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DESVENDADO O PARADEIRO DOS PATOS E DO PEIXE DA PRAÇA DO PIRARUCU DE POMBAL

Eronildo Barbosa

Antiga Praça do Pirarucu
Por Eronildo Barbosa*

Na última segunda-feira, 14 de agosto, publiquei no blog do Clemildo Brunet e no site da Rádio Liberdade de Pombal um artigo em que analisei a importância da Praça do Pirarucu para uma geração de garotos de Pombal da qual eu fazia parte. Entre outras coisas lembrei que havia nesse logradouro público um pequeno aquário com um grande peixe.

Minha mãe, dona Zuíla, filha de Luís Barbosa, que mora em Campina Grande, informou-me que também havia nessa praça alguns patos e gansos que ficavam retidos em um pequeno cercado de madeira.

Disparei um email para José Tavares perguntando se ele não tinha alguma pista que me ajudasse a descobrir o paradeiro dos patos e do peixe que habitavam a Praça do Pirarucu.

Ele me orientou a procurar o seu tio, Ignácio Tavares, o boêmio mais antigo em atividade da terra de Maringá. Enviei um email para Ignácio cercado de cuidado.

Grosso modo eu perguntei o que ele sabia sobre o destino do peixe e dos patos que viviam na Praça do Pirarucu, que provavelmente desapareceram na virada da década de sessenta para setenta, do século anterior, sem deixar vestígios.

Poucas horas depois recebi um email de Ignácio Tavares. Ele não entrou em detalhes sobre pato ou peixe, apenas narrou uma história hilariante sobre essa praça.

Contou que, certa feita, o prefeito Azuil Arruda, convocou o guarda da Praça do Pirarucu, Otacílio de Sousa, mais conhecido como Diasa, apreciador da boa e velha pinga, pai do locutor Zeilto Trajano, para informá-lo que estava arrependido de ter colocado os peixes na referida praça.

Tudo porque o povo da cidade passou a chamar aquele logradouro de Praça do Pirarucu. Falou, ainda, que isso era uma ofensa porque ele tinha homenageado aquela praça com o nome do Monsenhor Valeriano, tio da sua esposa, homem muito importante e culto, e o povo não respeitava a sua nobre iniciativa.

Diasa ouviu aquilo calado, porém, depois, informou ao prefeito que o povo estava certo porque o Padre Monsenhor Valeriano estava tão velho que mais parecia um pirarucu. O Prefeito saiu rindo do ambiente e não voltou mais a reclamar do nome que o povo escolheu para a praça.

Na quarta-feira recebi um novo email de Ignácio Tavares. Informava ele que sabia o destino dos patos e dos gansos. Entretanto nada conhecia sobre o sumiço do pirarucu.

Ignácio abriu o coração e contou detalhes de como roubava os patos. Falou que seus amigos Salatiel Marques, Pedoca de Deca, Curinha, Manasses, Nego Sabino, Luis Camilo, Arnaldo Ugulino, Bebê de Antonio Gomes, Sagaz, entre outros, sabiam que Diasa, o guarda da praça, gostava de cachaça.

Com muito cuidado faziam chegar ao velho guarda uma garrafa de Pitú. Poucas horas depois o vigilante, de “fogo”, estava dormindo no banco da praça ou em casa.

Sem vigilância, claro, ficava mais fácil o trabalho. Bastava colocar um pedaço de pão ou milho em um anzol e colocar para o pato beliscar. Depois era só puxar a linha do anzol que o pato vinha junto. Em outras oportunidades a ave era fisgada à mão.

Na seqüência era só levá-lo para a casa de Salatiel Marques e colocá-la na velha panela de barro.

Com esse método eles surrupiaram todos os patos da praça, porém, dois velhos gansos continuaram lá desafiando seus principais predadores.

Uma noite, de chuva, eles resolveram pegar um dos gansos. Destacaram Nego Sabino para cumprir a nobre missão. Passado pouco mais de uma hora nada do ganso e nem do Nego Sabino.

Ignácio Tavares resolveu ir ao local para saber o que aconteceu. Chegando lá encontrou Sabino, em cima de uma velha escada, todo beliscado. Os gansos resolveram enfrentar no bico o seu algoz.

Nessa noite os gansos escaparam da panela, porém, na noite seguinte, um sábado, Ignácio providenciou um reforço suplementar para enfrentar as aves. Até o guarda da praça, Diasa, participou dessa ariscada operação.

Os gansos foram diretos para o forno. Nego Sabino ficou cuidando do “rango”. Depois de umas voltas pelos bares da região central de Pombal o grupo voltou à casa do Sabino para saborear o assado.

Ao abrirem o forno perceberam que os bravos gansos estavam completamente tostados, portanto, imprestáveis para o consumo humano. Nego Sabino continuou dormindo.

Sobre o desaparecimento do pirarucu as informações de Ignácio são vagas e imprecisas. Ele relata que sua “equipe” tentou capturar o pirarucu mais de uma vez, porém, não consegui tirá-lo da água. O velho peixe pesava mais do que um homem.

Sem demonstrar firmeza na informação, Ignácio Tavares acredita que o velho pirarucu terminou a sua vida numa panela da fazenda Assento da Pedra, do pai do prefeito, onde o chefe do executivo municipal, Azuil Arruda, gostava de passar o final de semana.

Foi instigante entrevistar Ignácio Tavares sobre o paradeiro dos patos e do pirarucu da minha praça preferida. Depois de quarenta anos o mistério foi finalmente desvendado. Provavelmente porque o crime prescreveu.

Porém, ao invés de ter encerrado a conversa com Ignácio, inventei, inadvertidamente, de perguntá-lo também sobre o roubo dos patos de Chico Caetano. Aí ele arrepiou.

Falou-me que não tinha nada com esse assunto e que nessa época morava em João Pessoa. Alertou-me também que Cícero de Bembem, o mais famoso ladrão de galinha de Pombal, não teve participação nenhuma na operação de roubo desses patos.

Que eu fosse procurar essa informação com outras pessoas. Até me deu uns nomes. Mas...

Eis aí um episódio da história social da terrinha que merece ser investigado. É um tema muito relevante, certamente.

*O autor é Doutor em Educação e Professor Universitário. Mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
DESVENDADO O PARADEIRO DOS PATOS E DO PEIXE DA PRAÇA DO PIRARUCU DE POMBAL DESVENDADO O PARADEIRO DOS PATOS E DO PEIXE DA PRAÇA DO PIRARUCU DE POMBAL Reviewed by Clemildo Brunet on 8/22/2011 09:41:00 AM Rating: 5

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