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ADEUS, LINDACI

Paulo Abrantes (Foto)
PAULO ABRANTES*
Passado o choque inesperado que eu sofri, com a notícia de sua morte, rememorando, hoje, as coisas da infância vieram-me à lembrança paisagens interessantes de minha amiga Lindaci e, acima de tudo, querida de todos que a conheciam.
Jamais alguém a viu triste, solitária. A sua alegria era constante e espontânea. Residia na rua Cel. José Avelino, numa casa de jardins floridos que ficava defronte a minha casa, a mesma rua que me viu crescer e que era também das famílias de Dona Maria Araújo e Vicente Farias, Dona Chiquinha e Saturnino Santana, Dona Sinhazinha e Santo Pereira, de Neném, Socorro de Misto Bezerra, de Vicente Cassimiro, de Ubaldo Marques, de Sargento Mota, de João Terto, de Queirogas, Bandeiras e de Antonio Medeiros.
Lembro de tardes maravilhosas, quando eu, Carlos Farias, Lourdinha Farias, Igeruiza, Igerusa, e Lindaci, passávamos a ouvir os grandes boleros de Carlos Alberto, no terraço lá de casa. Só parávamos quando Chico do Bazar chegava, ou quando ouvíamos o som do violino de seu Vicente Farias a espalhar-se por toda parte. Toda a vizinhança ficava enlevada e o silêncio ainda mais se fazia sentir. Uma palavra sequer ninguém pronunciava a fim de ouvir o som do instrumento no desempenho de verdadeiro artista.
José Américo de Almeida assim se expressava: “Se eu não puder criar a felicidade, criarei a alegria que é a imagem da felicidade”. Não sei de ninguém que tenha tido o espírito mais alegre e a amiga mais sincera que a sua. Ainda recordo parte da canção sentimental, que ela cantarolava acompanhado do bandolim de seu Vicente: “Sabe Deus, se tu me amas ou me enganas/ E na incerteza seguirei pensando se tu queres tão somente a mim”.
Também relembro o seu noivado com Chicozinho Alves que veio a ser o seu esposo e companheiro até a morte. Quase do seu tamanho, ativo, inteligente, trabalhava no Banco do Brasil, hoje é chefe do setor de Tributação da Prefeitura Municipal de Pombal. Depois de minha saída de Pombal, poucas vezes eu a vi. Ficaram fortemente amigos de minha irmã Ione, cujos laços dessa amizade fincaram raízes em seus filhos: Leonardo e Diego.
Após muitos anos, numa surpresa feliz, deparei-me com ela, aqui numa tarde quente de verão. Conversamos muito sobre a nossa terra, a sua mocidade, os seus familiares. Com o passar dos tempos perdi-a de vista, só obtinha notícias através de Ione.
Segunda-feira tive a notícia do seu falecimento. Naquele momento fechei os olhos e a vi debruçada na parede do jardim perguntando à hora da música para ouvir, rindo do tempo e fumando os seus cigarros.
Hoje, passado tanto tempo, vou ao velório e contemplo aquela imensidão de conterrâneos, interrogo a mim mesmo: onde estará aqui a minha amiga Lindaci? E como não a encontro, resolvo rezar para ela uma daquelas orações que minha mãe me ensinava, quando criança, à hora de dormir.
Adeus, Lindaci.
*Engenheiro Civil, Professor licenciado em Ciências pela UFPB e pós-graduação em Comércio Exterior pela FGV-RJ.
ADEUS, LINDACI ADEUS, LINDACI Reviewed by Clemildo Brunet on 6/10/2009 07:18:00 PM Rating: 5

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