banner

Aproxima-se dias de perplexidade

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

         Século passado, anos de 1960, o Brasil estava mergulhado na campanha política para a Presidência da República e Governadores dos Estados. Eu era um garoto mas, tinha a política nas veias que alimentava o corpo, permitindo que a alma fosse partidária dos conceitos que regiam os movimentos interioranos, observando o fragor das passeatas, por ruas muitas delas sem pavimentação, e a poeira provocada pelos paços céleres dos simpatizantes e
correligionários, deixava a certeza de um resfriado alérgico no dia seguinte.
            Era o começo de uma nova realidade, o General Henrique Batista Duffles Teixeira Lott candidato derrotado à presidência pelo vitorioso na campanha, Jânio da Silva Quadros, tinha uma campanha exemplar, com todo planejamento profissional, quando foi introduzido o marketing político, copiado dos EUA, ainda hoje, o seu jingle oficial utilizado na sua campanha é reputado como um dos melhores usados em campanhas eleitorais no nosso país. Mesmo assim, não foi possível suplantar o carisma daquele que vinha de sucessivas eleições vitoriosas, saindo da vereança, em São Paulo, à Presidência da República, num curto prazo inferior a 15 anos, não conseguindo, entretanto, fazer o vice-presidente que era o Milton Campos, na época não era obrigatório o voto vinculado, do presidente e o vice, sendo reeleito o já vice-presidente João Belchior Marques Goulart.
            Na política regional, exatamente no Estado da Paraíba, Pedro Moreno Gondim derrota o filho da nossa terra, tradicional deputado federal Janduhy Carneiro. Toda essa narrativa, já de conhecimento geral, foi apenas para aduzir um panfleto político, dessa campanha, onde o vencedor estava falando ao microfone e ao seu lado, numa outra fotografia, estava chorando e com lenço a enxugar as lágrias, o derrotado afirmando: “NÃO VOTE EM MIM, VOTE EM GONDIM”. Esse panfleto estava espalhada por toda cidade, como também no Estado. Como um garoto ainda desinformado, não entendia nada, absolutamente nada de campanha política, achava aquilo um sacrilégio, cometido contra aquela figura impoluta do Dr. Janduhy Carneiro, aquele homem que tinha começado sua carreira política na sua cidade e hoje era um dos orgulhos do Estado.
            Depois de 54 anos, vendo a patifaria que é a o marketing político que se pratica hoje, verifico quão inocente era a nossa visão dos tempos idos! Percebo que aquilo não passava de uma provocação de um candidato contra o outro, dentro dos limites que a democracia estabelecia.
            Estamos começando uma nova jornada, candidatos se posicionando, acordos sendo feitos, parecendo mais tribofe, legendas partidárias se sentindo preteridas, se manifestando doloridas e desprestigiadas, procurando se mexer na tentativa de novas negociações dentro das suas coligações e fora delas, não podendo errar o alvo da vitória certa, para que a vaca leiteira não pare com sua produção e não lhe falte o que sempre lhe alimentou. Esse momento é importante para esses partidos que buscam apenas se manter no poder, daqui a pouco a situação passa a representar o rubicão, não havendo mais espaços de manobras para arrependimentos.
          O que mais lamentamos é a falta de ideologia, os partidos que aí estão procuram lançar programas eleitoreiros, com temas imediatistas, promessas fantasmológicas de cunho unicamente eleitoreiro, bazófia com único propósito de ludibriar a boa fé do eleitor brasileiro.
          O governo vendo a sua situação se complicar, não tendo mais o favoritismo que tinha, sua candidata a reeleição caindo 5 pontos percentuais em apena uma semana, chegando ao patamar mínimo para quem quer se reeleger, tenta reagir apenas com novas promessas. Sua base aliada começa a pedir a candidatura do ex-presidente Lula, o mais prestigiado dos situacionistas, principalmente entre o voto popular, pelo trabalho que ele fez na consolidação dos programas, com expansão na área social, levando o assistencialismo ao interior do Brasil.
        O povo pedindo mudanças, não apenas de novos rostos na administração pública, mas, mudanças de atitudes, projetos políticos, há um cansaço verificado no ar. São 30 anos que os políticos são os mesmos, mudam de posições, como num tabuleiro de xadrez, como a proteger a rainha, que seria a pátria e o povo, na realidade estão interessados em proteger apenas a si próprio.
          O nosso modelo está falido, a maior concentração dos recursos ficam alojados nas entranhas da administração federal, longe dos locais produtivos e necessitados de recursos materiais para o desenvolvimento local, isso não ocorre. Faz tempo que se é cobrado um novo pacto federativo, o município precisa ter sua participação no bolo financeiro aumentado, 12% o que sobra para o município é muito pouco, ou quase nada, para prestar os serviços básicos para a população carente, que sempre necessita de uma demanda maior de serviços médicos, segurança, mobilidade urbana, e uma educação que venha possibilitar a saída de uma classe algemada a falta de oportunidades, pela ausência de educação e cultura, todos nós sabemos disso.
       O povo está abespinhado, mostrando sua fadiga pelo descaso que as autoridades estão tratando a população brasileira, com indiferença, verdadeira ataraxia. Um povo raivoso é um povo incontrolável, depois que os problemas se agravarem não vão imputar a situação à natureza, as secas e suas sequelas, ou as cheias e suas calamidades levadas às regiões ribeirinhas. Muita coisa podia ter sido evitada e ainda há tempo de se evitar, basta que se tenha planejamento. Infelizmente há governos com iniciativas e acabativas, outros sem iniciativas e acabativas, é exatamente o que está ocorrendo no Brasil.
            Não adianta anunciar projetos faraônicos e não concretizá-los, é preferível a simplicidade, o exequível, o viável e o possível, sem a megalomania dos mitômanos. Analisando friamente o nosso modelo político e de governo, tem uma fábula que parece muito com a realidade  dos situacionistas, e grande parte dos oposicionistas, para nosso desespero, que é: “Pego a primeira parte para mim porque me chamo leão, a segunda, sois vós a dar-me porque sou robusto, a terceira cabe a mim porque valho mais. A quarta, pobre daquele que ousar tocá-la”.  Isso é um fato!
 *Escritor e Poeta

Aproxima-se dias de perplexidade Aproxima-se dias de perplexidade Reviewed by Clemildo Brunet on 5/03/2014 06:09:00 AM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion