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TIÊ



Onaldo Queiroga
ONALDO QUEIROGA*

O tempo voa, galopa veloz e impiedosamente não nos concede o direito de reviver o instante que se foi. Olhamos para trás e tantas coisas já ficaram pelo caminho, momentos difíceis e outros felizes. Pessoas que hoje se encontram distantes, mas que outrora foram importantes no nosso cotidiano. Assim é a vida, hoje aqui, amanhã alhures. Amigos de ontem e amigos de hoje.

Focado nesse contexto, sentado na areia da praia, olhando o mar, o meu pensamento viajou no tempo. Veio, então, a lembrança, que ontem, Tiê, a senhora me colocou nos seus braços. Andou comigo pelas calçadas da minha terra Sertão. Apresentou-me como o sobrinho amado. Nas horas das refeições, muitas vezes a senhora organizou o meu alimento. E quantas noites a senhora não armou a rede e, no balanço dela, me colocou para dormir, cantando uma cantiga de niná: ?Xô, Xô Pavão. Sai de cima do telhado, pra ver se esse menino dorme cedo e sossegado?.

Recordações, elas foram assim emergindo e, nesta viagem pelo tempo passado, também veio-me a lembrança de que quando eu era criança a senhora costumava me levar para as vaquejadas, época em que eu já andava com um chapéu branco de couro. Lembro-me que foi através da senhora que vi pela primeira vez a apresentação de um Bumba Meu Boi e de uma Ciranda, evento que ocorreu na lateral da Igreja do Rosário, na cidade Pombal. Acompanhada de suas amigas Firmina Neta e Gláucia, sempre que ia à praia, também me levava. Recordei-me ainda que, no seu casamento, fui eu quem entrou na Igreja levando as alianças.

Nas asas do pensamento, recordei-me do seu modo de ser. Mulher inquieta, desprendida das coisas materiais, focada em ajudar a todos, sem se preocupar com o retorno que poderia auferir. Obstinada, nunca havia algo impossível, pois sempre tinha uma saída para os problemas, e o impressionante é que, um a um, eles eram resolvidos.

E ali eu estava, ainda olhando o mar, que se encontrava calmo, sereno e a conversar comigo. De repente um carrinho de som, daqueles de vender CDs piratas, passou, e uma música tocou a minha alma. O som era da sanfona de Flávio José, a música ?Caboclo Sonhador?. Naquele instante, veio-me a mente que aquela canção era uma de suas preferidas. Aliás, a senhora sempre me ensinou que na vida devemos ser um caboclo sonhador, e que não queiram mudar o nosso verso, que devemos ser devotos do Padim Ciço Romão, Tiete do Rei do Baião e que deixem o nosso verso ecoar na avenida.
D. Raimunda, Tiê e Onaldinho
Tiê, era assim que, carinhosamente a chamava quando criança e, ainda, hoje continuo a chamá-la. O silêncio e o olhar distante da realidade jamais terão o poder de apagar o seu exemplo de vida. A senhora nos ensina que não basta sofrer, pois é preciso, acima de tudo, converter a dor em veredas de luz. Por isso, agradeço a Deus a sua existência, guia de todos os meus tempos.

*Pombalense, Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Capital.
TIÊ TIÊ Reviewed by Clemildo Brunet on 4/26/2011 06:21:00 AM Rating: 5

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