banner

HONRAS PÓSTUMAS A DOIS IRMÃOS...

Expedito F. Lacerda
A FRANCISCO FELINTO DE LACERDA (FRANCISQUINHO):

Meu irmão:

Você foi ao encontro de Deus em uma terra distante. Da mesma maneira que viveu, cercado de mistérios, de encontros e desencontros, você partiu. A morte lhe veio assim silenciosa, sem nenhum alarde, enquanto você dormia. Não pudemos lhe dar o derradeiro abraço de despedida, quando o soubemos outros familiares mais próximos e até por nós desconhecidos, já o conduziam à morada derradeira. Se é possível, para o nosso consolo, indagamos: onde ficou o Francisquinho, o espaçoso, que quando chegava, com sua presença enchia uma casa com sua voz forte, decidida, exigente? Em que mundos se escondeu a ponto de as poucas notícias que nos chegavam eram envoltas em sombras? Você passou mais de vinte anos sem dar notícias alguma para a família, mas você era lembrado e respeitado por todos como um mito. No coração do nosso pai, principalmente, você ocupava um lugar especial, e eu que era o irmão mais moço, assim como os filhos que você deixara, povoávamos o nosso pensamento com as poucas recordações que tínhamos compartilhadas de você. Mais tarde soubemos por pessoas com quem você encontrou, nessas longas caminhadas errantes que, sem se identificar, perguntava por todos nós, que não nos esquecera nem a sua terra, sempre atento às notícias de Pombal.

Mas não é desse Francisquinho dos últimos anos, que eu quero aqui lembrar. Quero lembrar o Francisquinho de minha infância, do Francisquinho que viu mais longe o meu futuro, trazendo-me para João Pessoa a fim de prosseguir em meus estudos, formar-me e ser na vida o que hoje sou e a quem agradeço ternamente. Permitam-me partilhar com vocês um pouco do depoimento que outros irmãos me davam, com quem Francisquinho teve maior convivência que eu: ele era o irmão mais velho, talvez o mais querido e o mais próximo a meu pai, de sua inteira confiança e que amava a minha mãe como um filho muito carinhoso, cuidadoso para com os irmãos, atento às suas necessidades, bem humorado, cheio de idéias, criativo, empreendedor, amigo dos amigos, solidário. Esse Francisquinho os anos não conseguiram arrebatar de nós; ele sempre foi assim, tentando resolver problemas de outrem, chegou ao ponto de esquecer-se de si mesmo, totalmente desapegado aos bens materiais. Não tinha nem uma morada certa onde pudéssemos entrar em contato com ele. Não nos procurou nos momentos de dificuldades por que certamente passou. Devem ter sido muitos! Acredito que no coração de cada um dos nossos irmãos cresce um pouco mais a sensação de nossa impotência, pois eu mesmo sinto profundamente, não ter podido fazer nada por ele. O nosso afeto e compreensão não foram suficientes para mantê-lo ao nosso lado e poder fazê-lo gozar os últimos anos de vida com mais conforto e tranqüilidade.

Você, Francisquinho, escolheu o caminho mais difícil, o da solidão talvez, das distâncias, dos silêncios... Só Deus, com sua infinita onipotência e sabedoria compreendeu suas razões e, como Pai amantíssimo, lhe recebeu em seus braços e lhe amparou na hora certa, concedeu-lhe o que nós, seus irmãos, em nossa pequenez não pudemos dar: deu-lhe a Paz que sempre buscou.

Descanse no repouso eterno, meu irmão. Saudades!...

ESPEDITO FELINTO DE LACERDA
João Pessoa-PB, 24/ 03 / 2011


A “DONA CESSA”, poetisa imortal da Academia Pombalense de Letras, no 30º dia de sua morte:

A poetisa e imortal Maria do Bom Sucesso Lacerda Fernandes, que saiu do nosso convívio e hoje está com Deus todo poderoso, no mundo celestial, juntamente com seus pais, irmãos e amigos, recebe as homenagens póstumas que a sociedade pombalense, amigos e parentes lhes prestam nessa hora de tanta dor pela sua perda. Junto a nós, Pombal continua de luto e silencioso. Como é difícil encontrar pessoas com tanta dedicação à cultura, às letras e artes de nossa terra!

Incluindo-me às homenagens prestadas a essa filha ilustre de Pombal, com quem tive, como irmão, o privilégio de compartilhar momentos de discussões intelectuais e de trabalho, quero falar um pouco sobre essa irmã, amiga, companheira muito amada e admirada por todos nós: “DONA CESSA”. É sempre uma tentativa de descobrir os mistérios que a morte deixa irrevelados, e uma tentativa de chegar à posse do seu espírito. Aqui estou, prometendo aos senhores, ser breve e, ao mesmo tempo, tornar-me comparsa da protagonista desta homenagem. Como todo ser dotado de inteligência e sensibilidade aguçadas, “DONA CESSA” foi múltipla: mestra, pintora escritora e poetisa. Mas o que vou chamar atenção em sua pessoa, nesse momento, não foi essa multiplicidade comum nas pessoas intelectuais e emotivamente ricas, mas a relação dos seus “eus”, possivelmente díspares, uma unidade espiritual rara, que a vida e a obra exibem sob forte luz: o fato de ela clarear caminhos alheios, a sua atividade como poetisa.

