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DE VOLTA A JOVEM GUARDA...SAUDADES!

CLEMILDO BRUNET* Gosto de lembrar as coisas boas do passado e quem não gosta? Recordemos, pois, aquele que foi o maior programa jovem de todos os tempos da televisão brasileira nas tardes de domingo, que entraria para nossa história como Movimento “Jovem Guarda”. O Programa Jovem Guarda na TV Record em 1965 sob o comando do rei, Roberto Carlos, do Tremendão Erasmo Carlos e da ternurinha Wanderléia, ecoou não somente pela música; mas também pela política que era tema principal dos anos sessenta. A juventude estava dividida em duas alas: A mais intelectualizada, que assistiam a programas como o fino da bossa de Elis Regina e Jair Rodrigues na TV Record e não perdiam um Festival da Canção; e das camadas populares, esta bem mais numerosa, que curtiam os discos e programas daqueles jovens que tocavam à sua maneira um rock básico ao modo de Beatles, Rolling Stones, Beach Boys e outros. Era a Jovem Guarda, que passou a ser uma marca e não apenas o nome de um programa. Chegou a conquistar fãs tão fiéis que até hoje sustentam seus artistas, independentemente de eles terem discos novos lançados ou de contarem com a grande mídia ao seu lado. O Movimento sempre foi forte, Sempre vendeu muito mais discos que a bossa nova e a MPB em geral. Quando se observa a vida de seus artistas todos têm carro bonito, boas casas, mesmo sem ter disco na praça. Esses artistas souberam cultivar seu público e não dependem de crítica, de matérias em jornais, enfim, não depende da mídia da zona sul carioca. A imprensa pode não dar valor, mas o público dá. Eles vivem de fazer shows. O Renato Barros, do Renato e Seus Blue Caps, por exemplo, não tem disco novo na praça e recebe royalties baixos dos relançamentos em CD dos velhos vinis, mas faz shows de quarta a domingo no Brasil inteiro. A Jovem Guarda não deve ser encarada apenas como um movimento musical pleno, ela também inspirou mudança de comportamento; em pouco tempo, a moda adotada pelos apresentadores tinha se espalhado pelo país. Caças colantes de duas cores em formato boca- de- sino, cintos e botinhas coloridas, minissaia com botas de cano alto, bem como seus gestos e gírias – broto, carango, legal, coroa, cuca, barra limpa, barra suja, lêlê da cuca, mancada, pão, papo firme, maninha, pinta, pra frente e “é uma brasa, mora?”. Ela deve ser vista também como uma reunião de vários artistas, empresários e produtores que apostavam no emergente rock’n’rool como um fascinante meio musical de expressão, assim como, o mais novo nicho mercadológico para ganhar o coração da juventude. A efervescência e o sucesso que o rock fazia entre os jovens no mundo todo, fizeram a recente indústria midiática brasileira render-se ao estilo e veio a ser chamado aqui no Brasil de “Iê-Iê-Iê”. Guardo na lembrança os momentos vividos nessa época, pois a Voz da Cidade, adentrava os lares pombalenses com o Programa BROTOLÂNDIA que ia ao “ar” no horário de 12 às 14 horas e com índice de audiência muito elevado. As músicas mais tocadas eram de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Wanderley Cardoso, Renato e Seus Blue Caps, Ronnie Von, Os Incríveis, Deny e Dino e tantos outros que começavam a surgir como astro na música. É o caso de Agnaldo Timóteo que arrebentou com a canção “Siga em Paz”. A produção e apresentação do Programa eram minhas. Após o Programa, íamos para a casa de dona Rosa, mãe de Massilon e Maciel Gonzaga, a fim de ouvir um Programa da Jovem Guarda apresentado por Paulo Rogério na Rádio Borborema de Campina Grande, em frases soltas ele citava as gírias dos artistas e cantores do Iê-Iê-Iê e no outro dia repassávamos aos nossos ouvintes entre uma e outra música. Detalhe: (só nós ouvíamos a Borborema no horário da tarde em Pombal pelo rádio de seis faixas de dona Rosa). Para quem viveu essa época há de considerar que foi um tempo maravilhoso. Um tempo que éramos felizes e não sabíamos. Crianças, jovens e adultos deixavam-se embalar pelas canções românticas lentas e de ritmos balançados, cheias de candura e ingenuidade, um fenômeno que conquistou três gerações. Em 2005 nas comemorações dos 40 anos da Jovem Guarda foi gravado um DVD com alguns cantores e compositores da época. A Lilian Knab da dupla Leno e Lilian, em seu depoimento no disco, diz o seguinte: “era muito divertido, porque a gente encontrava todo mundo, a gente ria muito, se divertia muito, namorava muito, tudo ali naquele nosso ambiente que era uma coisa muito tranqüila, muito sadia e até um pouco ingênua”. É interessante notabilizarmos fatos históricos que marcaram a MPB e a música POP no nosso país. Uma começou no rádio na década de vinte “A velha Guarda” e a outra na televisão brasileira “A Jovem Guarda” na década de sessenta. São marcos histórico da nossa música de qualidade que perdura até hoje, atravessando séculos e que serão lembradas pelas gerações vindouras, pois ainda tem muito o que se ouvir e contar sobre elas. Sou um eterno saudosista e como se fosse o personagem, me situo nos versos do poema escrito por J. G. de Araújo Jorge, que transcrevo na íntegra, lembrando com saudade do tempo da “JOVEM GUARDA”. Eu tenho um coração um século atrasado, Ainda vive, a sonhar... Ainda sonha, a viver... Acredita que o mundo é um castelo encantado e Criança vive a rir batendo de prazer... Eu tenho um coração – um mísero coitado Que um dia há de por fim, o mundo compreender... É um poeta, um sonhador, um pobre esperançado que habita no meu peito e enche de sons o meu ser... Quando tudo é matéria e é sombra, ele é uma luz... Ainda crê na ilusão...No amor...Na fantasia... Sabe de cor os versos que compus... Deus pôs-me um coração com certeza enganado; é por isso, talvez, que ainda faço poesia Lembrando um sonhador do século passado! E saudade não tem idade! *RADIALISTA. Contato: brunetco@hotmail.com Web. www.clemildo-brunet.blogspot.com
DE VOLTA A JOVEM GUARDA...SAUDADES! DE VOLTA A JOVEM GUARDA...SAUDADES! Reviewed by Clemildo Brunet on 12/11/2008 09:21:00 PM Rating: 5

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