Festa do Rosário de Pombal sem a visualização da PBTUR, mas é pra ser visto... COM OLHOS DE TURISTA...
Tarcísio Pereira |
Por
Tarcísio Pereira*
Tem uma coisa que eu nunca entendi: que
Nossa Senhora do Bonsucesso seja padroeira da cidade e não Nossa Senhora do
Rosário, que é quem dá nome à festa que mais tem badalado Pombal. Outra coisa:
a Igreja do Rosário me parece mais bonita do que a Matriz do Bonsucesso, sempre
um belo monumento que, segundo se diz na língua pombalense “foi construída
pelos índios”.
A Capela do Rosário que passa o ano
praticamente fechada com funcionamento somente aos domingos, perde para a
Matriz nos dias normais, mas vira o altar de adoração durante estes nove dias de
outubro enquanto a outra, relegada ao desprezo, fica fechada neste período e,
nas suas proximidades instalam-se as barracas mais pobres, as mais “profanas,
aquelas cujos frequentadores são os homens simples, os que vão tomar cachaça
com linguiça e
Não conheço a origem. Não em que ano
começou, nem como teve inicio. O certo é que a Festa do Rosário ¾ ainda que,
nestes últimos anos, tenha “perdido a graça” ¾ é uma tradição secular que
mantém acesa a sua chama no coração daquele povo, ou das pessoas de outras
cidades que já tiveram a oportunidade de conhecê-la. É como se essa festa fosse
a razão de ser de Pombal; é o evento anual em que a história tem registrado
grandes acontecimentos na vida dos indivíduos e da sociedade ¾ como casamentos,
crimes, visitas de personalidades ilustres ou passagens de artistas famosos.
Mas isto não me parece tão relevante
ainda: é apenas um detalhe que ilustra bem essa dualidade interiorana que nos
deixa sem resposta a vida inteira. O que acho importante, e oportuno neste
momento, é chamar a atenção para um aspecto que, como todo pombalense que morre
de amores pela terrinha em que se criou, me preocupa bastante: a tal
“modernidade” sobre um festejo antigo que, em determinada época me parecia a
magia da cidade.
Só vim atentar para este detalhe quando,
em 1980, vim morar em João Pessoa e aqui conheci nossa Festa das Neves. Uns
meses antes, todo mundo falava e eu achava mesmo que essa festa aqui na capital
era o equivalente da Festa do Rosário em Pombal.
Ledo engano, que me decepcionou
completamente e me fez perder, também todo o encanto daquilo que eu já tinha na
“festinha” de lá. A Festa do Rosário de Pombal, como diria o escritor
Graciliano Ramos, é algo que precisa ser visto “com olhos de turistas”.
Aqui, ao contrário de Pombal, não era (e
não é) todo mundo que sai de casa para ir passear no meio dos parques, beber
nas barracas e comprar roupas novas para exibir-se em público. Em outubro,
Pombal goza do privilégio de entrar em contato com o mundo e é nessa época que
os cofres dos lojistas engodaram. Esse contato se dá pelo que a cidade recebe
de gente de fora ¾ hoje, aliás, talvez não seja tanto, mas posso garantir que,
na época em que vivi por lá, tinha gente que vinha de São Paulo, Rio de Janeiro
e Brasília.
Durante as últimas três noites, as casas
ficavam fechadas porque todo mundo ia para rua, todos de roupas novas, todos
com roupas diferentes, porque se alguém se defrontasse com outro cujo figurino
fosse o mesmo, um dos dois voltava para casa morrendo de tristeza. Já
presenciei uma cena, ainda na minha infância, de duas moças que, pelo simples
fato de estarem com roupas idênticas, disputaram, no par-ou-ímpar, a condição
de quem deveria voltar. Quando deu-se o resultado, vi a derrotada voltar para
casa chorando, enquanto a vencedora ria e, ainda por cima, tentava ficar com o
namorado da outra.
Vejam, pois, a que ponto chegava, e
tenham uma ideia de como as famílias se entucavam nas ruas, de como as casa ficavam fechadas e
não se via um único aparelho de TV ligado. Hoje o quadro mudou, mas a tradição
permanece. É ainda nessas três noites, lá em Pombal, que os temíveis ladrões de
galinha se aproveitam para pular os muros. Era nessas três noites que muitas
meninas( virgens), engravidavam por trás dos monturos das casas e de lá fugiam
com o respectivo namorado, geralmente para o sítio de um parente, onde ficavam
acoitados até o entendimento das duas famílias pela consumação do casamento.
O sexo era a glória por trás daqueles
monturos, sobretudo nos anos 70, época em que “abafavam” as calças boca de sino
e os rapazes cabeludos. Como hoje já tem motel na cidade e os amores não são
mais proibidos, monturos silenciam sob o luar de outubro e os ratos, atentos ao
barulho das difusoras dos parques, trafegam à beira dos córregos enquanto as lagartixas
sobem tranquilos nos muros em que os casais se ralavam.
Falta dizer que é nessas três noites que
a Rede Globo de Televisão, se dependesse de Pombal, estaria fatalmente falida.
Afinal são as três noites mais esperadas do ano e tudo que ocorre ali, se
tivermos o cuidado de olhar com “olhos de turistas” de Graciliano Ramos, nos
parece o bastante para se fugir do trivial dos acontecimentos normais.
Finalmente essa festa resgata, a seu modo, alguns elementos da cultura
nordestina como os Reisados, os Negros dos Pontões, os Congos, as feiras
entulhadas de povo e vendedores de folheto, bonecos de barro, artesanato, tudo
o que se possa imaginar!
*Tarcísio
Pereira é um escritor brasileiro com diversas publicações. Tem 22 livros
publicados no gênero Romance, Teatro e Biografia.
Festa do Rosário de Pombal sem a visualização da PBTUR, mas é pra ser visto... COM OLHOS DE TURISTA...
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/15/2016 11:59:00 AM
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