A importância das relações sociais para o processo de produção do espaço geográfico
Marcela e Romero |
José Romero Araújo Cardoso[1]
Marcela Ferreira Lopes [2]
Podemos considerar espaço geográfico
como um produto direto da ação do homem transformando o meio ambiente natural
em segunda natureza, cujos condicionantes encontram-se na forma como estão
estabelecidas as relações sociais de produção e a disponibilidade técnica em um
dado momento histórico. Durante exatamente um século, desde que a geografia
moderna foi sistematizada como ciência até o advento da ênfase crítica
alicerçada no materialismo histórico e
Enfatizar o real sentido sobre o significado
de espaço geográfico suscitaria bases reflexivas acerca das diferenças
existentes em uma determinada sociedade, razão pela qual buscar compreendê-lo
enquanto sinônimo de conquistas, caso da “teoria do espaço vital” formulada
pelo alemão F. Ratzel, bem como notável alienação através da teoria do espaço
absoluto do norte-americano Richard Hartshorne, apareceram como a saída para
desviar a atenção no que se refere à importância desse conceito-chave para a
ciência geográfica.
Importante categoria de análise presente
na proposta da geografia crítica, as relações sociais de produção aparecem como
catalisadoras no que tange as reflexões pertinentes às contradições sociais.A
forma como indivíduos aparecem enquanto beneficiados ou excluídos cristaliza-se
através do espaço construído. Suntuosas mansões e barracos em favelas são
considerados um exemplo bastante pertinente, através de como se dão as relações
sociais mantidas pelos seres humanos através da produção econômica.
Detentores dos meios de produção,
favorecidos pela forma como infraestrutura e superestrutura se articulam a fim
de garantir privilégios, estão situados em posição privilegiada na pirâmide
social. Resultado disso é a sofisticação do espaço produzido, marcado pela
proeminência em razão da apropriação dos frutos do trabalho da grande maioria.
A teoria marxista sintetizou esse processo denominando-o de mais-valia.
Em contrapartida, devido à ausência de
condições materiais a fim de fomentar a sofisticação do espaço construído, em
geral, as pessoas que apenas dispõe da força de trabalho vai ter suas moradias
caracterizadas pela incipiência das formas estruturais.
Observam-se através das rugosidades que
perduram no tempo e no espaço que os diversos modos de produção caracterizados
pelas notáveis diferenças inter-classes ostentaram os desníveis provocados
pelas diferenças apresentadas através das relações sociais de produção. No
escravismo antigo ou colonial as moradias dos patrícios e dos escravos, bem
como dos senhores de engenhos ou de cafezais e a mão-de-obra negra, casos
brasileiros, sintetizaram a forma como o espaço geográfico apareceu
notavelmente diferenciado. No feudalismo, cujas expressões encontramos através
da permanência no espaço atual de castelos suntuosos, as relações sociais de
produção, impostas principalmente através de rígidos preceitos religiosos,
estavam alicerçadas nas diferenças entre servos, clero e nobreza. No
capitalismo, a relação valorização X marginalização espaciais estão diretamente
relacionadas à estrutura montada a forma de garantir privilégios, notabilizando
esquemas históricos que engendram diferenças.
Milton Santos, geógrafo brasileiro para
quem o estudo apresentado pelas condições espaciais esteve ligado a sua
proposta teórica a tal ponto que rendeu-lhe o prêmio Vautrin Lud, considerado o
Nobel da geografia, exponencializou sobremaneira a importância das relações
sociais de produção para o processo de produção do espaço geográfico como
indispensável fator que explica diretamente a existência de diferenças em uma
sociedade.
[1] José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da
Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em
Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).
[2] Marcela
Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos
com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP.
Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.
A importância das relações sociais para o processo de produção do espaço geográfico
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/27/2015 06:52:00 AM
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