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O LIVRO DE IGNÁCIO E JERDIVAN

W.J. Solha*

W.J. Solha
Cine Lux e suas matinês de domingo; a Rádio Difusora Maringá com anúncios do Bazar Imperial , do Zuza Nicácio; o rubacão sob as ingazeiras; o bandolim do Bideca; a Festa do Rosário; os nêgos dos espontões; o trem-cargueiro fazendo manobras pra recolher o óleo da Brasil Oiticica; a fábrica de macarrão Matocir; a torrefação de seu Antonio Rocha perfumando a cidade toda; a guitarra elétrica de Chico de Maroquinha zoando no Pombal Ideal Club; o boi esquartejado pra alimentar os eleitores de Chico Pereira; a banda de música do maestro Saturnino; as cheias do rio Piancó atingindo a Rua de Baixo; as saias plissadas das alunas da Escola Normal Arruda Câmara; o Bar Centenário cercado de tamarineiras, marizeiras, trapiás, acácias e mata-fome; a juventude na sorveteria de Bernardo; o barraco Padre Cícero – do Zé de Lau; a marinete de Lauro Paixão; o ronco do avião da Sanbra; a quermesse na Rua dos Pereiros; as peripécias de Cícero de Bembém; os pasteis da velha Petronila; os sequilhos de Nanzinha; a bodega de Maria Noca; o cego Rosendo que passa vendendo pão-de-ló; Chiquinho Formiga construindo um terço das casas da cidade; o Léo Formiga revelando uma chapa fotográfica; os fícus benjamim da Praça Getúlio Vargas; o flamboyant , o araçá e o jarmineiro-branco na casa do Dr. Atêncio, perfumando toda a sua rua; os seis filhos mudos de João Josias; o rio passando entre as ingazeiras e mufumbos; o campo de futebol cercado de avelós; o imenso pé de castanhola do colégio João da Mata, com galhos que chegam ao chão; as lojas Simpatia, Paulista, Casa dos Pobres, Casas Bandeira e Camisaria do Tiquinho; o Padre Oriel, o Padre Solón, o Professor Arlindo Ugolino; o caixeiro-viajante propondo ampliação e colorização de fotos; o parto feito por dona Maloura; a mamadeira contendo leite da jumenta Rochinha; a Rua Nova, Rua do Comércio, Rua do Rio, Rua da Cruz, Rua do Fogo, Rua dos Pereiros, os bairros Guindaste, Cacete Armado, Nova Vida e Alto do Cruzeiro; o vendedor de quebra-queixo que aceita garrafas e arame como pagamento; a Luzia Carne Assada – de cabelos vermelhos cheio de bobs, o batom escarlate, unhas pintadas, sapato de salto alto, bolsa Chanel, muito pó de arroz, seguida pela procissão de moleques em algazarra; Bisel, o sacristão de lábios leporinos, Bico Doce – coveiro que espera os defuntos dentro das covas; a dor de veado curada com folha de pinhão roxo; o sal na boca, usado pra passamento, também chamado de biloura; o Forró do Love, no coração do cabaré; as andanças boêmias de Sagaz, Otony Rocha, Zé Avelino, Raminho de Leovegildo e João Santana; as famílias Capa Porco, Pandeiro e Maniçoba; Zé do Bispo jogando baralho com João Gualberto, Bocage e Pololô; a revelação de que antes do Cine Lux houve um outro, na cidade, chamado Vitória.

Para quem é de Pombal ou tem Pombal na memória – feito eu - como se ela fosse uma segunda mãe ( mais amada do que a primeira), as crônicas do cotidiano que Ignácio Tavares de Araújo e Jerdivan Nóbrega de Araújos publicam agora no livro “Em Algum Lugar Chamado POMBAL” são a mais pura delícia das delícias.

(11-10-2010)

*Escritor, dramaturgo, ator e poeta paulista,
radicado na Paraíba.
O LIVRO DE IGNÁCIO E JERDIVAN O LIVRO DE IGNÁCIO E JERDIVAN Reviewed by Clemildo Brunet on 10/13/2010 05:23:00 AM Rating: 5

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