Dr. AVELINO – A VITÓRIA
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
Avelino Elias de Queiroga, Dr. Avelino
ou Bolinha de Ouro, assim era chamado carinhosamente pelos seus eleitores no
Município de Pombal, tinha saído vitorioso da eleição anterior, como
Vice-Prefeito, votos desvinculados, obtendo uma votação expressiva, conforme
resultados constantes nos anais do TRE-PB: Avelino Elias de Queiroga - PSD 5.039 - 52,89% Eleito. Enquanto que
Maurício Bandeira de Souza UDN 4.488 - 47,11% Não Eleito, nas eleições
Municipais de 1959. Credenciando-se automaticamente como um forte candidato a
prefeito para as eleições municipais de 1963, doravante, formando a ala
avelinista, espalhando-se nos bairros periféricos pelo seu forte carisma
pessoal.
Naquela época, o mundo passava pela tragédia
do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, nas ruas de
Dallas, Texas. No Brasil, o movimento estudantil, vivia intensamente o momento
político, marcado pela radicalização da Guerra Fria, pelas repercussões da
Revolução Cubana, pelo conturbado processo de resistência às Reformas de Base
do presidente João Goulart e
Quando analisamos os momentos políticos
na cidade de Pombal, por cada eleição, percebemos que havia uma acirrada
disputa pelo poder local e uma paixão desenfreada pela sigla partidária. O
partido era o primeiro sinal que o eleitor levava em conta para decidir o seu
voto. Consequentemente, os candidatos filiados à agremiação ganhavam
gratuitamente o voto sem promessa de qualquer recompensa e outras formas de
favorecimentos após o resultado do pleito.
Notadamente, as eleições sempre foram
uma festa cívica. O povo apoiava as cores da bandeira partidária. Os
apaixonados pela sigla criavam, inventavam e parodiavam letras e musicas que
enalteciam as virtudes do candidato assim como as proposituras de ações e os
serviços prestados no setor profissional ou comercial dos candidatos.
Muitas vezes presenciamos, na eleição de
Avelino os amigos de certa condição financeira rateando cotas, fazendo caixinha
a fim de manter campanha na rua sem que houvesse interrupção por falta de
obstáculos financeiros, e até para comprar cigarros para o próprio candidato ou
comprar a garrafa de pitu e pagar o conhaque para aliados. Avelino nunca foi
considerado um candidato bancado pelas elites, salvo o apoio logístico do
Senador Ruy Carneiro e o Deputado Janduhy Carneiro, era o candidato apoiado
pela ‘ala das fraqueiras’, ou seja, da classe média e baixa ou dos menos
favorecidos. A classe estudantil progressista sempre apoiou incondicionalmente
Dr. Avelino no decorrer das campanhas eleitorais, segundo a fonte do
ex-secretário da gestão de Avelino e atualmente vereador José Williamis
Queiroga Gomes participaram ativamente da campanha os jovens
progressistas:.Luiz Josias de Sousa, Antônio Elias de Queiroga, Plínio Leite
Fortes, Valtércio Alencar de Sousa, Dimar Silva, José Egesipe Silva, Raimundo
Idelfonso Silva, Geraldo de Oliveira Nóbrega, Francisco Gomes Rodrigues,
Ignácio Tavares e o próprio José Williamis de Queiroga Gomes.
As eleições Municipais, realizadas no
dia 11 de agosto de 1963, concorreram como candidato a prefeito: Avelino Elias
de Queiroga, vice-prefeito, Nelito Silva, pelo PSD; Francisco Pereira Vieira,
vice-prefeito, Paulo Pereira Vieira, pela UDN; Atêncio Bezerra Wanderley,
vice-prefeito, Odilon Lopes de Sousa, pelo PTB.
Uma das campanhas eleitorais mais
emocionantes no meio do chamado povão. Havia aclamação de alegria e momentos de
tristeza, verdades e mentiras, heroísmos e artimanhas. Uma disputa política de
cartas abertas entre o pobre e o rico, o orgulhoso e o caridoso. A campanha
eleitoral transcorreu de formal eloquente que a música do pleito ainda hoje é
considerada um hino para todas as campanhas posteriores, inclusive, já fora
repetida numa forma de imitação ou plágio à letra, não ao carisma do candidato.
Vamos rememorar a letra da música de campanha:
De sapato
Ou sem sapato,
De chinelo
Ou pés no chão,
De gaivota
Ou bicicleta,
De lambreta
Ou caminhão.
Eu vou, eu vou
Eu vou não tem mais jeito
Votar em Avelino
Para ser nosso prefeito.
Isto vai dar certo
Esta animação:
Avelino e Nelito
Pra nossa união!
