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A QUENGA E A CATEMBA

Zé Ronaldo
POR ZÉ RONALDO*

Nos cafundós do nosso pacato sertão nordestino, a de se dar a mão a palmatória, elemento rústico de madeira, que serviu muito tempo para as seções de torturas quando a criança queria aprender a ler. Assim sendo ,afirmamos com tamanha categoria, a sapiência do homem rude do campo através da sabedoria popular, e como se não nos bastasse a culinária sertaneja nos leva a degustar pratos deliciosos que mais parece manjares dos deuses, para estes pratos, é claro, que na maioria das vezes lá está ele o famoso “ coco “ que segundo o dicionário aurélio significa: “ fruta do coqueiro, em especial, o do coqueiro-da-Bahia, largamente utilizado na culinária brasileira”.

E como o nosso bravo povo sertanejo é criativo, um mestre na arte da cocada de coco, chama-se Zezinho de Neco Sabiá, que ralava coco todas as tardes para produzir suas saborosas cocadas, vendo mestre Zezinho lascando o coco e raspando a quenga me veio na mente a utilidade das catembas e a sua semelhança com a política atual.

Em épocas de gangaço a catemba era usada para se tomar café, servia de concha improvisada para se tirar o feijão da panela de barro, e na política a coitada ganhou tantos adjetivos que nem é bom lembrar, se o candidato prometer e não cumprir ganha logo um enorme palavrão acompanhado de uma grande cusparada, amasseando os dentes, logo após uma bicada de cana que o matuto tomou, escancara a boca e fala “ FILHO DE UMA QUENGA” , se o político quebra financeiramente, perdendo seus bens materiais no investimento furado que fez para a sua candidatura, tentando projetar a sua imagem na mídia há quem também o diga: “ O BOLSO DELE TÁ MAIS RASPADO QUE QUENGA DE COCO “ catembando aqui e ali ensaia longos discursos que antes mesmo de chegar ao fim do raciocínio já lhes rachou como catemba batida na pedra o seu quengo, e o povo se dispersa.

Quando coloca o famoso estrato de perfume “ cassimiro buquẽ “ para abraçar seus correligionários um menino ao sentir aquela fragância exalando pelo ar lhes dirige a inocente pergunta: “ O SENHOR COMEU COCO HOJE ? E ele coitado para ser educado passa a mão na cabeça do moleque e responde: “ PORQUE MEU FILHO ? “ Imediatamente, o moleque com um sorrisinho simples de quem está lambendo rapadura solta o berro: “ PORQUE O SENHOR ESTÁ CHEIRANDO A QUENGA”.

Quenga, catemba e coco compõe o adereço que ornamenta o cenário imaginário da mente do homem do campo, afinal de contas, o grande “ Euclides Da Cunha “ já dizia : “ O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE “ E é por ter esta fama de forte que costumava colocar a farinha na catemba acompanhada tradicionalmente com um taquinho de rapadura. Se no nordeste tem catemba e se a catemba também é quenga cheguei a simples conclusão que a política é uma quenga dessas bem safadinha que não guarda má- guas nem rancores , brigam, brigam e no final comem na mesma catemba, para aliviar as dores.

Portanto, se no coco tem catemba em forma de côncavo e convexo, na política a catembada tem paralelas avulsadas, e o matuto é quem tá certo, dando nela uma cagada, usando-a como pinico no aperto das madrugadas. Já a molecada brinca nos barreiros quando chove de fazer bolinhos de barro na velha quemga quebrada, é arte ou é catembada ? Também vira tamanquinhos com um cordão de rede enfiada para os meninos brincarem, mas no meio de um comicio é uma arma mortal quando jogada a distância na fronte do candidato faz um corte tão profundo e bota pra o hospital, isto é o poder da quenga depois que vira catemba nas mãos de um marginal.

*Artista Popular
A QUENGA E A CATEMBA A QUENGA E A CATEMBA Reviewed by Clemildo Brunet on 11/12/2011 06:34:00 AM Rating: 5

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