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O ENTARDECER EM POMBAL

Paulo Abrantes
Paulo Abrantes*

Meu pensamento me levou para um rápido tour em Pombal. Comércio, negociantes, tecidos, panelas, potes e cavalinhos de barro na feira de sábado e o espiritual misturado com o mundo que não para. Sei que os tempos são outros. Fiquei tomado e envolvido com a paisagem de fogo cruzando o horizonte de Pombal. É simplesmente o ocaso que desponta lá longe com seus múltiplos traços de cores que alimentam sonhos e viagens da alma. Dia que morre sepultando, ás vezes, nas brumas de seu manto alguma efêmera ilusão de felicidade, que, contudo, reanimou, aqueceu e iluminou corações aflitos, desolados...

Sol que se põe. Ocidente policrômico, de revérberos morrentes, que acende em muitos a chama consoladora da esperança e injeta, noutros, a sombra mórbida de meros desenganos.

Entardecer. “Até amanhã”, para alguns: adeus perpétuo, para outros. Alegrias e tristezas que vão e que vêm, quais volúveis e frenéticos colibris que fluem e refluem, em intercalados vôos por sobre as flores dos vergéis desertos.

Ocaso na minha terra. Cortejos de sonhos queridos que se vão sumindo no horizonte além, como, no pélago azul, ou nevoento, lentamente escapam em fileiras os pequeninos barcos e velas acenando ao arrojo das vagas e dos ventos.

Entardecer. Ocaso. Sol que se põe. Nostalgia. Saudades. Esperanças. Longe das cidades, debandada de pássaros para os ninhos, pachorrentas vacas regressando aos currais, cabras ligeiras buscando os seus redis. A voz do cuidadoso Tadeu estridulando na Serra do Moleque para rebanhar a criação matreira enfarada dos pernoites no chiqueiro. O chão verde dos campos desertos empardecendo – os tênues e rarefeitos pingos de luz se apagando de sob as copas. As águas do rio Piancó sumindo pelo estirão do leito, até se perderem de vista numa curva distante. As duas torres da Igreja Matriz, vistas do altinho de Dona Neca – uma eminência mística isolada -, falando pela voz do sino, numa saudação ao ângelus, em reverência ao Supremo Criador do Mundo.
O Entardecer em Pombal. Em tudo, um misterioso matiz de silêncio e de saudade. Em tudo, um convite à oração, para celebrarmos a presença de Deus entre nós, na hora mais expressiva e comovente da natureza.

*É engenheiro civil e escritor pombalense.
O ENTARDECER EM POMBAL O ENTARDECER EM POMBAL Reviewed by Clemildo Brunet on 8/25/2011 09:24:00 AM Rating: 5

Um comentário

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Mais uma vez o Paulo nos supereende com um belíssimo texto. Parabens e continua com nos propocionando esses momentos

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