pra se ter uma ideia do andamento das
coisas, o governador Antonio Mariz assegurou a Levi que desapropriaria o
terreno da Brasil Oiticica onde seria construída a CEASA de Pombal. Do ponto de
vista locacional Pombal era a cidade ideal para sediar uma unidade desse tipo
de entreposto comercial, pois iria beneficiar todo médio e baixo sertão, até
mesmo alguns municípios de estados vizinhos.
Com a morte de Mariz,
o compromisso foi zerado por parte do novo governo. A proposta e levar a CEASA
pra Pombal não se ouvia falar mais. Entramos em estado de orfandade
Com a morte do
deputado e do governador entramos em estado de orfandade política. Desse modo
não havia ninguém para defender os interesses de Pombal junto ao governador que
sucedeu a Antonio Mariz. Diante do quadro de incerteza percebemos que alguma
coisa ruim estava pra acontecer. Uma coruja agourenta do tipo rasga-mortalha
estava a prenunciar que algo de ruim iria acontecer. Aconteceu.
Lembro-me quando
surgiram os primeiros bochichos de que a CEASA seria transferida pra Patos,
avisamos ao poder local, mas, nada foi feito para evitar que o fato se
consumasse, não obstante o grupo dominante, naquela época, fazer parte da base
aliada do governo do estado. É isso mesmo, são fatos passados que deixaram
marcas inapagáveis porque são incalculáveis os prejuízos causados a economia
agrícola do nosso município.
Isso aconteceu lá
pelos idos do final dos anos noventa do século passado. Quem era o prefeito
nessa época? Ninguém sabe avaliar quanto Pombal perdeu com essa infeliz
transferência. As coisas continuam a acontecer. O governo do Estado anunciou ha
meses passados que seriam irrigados 2 500 hectares de terras na região de
Pombal. Por acaso esse projeto para irrigar 2 500 hectares em São Gonçalo não
seja o mesmo que foi anunciado para a região de Pombal? Dá pra desconfiar, não
é? É bom verificar, pois gato escaldado tem medo de água fria, não é?...
Sei não, ha momentos
que chego a pensar que Pombal é uma carta fora do baralho das políticas
públicas dos governos estadual e federal quando o assunto são políticas
públicas de efeitos localizados voltados para o fortalecimento da base
econômica dos municípios mais desenvolvidos do sertão. Tomara que eu esteja
enganado, mas, há prenúncios de que existe um fundo de verdade nessa minha
desconfiança.
Talvez eles pensem o
seguinte: já fizemos muito por Pombal agora vamos dar um tempo! Ora, ora meus
senhores somos um município pobre dotado de um potencial espetacular que se
acionado com investimentos públicos e privados é possível transformar o nosso
município numa economia capaz de alterar a matriz econômica do sertão
paraibano. Pensem nisso...
Há provas evidentes
de que quando os bons ventos favorecem a economia de Pombal a resposta é
deveras positiva. Alguns jovens empreendedores aqui da terrinha deram mostras
do que estou a falar. Há pouco tempo Pombal foi o maior centro nacional da
apurada genética de Ovinos Santa Inês. Acabou-se! Por quê?
Da mesma forma foi o
maior produtor de leite, bem como de banana. Tudo isso caiu por terra, justo
pela falta de apoio logístico para a manutenção do mercado, a fim de oferecer
segurança a toda cadeia produtiva, bem como manter os jovens empreendedores
ativos no mercado. Por conta da insegurança de mercado, da mesma forma,
acabou-se a produção de banana e caiu consideravelmente a produção de leite.
Até quando essas coisas vão acontecer?
Diante de tudo isso,
cobrar, reclamar, junto às autoridades públicas é preciso. Alguém tem que
gritar alto e forte para que os poderes públicos despertem pra essa realidade
perversa manifesta pela indiferença aos interesses maiores da nossa amada
terra. Quem se habilita a soltar o primeiro grito? Eu, há muito estou a gritar,
não é verdade? E vocês quem se habilita? Ninguém? Ah, minha gente, se for assim
deixa estar para ver como é que fica.
Há momentos que chego
acreditar que aquele rapaz que costuma dizer que Pombal não precisa prosperar,
está certíssimo. Ademais inda fala: esse negócio de indústria é estória pra boi
dormir. Quantos bois estão a acreditar nesse rapaz, não é? Desculpem-me trata-se
apenas de um desabafo...
João Pessoa, 25 de Novembro
de 2012.
*Economista
e escritor pombalense.
POMBAL: "MENOS IRRIGAÇÃO"
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/24/2012 10:46:00 PM
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