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ROMANTISMO AINDA EXISTE?

CLEMILDO BRUNET*
Parece que sim, parece que não. Os românticos são criticados sendo tratados como se fosse coisa do passado. Alguns acham que ser romântico é ser cafona, já não dá para os dias de hoje. Este é um dos motivos pelos quais o mundo passa por inversão de valores. Vez por outra, quando vem à lembrança das coisas boas do passado nas quais há imperfeições hoje, ouvimos alguém dizer: “Já não se faz como antigamente”.
A designação da palavra romantismo é o modo de se comportar, de interpretar a realidade e de agir. Caracteriza-se esse comportamento pelo sonho ou por uma situação emotiva diante das coisas, o que pode ocorrer em qualquer tempo da história. Ela determina uma inclinação geral da vida e da arte norteando um sistema e estilo delimitado no tempo.
Românticos para alguns é ser brega - sem ser chique. Ainda trago na memória o início dos anos 90 quando apresentava na Rádio Bonsucesso de Pombal, um programa estilo romântico identificado como “Coração Apaixonado”; inúmeras cartas chegavam à recepção da emissora contendo pedidos musicais e, diga-se de passagem, era cobrada a taxa de um cruzeiro por pedido; mesmo assim, em datas comemorativas não dava pra atender a demanda.
Hoje não temos nas nossas emissoras programa nesse gênero. As músicas tocadas na programação diária no rádio são as mesmas tocadas em outros horários, satisfazem apenas uns poucos que têm o privilégio de telefone ou internet, enquanto os que não dispõem desses meios, são preteridos. Fica difícil avaliar a audiência de hoje com a de ontem, mesmo salvando as proporções.
Meu amigo Genival Severo em seu programa na Rádio Maringá AM, “No Sertão da Paraíba” (Forró estilo pé de Serra) fazia uma apologia das cartas dizendo: “A prova da audiência de nosso programa são as cartas, elas não mentem jamais”.
No programa “Coração Apaixonado” costumava ler para meus ouvintes frases de um dos livros da coleção do poeta J.G. de Araújo Jorge, na qual ele exalta o romantismo definindo as características de quem é romântico.
“O romântico é antes de tudo um forte, justamente porque fortes são os que têm a capacidade de sentir”.
E o romântico é o emotivo, o sentimental, o que expõem o coração. Só ele enriquece a vida com as perspectivas infinitas do sentimento e da fantasia.
“Para os românticos, vida e sofrimento são palavras que se equivalem, que se identificam. São os que não têm medo, portanto, os que se aventuram”.
“Ser romântico é ser devaneador, poético, apaixonado. Então, somos todos nós”.
Nas décadas de 40, 50, 60 e 70 nos Carnavais o romantismo tinha seu ponto alto caracterizado nas letras das marchinhas, frevos e sambas. Quem não lembra: “Vou beijar-te agora não me leve a mal hoje é carnaval”... “Que é que vou dizer em casa quando chegar quarta feira de Cinza/ que é que vou dizer, que é/ com esse cheirinho de mulher” e por aí vai...
E os Carnavais do passado nas cidades interioranas? A cidade de Pombal já teve fama de um dos melhores do sertão. O desfile dos carros conduzindo foliões arremessando-nos confetes e serpentinas tanto nas ruas como nos bailes noturnos do Pombal Ideal Clube e sede Operária. O cheiro do lança perfume contendo cloreto de etila perfumado mantido sob jato de pressão barrufado no lenço para o porre, cujo aroma enchia o ambiente. Tudo isso embalado pelo romantismo das melodias que falavam de amor do Pierrô pela colombina.
O quanto de romantismo havia nas pessoas sentadas nos bancos das praças Getúlio Vargas e Centenária ouvindo as músicas românticas transmitidas nas noites pombalenses pelo LORD AMPLIFICADOR. Nesse cenário podíamos ver: O que tinha tempo para ler, ouvir música, conversar, discutir política, colocar os assuntos em dia e depois seguir pra casa na certeza de um novo amanhecer.
Viva quem é romântico com o romantismo que lhe é peculiar, pois o poeta diz:
“Dentro do homem mais seco e empedernido, do espírito mais cético e pragmático, do filósofo mais materialista, há um cérebro e um coração, para pensar, e para sentir”.
“Quem não for capaz de sonhar, de encontrar belezas, de amar, só passou pela vida, não viveu”.
*RADIALISTA.
ROMANTISMO AINDA EXISTE? ROMANTISMO AINDA EXISTE? Reviewed by Clemildo Brunet on 2/19/2009 08:32:00 AM Rating: 5

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