Fizemos várias tentativas e procuramos
diversas pessoas que nos fornecessem a letra das músicas de campanha dos outros
candidatos, dentre tantas, o nosso querido professor Arlindo Ugulino, por
problema de saúde, não se lembrou, nem tampouco a sua esposa, D. Sônia
Medeiros. No entanto, nos forneceu uma vaga lembrança de que, nesta campanha
específica, não havia música de candidato do lado dos concorrentes do Dr.
Avelino. Os comícios, a orquestra animava o evento político tocando os dobrados
e as propagandas volantes eram anunciadas com um disco de dobrados cívicos. O
restante era na voz crua!
O início da época do apogeu da liderança
do Dr. Avelino Elias de Queiroga no Município de Pombal, o pátio da Sede
Operária, local que se dava apuração dos votos, estava lotado de
correligionários e adversários esperando o resultado final, com um entusiasmo e
uma vibração nunca vistos em pleitos anteriores, contando somente com o apoio
escrachado e as tiradas repentinas da frasqueira, vencendo a eleição municipal
com uma maioria de 178 votos sobre o segundo colocado, Francisco Pereira
Vieira. Vejamos o resultado abaixo:
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba
Cargo: Prefeito
Eleições 1963 - 1º Turno
Resultado Municipal
Município: Pombal
Nº Candidato Partido / Coligação Votação
% Válidos Situação
Avelino Elias de Queiroga 2.952 43,35 %
Eleito
Francisco Pereira 2.774 40,73 % Não
Eleito
Atêncio Bezerra Wanderley 1.084 15,92 %
Não Eleito
Votos Brancos 147
Votos Nulos 96
7.053
11.034
3.981 36,08 %
Total apurado
Eleitorado
Abstenção
Relatório
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba
Cargo: Vice Prefeito
Eleições 1963 - 1º Turno
Resultado Municipal
Município: Pombal
Nº Candidato Partido / Coligação Votação
% Válidos Situação
Paulo Pereira 3.098 47,41 % Eleito
Nelito Silva 2.579 39,47 % Não Eleito
Odilon Lopes de Sousa 857 13,12 % Não
Eleito
Votos Brancos 461
Votos Nulos 58
7.053
11.034
3.981 36,08 %
Total apurado
Eleitorado
Abstenção
Relatório
Esta campanha eleitoral considerou-se
uma luta de Davi contra Golias ou de um tostão contra um milhão. No decorrer da
campanha os adversários distribuíram prótese dentária, chinelo, sapatos, cortes
de tecidos e dinheiro. Na véspera e no dia da eleição doavam carne de boi,
comida e transporte gratuito para os eleitores. Logo cedo, os cabos eleitorais
marcaram ponto nas principais chegadas à cidade dos eleitores que vinham da
zona rural e faziam os motoristas se dirigirem até a usina de Paulo Pereira
antes de ser encaminhados às secções eleitorais. Justamente, onde se dava a
compra de votos. Pelo resultado, verificou-se que Paulo Pereira Vieira,
candidato a vice-prefeito, pela UDN, eleito, obteve 3.098 votos mais do que o
Dr. Avelino Elias de Queiroga, uma vez que o voto era desvinculado.
Com aclamação do resultado favorável, os
avelinistas usando de ousadia e criatividade, que é uma característica do povo
de Pombal, compuseram a “música da vitória”. Pulavam e gritavam no meio da rua,
mulheres, homens e meninos vinham do Bairro dos Pereiros, outros vinham da Rua
da Cruz, Rua do Fogo, Rua de Baixo e do Bairro de Nova Vida. No centro da
cidade, os bares e botecos lotados com todos aclamando a vitória de Avelino.
Seu Inácio Fogueteiro comandava a pipoqueira de bombas e foguetões que
explodiam e a fumaceira cobria as nuvens. O povo cantava na grande passeata a
música da vitória ao som da orquestra, que abaixo transcrevemos:
Sobe na escada,
Desce na bandeira
Candidato rico
Ficou na poeira.
Tanto retrato
Mais sem valor,
Tanto dinheiro
Mais não ganhou.
E Avelino
Tão pobrezinho
Mais sem trair
Foi vencedor!
Dr. Avelino |
O rolo compressor de votos do Dr.
Avelino derrubou o poderio econômico da oligarquia Pereira, apesar de ter sido
eleito o vice-prefeito, Paulo Pereira Vieira, quando se percebe perfeitamente
quanto foi grande a influência do poder econômico e barganha de votos que
prevaleceu no decorrer de toda a campanha eleitoral.
Avelino morreu pobre, não se tem
conhecimento de ter deixado um patrimônio financeiro. Nunca usou dinheiro para
compra de cabos eleitorais ou votos individuais. O seu discurso patenteava
pelos serviços médicos prestados à coletividade, que de tanto salvar vidas,
tinham as suas mãos milagreiras. O seu estandarte era o compadrio e a amizade
pessoal.
João
Pessoa, 10 de abril de 2016.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB.
scoelho@globo.com
Dr. AVELINO – A VITÓRIA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
4/11/2016 09:41:00 AM
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