Olimpíada é a festa do nosso funeral
João Costa |
João
Costa*
Para sua consideração - Caminhando pelos
corredores do shopping vazio de consumidores, certo amigo exultante com os
jogos olímpicos, apontando recordes e extasiado com a festa do esporte me
interpelou: você está com Dilma ou não está?
- Eu estou com Dilma, mas ela está?
Estou onde sempre estive, mas esta senhora está onde já esteve no passado?
Foram as respostas que encontrei.
A
Olimpíada é a belíssima festa do funeral de país que nos resta. Que enterremos os mortos – eles fedem! É uma
fala de uma peça de teatro, para observar que a presidenta que está sendo
deposta por um golpe parlamentar, escreve uma carta em que se compromete com a
realização de um plebiscito, transferindo assim para o povo a decisão mais
sábia - se é que há
O último plebiscito em terras
tupiniquins ocorreu em abril de 1993. O resultado daquela consulta é o sistema
político escroto híbrido que temos hoje, mas ouço meus botões para lembrar que
um ano antes daquele plebiscito, 22% da população consultada desejava a volta
da Monarquia, e os monarquistas obtiveram mais de seis milhões de votos,
inclusive o do meu amigo jornalista José Nunes. O povo certamente entendeu que
para ter um regime de castas, não precisava de Monarquia – bastava adaptar as
instituições.
Ao invés
de plebiscito proposto pro Dilma Vana, vamos ter, talvez, eleições para
prefeito e vereadores. O país tem dois presidentes, parcela significativa do
Parlamento é acusada de beneficiária de esquemas corruptos, inclusive o
Interino e alguns de seus ministros, abertamente acusados de receberem
propinas, cuja denúncia ou delação não vem ao caso para o Judiciário. Todos os
partidos estão engajados na disputa. E a narrativa aponta para eleições "normais".
Custa
acreditar que eleger prefeitos e vereadores seja algo mais importante ou vital
para o trabalho, a democracia e a verdade neste momento. Mas meus botões também
avisam que a tendência histórica do Brasil é a normalidade – nunca o conflito
ou a resolução dos seus graves e eternos problemas.
Custa
acreditar ou me convencer que eleger o alcaide ou alcaidessa de um de município
brasileiro hoje tenha a mesma envergadura da gravidade institucional do país.
Saber que o calçamento da rua ou a ausência dele, é mais importante para o
eleitor que a real possibilidade da perda de direitos trabalhistas e sociais. E
que o voto tem mesmo validade e vai expressar a vontade da maioria, se àquele voto
dado na última eleição não teve.
A
história desse golpe institucional não terminará no dia 26 de agosto com a
votação e resultados previsíveis no Senado Federal. A sua narrativa não tem
dono, nem condutor, porque a narrativa da História brasileira é surpreendente,
apesar da previsibilidade do espírito vira-lata. O povo consultado no
plebiscito de 1993 rejeitou a Monarquia e o Parlamentarismo.
Prevaleceu
esse monstro institucional híbrido, em que as coligações políticas se formam
para ganhar eleições e a estabilidade depende, e muito, do butim do estado – ou
das prefeituras. Em 1993 a restauração da Monarquia seria fácil, pois já
tínhamos “Rei do futebol”, “Rei da Jovem Guarda”, “Rei do Baião”, “Rainha dos
Baixinhos”, “Rei dos Calçados”, “Rainha da Primavera”, “Rei do Peixe” e até
“Rei da Cocada Preta”. Faltava apenas a figura do delator. E o delator é hoje a
expressão máxima da brasilidade. Restaure-se então a Monarquia - a Casa Grande
segue de pé.
*João Costa é radialista, jornalista e diretor
de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é
repórter de Política do Paraíba.com.br
Olimpíada é a festa do nosso funeral
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/22/2016 09:05:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário