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QUANDO A LUA ERA DOS NAMORADOS...




CLEMILDO BRUNET*

Já se foi o tempo em que se dizia que a lua é dos namorados. Entretanto, é necessário lembrar que esse corpo celeste, é a inspiração dos cancioneiros e poetas populares, emergentes das culturas dos povos, nas obras de arte, poemas, canções, religiões, histórias, romances, mistérios e superstições.

Na Bíblia a lua é descrita como obra da criação de Deus e contemplação dos homens. Disse também Deus: “Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos” Gn.1:14... “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem que dele te lembres e o filho do homem que o visites?” Sl.8:3,4.

E por aí vai. Para a maioria, a conquista do homem ao pisar o solo lunar há 40 anos, foi de somenos importância. Houve mais reflexo no imaginário popular, pois, as imagens do homem na lua foram banalizadas como um show de mídia e não como um avanço da ciência.

As palavras do astronauta Neil Amistrong “este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade”, não passaram de figura retórica. Mais do que a lua real onde ficaram as pegadas de Neil Amstrong e uma bandeira americana, a lua da cultura pop e do imaginário popular nos toca bem fundo do que a do espaço sideral.

Não é a conquista da lua pelo o homem como marco histórico e sim a conquista do homem pela lua, na essência; para se inspirar e compor em versos seu sentimento, olhando o céu azul, cintilado de estrelas em noites de lua cheia. Hoje sentimos saudades de quando a lua era dos namorados.

O saudoso musicista Heitor Villa Lobos grande e renomado compositor brasileiro, numa de suas excursões pela Europa liderando um famoso coral brasileiro fez uma apresentação em um dos mais conhecidos centros da cultura européia, o Teatro de Milão, na Itália. Todos que estavam naquele teatro guardavam silêncio demonstrando o interesse que tinham pelas as artes, principalmente a música.

Ouviam as apresentações que se sucediam, quando em dado momento, depois que o célebre coral regido por Villa Lobos, terminou de cantar “O LUAR DO SERTÃO” música e letra da autoria de um maranhense, Catulo da Paixão Cearense, toda platéia ficou de pé e aplaudiu demoradamente, a execução da referida canção, que pela magia da letra e música causou imensa admiração aquele seleto auditório.

Os Jornais da época, de toda a Europa, deram destaque ao fato. Não é sem razão que a canção Luar do Sertão é conhecida como o hino oficial do sertão nordestino. Coincidência ou não, Catulo da Paixão Cearense, teve seu ultimo desejo atendido: Morrer em uma noite de lua cheia.

No dia 13 de novembro de 1946, ás cinco e meia da tarde, quando a lua surgia sobre as águas tranqüilas da Baia da Guanabara, banhando de luz o Rio de Janeiro e o Brasil, naquele momento, ao som de um violino dolente, que solava “Luar do Sertão”, ele era sepultado, no Cemitério São João Batista. Cumpriu-se então o que disse Catulo da Paixão Cearense, em um verso de sua canção.



“Se Deus me ouvisse com amor e caridade,

Me faria esta vontade, o ideal do coração:

Pra que um dia,

Se a morte me surpreendesse

E eu morresse numa noite

De luar do meu sertão.”

Se hoje a lua não é motivo para a inspiração das religiões ou mitos, sabe-se que ela é imbatível nas histórias fantásticas do universo. No cinema, nos sonhos, na literatura e na tradição oral, de modo mágico e encantado, ela está presente para o bem e para o mal. Inúmeras histórias de amor foram construídas sob o pretexto desta frase: “Olha como a lua está linda!”

Mas também, não há conto, filme ou livro de terror que não dê destaque a lua em algum momento. A mesma lua das histórias de amor tem também seu aspecto sinistro. Falar da lua é lembrar os trovadores, a poesia de rua, dos seresteiros, dos violeiros e dos grandes literatos. É a musa inspiradora das canções e da poesia.

Ainda trago na lembrança os dias saudosos dos meus verdes anos, onde em minha cidade se registrava as mais belas serenatas nas noites enluaradas. Algumas ao som de um plangente violão, outras ao som das radiolas portáteis. Por incrível que pareça a primeira radiola portátil que chegou a esta cidade, pertencia a minha irmã Claudete Brunet de Sá (saudosa memória), a marca era Motoplay. Eu utilizava esse aparelho sonoro alimentado à pilha, para tocar os antigos discos de vinil nas serenatas em noite de lua.

Pois bem, neste pedaço de chão sertanejo, banhado pelo brilho do luar no firmamento límpido e esplêndido de estrelas, na beleza, encanto e suavidade da noite, ouvíamos os versos da canção que acordou tantas namoradas...




“Lua, manda a tua luz prateada

                       Despertar a minha amada

                       Quero matar meus desejos

                         Sufocá-la com meus beijos...

Dia 24 deste mês, é noite de “lua cheia”, veja o fulgor do mais belo luar do ano. O luar do mês de agosto, parecendo um “sol de prata, prateando a solidão”; na bendita comparação do poeta; reminiscências do passado, quando a lua era dos namorados...

Pombal, 20 de agosto de 2010.

*RADIALISTA

QUANDO A LUA ERA DOS NAMORADOS... QUANDO A LUA ERA DOS NAMORADOS... Reviewed by Clemildo Brunet on 8/20/2010 06:56:00 AM Rating: 5

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