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A ESPERANÇA LÁ NO MEU PÉ DE SERRA

Jerdivan Nóbrega de Araújo
Jerdivan Nóbrega de Araújo*

O velho e solitário sertanejo olha para o horizonte, sempre em direção ao leste: o vento leste é sempre mais promissor. Nuvens se formam em nimbos, que são nuvens espessas e escuras; geralmente desfazem-se em chuva, mas, sabe lá ele o que é nimbos? Volta para dentro de casa, observa o calendário que ganhou de brinde do dono da bodega do vilarejo: é março, é lua cheia e é também é dia 19. Ele sabe porque aprendeu com seus ancestrais que a lua cheia corresponde à plenitude de todas as coisas.
As sementes vão germinar e

vão crescer. A lua cheia está intimamente relacionada à mãe e à transformação das coisas. É a fase que pode ser usada para a realização dos sonhos e o seu sonho, um tanto singular, é permanecer na sua terra, cuidar do que sobrou, do que foi deixado pelos seus pais e do lugar onde ele cresceu e criou os filhos; filhos esses que já não mais estão com ele: ganharam o mundo, como ele mesmo costuma dizer.

Lembra que na noite anterior o tetéu sobrevoou os céus, e o “Galo de Campina”, na manhã seguinte, apareceu saltitante nos marmeleiros que em tempos melhores davam sombras á criação de bodes e ovelhas que enfestavam o terreiro do casebre. São estes os sinais que o anima.

Ele pega uma escada sobe na casa, arruma algumas telhas que se desalinharam, volta ao chão, alinha também com as bicas todas latas, potes e o que mais puder encontrar pela frente: não vai desperdiçar nenhuma gotas das primeiras e preciosas águas de março.

Tomadas essas providências, ainda falta acender a vela do santo das chuvas e da sua última esperança. Feito isso, olha mais uma vez pela janela, estira o braço para sentir os primeiros respingos de chuva arrepiar os seus pelos, e já é possível escutar ao longe os relâmpagos e trovões riscando os céus no inicio de noite..

Aspira com sofreguidão e alimenta os seus pulmões com o “cheiro de chuva” que chega bem antes dos primeiros respingos. Agora é armar a rede no alpendre para ouvir a música dos pingos d´água que repica nas telhas, latas e árvores. Agora é embalar o sono e o sonho com esse som, para despertar com os cantos dos pássaros que vieram, sabe ele lá onde, para acordá-lo ainda com o escuro, para lavrar a terra que já estava preparada desde antes, quando a chuva era só uma remota esperança que aparecia apenas em seus “experimentos”.

O que lá na cidade foi apenas um dia de chuva, acompanhado pari passo através do rádio e televisão, para aquele velho sertanejo solitário lá do pé da serra foi um ritual de renovação de sonhos e de esperança que agora se confirma como nas suas experiências e costumes.

*Escritor e Pesquisador das histórias de Pombal.
A ESPERANÇA LÁ NO MEU PÉ DE SERRA A ESPERANÇA LÁ NO MEU PÉ DE SERRA Reviewed by Clemildo Brunet on 4/30/2014 04:41:00 AM Rating: 5

Um comentário

Unknown disse...

Maravilha! Me fez sonhar...sempre desejei casar com um sertanejo,um homem forte de coracao puro,morar no campo,viver entre vacas, cabritos e galinhas..,com conforto,e' claro!Mas,deixando os sonhos de lado... o inverno 2014 tem sido generoso,aqui no Piaui que e' sempre tao quente quando chove e' so alegria...eu entao me sinto de alma lavada!Mas penso no lado ruim tambem,naquelas pessoas que sofrem com as casas alagadas,muita lama e moveis destruidos...logo os moveis que acabaram de comprar em prestacoes a perder de vista...e as ratazanas da politica enricando com a seca do Nordeste,deixando os pobres numa vida ainda mais miseravel! Que DEUS tenha compaixao.

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