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LEMBRANÇAS DO PADRE ANDRADE!

MACIEL GONZAGA*(foto) É de suma importância para as novas gerações conhecer a história. E a nossa querida Pombal é rica nesse aspecto. Por formação e vocação tenho sempre procurado trilhar por esse caminho de tenta buscar o resgate de vultos que marcaram época historicamente. Diante do que abordou João Costa, resolvi republicar esse artigo que dediquei à pessoa ímpar, sem igual: o padre Francisco Ferreira de Andrade, o nosso querido padre Andrade. Na hierarquia da Igreja Católica só chegou a Cônego. Era filho natural da cidade de Coremas. Dizem os seus contemporâneos do Seminário de Olinda, que foi um estudante exemplar, inteligente e de muitos conhecimentos adquiridos através da leitura. Mas, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), a conhecida trombose, que lhe deixou seqüelas. Perdeu parte da memória, todo lado direito do corpo ficou comprometido, perdeu o gosto pela leitura e ficou com o raciocínio também de certa forma comprometido. Ao se adaptar à nova vida ganhou algumas virtudes ou até mesmo defeitos: gostava de teimar e não levava desaforo para casa. Também passou a gostar do cinema brasileiro, principalmente das pornochanchadas de Oscarito, Ankito, Grande Otelo e, mais do que nunca do seu artista preferido, que era Zé Trindade. Quem do nosso tempo – década de 60 – não presenciou padre Andrade assistindo filmes à noite? Galdino Mouta - que eu considero do mesmo time de Genival Severo - gostava da “safadeza” - preparava um local especial para velho vigário-coadjutor, no primeiro andar do Cine Lux. Nas saudosas e alegres pornochanchadas, quando aparecia Eliana se beijando com Cyl Farney ou Zé Trindade em meio às vedetes quase nuas, padre Andrade optava por colocar uma das mãos nos olhos. Com os dedos bem espalhados, é evidente! Lembro-me de um fato que presenciei como “ajudante de Sacristão” que fui durante anos na Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, durante uma cerimônia de batizado coletivo, num sábado à tarde, em meio ao calor de quase 40 graus. Era início da época da Jovem Guarda e da moda dos cabeludos. Padre Andrade vai se dirigindo a cada um dos batizandos e, de início, faz duas perguntas seqüenciadas: “Homem ou mulher?” e “O nome?”. Chegando quase no final da fila, lá estava um rebento de cor negra, quase dois anos de idade, cabelos compridos e ondulados já caindo nos ombros. Desta vez o vigário-coadjutor – ele gostava de assim ser chamado - resolveu fazer uma única pergunta: - O nome da menininha? O pai, que vinha lá das bandas da Maniçoba, estufou o peito e bradou alto para todos ouvirem: - É macho, seu padre. E tem aquilo roxo! Foi uma explosão de risos na igreja. Padre Andrade reagiu incontinente: - Silêncioooooo! A Casa de Deus não é lugar de brincadeiras, mas, sim, de orações. Todos calaram. Padre Andrade prosseguiu com o ritual do sacramento. E perguntou: - O nome? Ainda gracioso, o pai respondeu dizendo que seria “Uashington” (a grafia deveria ser esta). Aí padre Andrade aproveitou para não ficar por baixo: - Nome de pobre é José, Manuel, Joaquim ou Severino. Por que botar um nome tão difícil nesse no menino? O pai mais uma vez tenta dar a explicação. - Seu padre, o negócio é o seguinte: lá em casa já são oito filhos e todos são na letra “U”. Dessa vez a mãe deles resolveu colocar esse nome difícil. Fazer o que, né? O vigário-coadjutor, para não perder o bom humor, reagiu: - Já que queriam um nome com letra “U” porque não colocaram URUBÚ. Chico Almeida, que estava presente e seria um dos padrinhos na mesma cerimônia, deu uma gargalha que estrondou por toda Igreja Matriz. Padre Andrade olhou para o Sacristão Odorico e perguntou: - Gostou? Eu, que estava como acólito (aquele que acompanha e serve, na Igreja Católica, aos ministros superiores) no batizado não entendi nada. Tempos depois, refazendo a história é que compreendi tudo o que acontecera naquela ocasião. Padre Andrade, apesar da sua saúde debilitada, era apenas um homem de bom humor, que gostava de brincar, teimar, mas que em nenhum momento tinha a intenção de denegrir ou humilhar alguém. Como vigário-coadjutor prestou inestimáveis serviços à Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso e à comunidade católica de Pombal, cidade que escolheu para trabalhar como servo de Deus até os últimos dias de sua vida. Quem o conheceu de perto só guarda boas lembranças. E, com certeza, o Soberano guardou no seu Reino um lugar especial para o nosso querido e inestimável padre Francisco Ferreira de Andrade. *Jornalista, advogado, apresentador de TV e Professor.
LEMBRANÇAS DO PADRE ANDRADE! LEMBRANÇAS DO PADRE ANDRADE! Reviewed by Unknown on 5/24/2008 05:10:00 PM Rating: 5

2 comentários

Anônimo disse...

Marciel, muito bom o seu texto. Vamos tentar resgatar mais nomes de personaldiades de Pombal. Eu busco na minha memoria nomes e fatos que possam trazer esse povo de volta as lembranças do povo de Pomba. Parabens peloo texto.
jerdivan

Anônimo disse...

Estimável Clemildo

Fiquei muito emocionado com o artigo sobre nosso pai, me trouxe muitas recordações do tempo de Pombal e do seio de nossa família. Saudades... Um forte abraço do seu irmão Carlos Brunet de Sá e Família.

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