A CRUZ DA MENINA DE POMBAL (MARIA 1872 + 1877)
Verneck Abrantes |
Verneck
Abrantes*
Suplício e cena de antropofagia lembra A
Cruz da Menina de Pombal, a qual está registrada no inquérito processual com
apenas um nome: Maria. As narrações que se faziam da sua breve e desventurada
passagem pela vida, vinha sendo repassadas de boca em boca, até que, no início
dos anos de 1960 oficializaram-se os fatos, momento em que o historiador Wilson
Seixas encontrou nos arquivos do cartório do 1º ofício da nossa cidade, parte
do processo contra a mulher Donária dos Anjos, que no período da famigerada seca
de 1877 foi presa e quando interrogada, alegou em sua defesa que para não
morrer de fome, matou a criança e
O Jornal estadual O Publicador, de 24 de abril de 1877, noticiou:
“A 27 de Março próximo findo a retirante
Donária dos Anjos encontrou na casa do mercado da cidade de Pombal a menor
Maria de cinco annos de idade, levou-a com o maior carinho para sua casa,
próxima ao cemitério; ahi chegando, decapitou a mesma menor, enterrou a cabeça
e comeu a carne do corpo da sua victima! Presa, Donária confessou este
horroroso crime. Está sendo processada pelas autoridades da cidade”.
O inquérito com os fatos verdadeiros, a
fim de apurar a responsabilidade do ato criminal e insanidade mental da jovem
que praticou o crime, assim foi descrito:
“O Promotor Público da Comarca de
Pombal, usando da faculdade que lhe confere a Lei, vem perante V.Sa., denunciar
a Donária dos Anjos, pelo fato que passa a expor: chegando a denunciada, com a
sua vítima, em seu antro, matou-a por meio de sufocação, decepou-lhe a cabeça,
reduziu o corpo a diversos pedaços de carne, cozinhou parte deste, que comeu,
guardou outros em uma moita onde foram devorados pelos cães. Num riacho que
passa a pouca distancia do Cemitério, enterrou, à sombra de uma oiticica, a
cabeça de sua desditosa vítima, que foi exumada”.
A Menina Maria, com apenas cinco anos de
idade, com certeza estava procurando algo para comer, em frente à Casa do
Mercado, localizada na antiga Rua do Comércio, a qual estava desabastecida por
falta de víveres. Em sua distração, Maria estava a brincar com outras crianças,
quando foi levada para o local do crime, com a promessa de receber algum
alimento para saciar sua fome.
A Cruz da Menina de Pombal |
“Que era natural do termo Piancó e ali
residia, mas que se achava nesta cidade, quando foi presa, para onde se tinha
retirado por causa da seca. Respondeu ter 18 anos de idade e que cometeu o
crime oprimida pela grande fome que a afligia, e que se achava arrependida de o
ter praticado”.
Da Menina Maria, foi preservada sua
cabeça, mãos e pés (“por serem amargos”). O destino final e a história de vida
de Donária dos Anjos, é incerto, sabem-se que foi condenada e permaneceu presa
por um tempo indeterminado na Cadeia Velha de Pombal, hoje Casa da Cultura.
Depois, debilitada e com sintomas de loucuras, devido às conseqüências dos
infelizes anos de fome que a afligiu, passou a viver emocionalmente perturbada
pelo remorso do horrendo crime que praticou, depois, com o tempo foi solta,
momento em que retornou ao município da sua terra natal, aonde naturalmente
veio a falecer, marcada pelo resto da vida pela barbárie cometida.
*Escritor e
Pesquisador pombalense
A CRUZ DA MENINA DE POMBAL (MARIA 1872 + 1877)
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/05/2016 02:57:00 PM
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