Durante muitos anos, “DONA CESSA” foi Professora do Ensino Fundamental, iluminou muitos caminhos, orientando os alunos na leitura, ajudando-lhes a formar o espírito crítico, alargando-lhes os horizontes, a visão de mundo; preparando-os para o futuro Era no espaço da cultura que a dualidade em “CESSA” se resolvia, na vitória de um ser humano em participar do destino de outros seres humanos, preocupada em servi-los, em repassar o seu conhecimento para os amigos, apontar caminhos e prepará-los para as suas atividades. Precisamente nesta preocupação intelectual, que para nós se tornou histórica, residia o seu “sentido existencial”.

Não satisfeita por dispor apenas da possibilidade de incluir os escritores e poetas pombalenses entre os escritores paraibanos, não se conformando, queria um espaço de tempo maior para que os nossos poetas e escritores tivessem a oportunidade de conhecer o mais largamente possível os autores do nosso estado. O seu empenho foi grande para incluí-los nas academias de Letras e Poesia, e ela foi uma das primeiras acadêmicas pombalenses. Foi uma batalhadora, juntamente com a Dra. ONÈLIA ROCHA QUEIROGA, para que fosse criada a Academia de Letras de Pombal. Sua iniciativa foi fundamental e ainda hoje colhemos o fruto dessa brilhante idéia.

Com que alegria ela participava dos trabalhos acadêmicos! Sentia-se muito feliz com isso. Foi a oportunidade de informar sobre autores que ela conhecia muito, alguns ainda vivos, seus amigos e pares na Academia Paraibana de Poesia. Gostava de organizar eventos na Academia de Letras de Pombal na qual ela era a Presidenta e convidar alguns de seus membros para proferir palestras e poesias. Convidava, também, outras pessoas, professores, estudantes a vir a Academia para, nessa oportunidade, mostrar-lhes os monumentos, pontos históricos e apresentar-lhes essa casa de cultura, para conhecerem os acadêmicos, para que eles sentissem a humanidade que há em cada um, reconhecessem que não é o fato de alguém ser ou não considerado imortal que o abismo que existe no ser humano, deixará de existir...

Todos nós que a conhecemos, sabemos da grande paixão que ela nutria por Cecília Meireles, de modo que, por ocasião da escolha dos membros para a Academia de Letras de Pombal, ela ficou com a cadeira da referida escritora.

Outro fato que mostra a dedicação de “DONA CESSA”, o seu compromisso com a Poesia e com a formação cultural de nossos conterrâneos era sua preocupação em explorar a poesia vinculada à história. Para tanto, mesmo com os parcos meios de que a Academia dispunha, conseguia que os amigos adaptassem textos de autores pombalenses e os encenassem. Nunca esquecerei: num fim de tarde, vi vários amigos em sua casa, ao seu redor. Aquilo despertou minha curiosidade, fui informar-me: eles eram os atores de uma peça que estava sendo encenada sobre a “Semana Santa”. O teatro era a sua casa, o público e atores, os seus amigos. Fazia tudo isso em silêncio, sem alarde.

Inteligente, competente, comprometida com o seu trabalho e com as letras, amiga dos que estavam sempre ao seu lado com quem sempre manteve um bom relacionamento, interessava-se bastante pelo progresso deles e ao descobrir-lhes talento literário e poético em algum, incentivava-o, partilhava com ele a alegria da criação estética e com muito orgulho divulgava entre os colegas os textos por ele produzidos.

São estes alguns episódios da vida de nossa amada “CESSA” que nos acodem à memória que eu quis partilhar com os senhores neste instante de homenagem e de saudades. E como as veredas por ela trilhadas no campo do magistério, das letras e, sobretudo, da poesia, certamente, a lembrança de todos aqueles amigos ou colegas que com ela conviveram se ilumina da luz suave com que dissipou as trevas do desconhecimento e da insegurança; os que ficamos saudosos vamos tentando seguir os seus passos.
Não poderia deixar de citar uma de suas Trovinhas feitas em Homenagem a Pombal pelos 137 anos de Emancipação Política. CESSA tinha o coração dedicado a Pombal. Leiam!

TROVINHAS
Oh, minha cidade querida
a Ti eu rendo louvor
nesta data florida
porque é grande o meu amor!

Neste festivo dia
quero a Ti homenagear
com amor e simpatia
e poder também te abraçar!
Cessa Lacerda Fernandes.

Fique com Deus “DONA CESSA”, tua lacuna ninguém ocupará no nosso coração.

Te amei, te amo e te amarei sempre
Do irmão, amigo e admirador.

ESPEDITO FELINTO DE LACERDA 
João Pessoa-PB, 24/ 03 / 2011
HONRAS PÓSTUMAS A DOIS IRMÃOS... HONRAS PÓSTUMAS A DOIS IRMÃOS... Reviewed by Clemildo Brunet on 3/24/2011 08:58:00 PM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion