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PAREJA ( II )

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*
Em 1996 o mundo conheceu definitivamente Leonardo Pareja. Gostava de viver o perigo. Dizia que a morte lhe rondava: “Eu desenharia uma tatuagem da morte na minha pá esquerda, para me lembrar que ela anda atrás de mim. A morte está na esquina. Eu ando sempre no meio do mato, lá não tem esquina”.

Afiava seu discurso contra o sistema de execução penal, passando pela justiça, polícia e toda estrutura carcerária. Dizia que só havia ladrão por causa do receptador, mas era raro se encontrar um preso.

Após praticar vários seqüestros e cinematograficamente arrancar um parceiro seu de um presídio de Belém do Pará, ele termina preso e levado para Goiana-GO.

Falante e articulador, logo conseguiu se tornar líder dos presos. Na época, o controle da prisão estava nas mãos do Cel. Limons Filho, que era criticado pelo Juiz da Execução Penal - Isaac Neto. Surgem acusações mútuas. Com o desentendimento, o sistema ficou incontrolável.

Diante disso, formou-se uma comissão constituída do Presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, Desembargador Homero Sabino, do Secretário do Sistema Prisional, de Coronéis da PM e de Juízes e Promotores.

Em 28/03/1996, a comissão chega ao presídio. Ao adentrar, é surpreendida com a ação dos presos. Todos são feitos reféns. Instalada a rebelião, os reféns se isolam num Pavilhão. Os não rebelados são levados para o Estádio Serra Dourada.

Pareja, afirma: “Eu não sou o líder da rebelião, mas da negociação. Atrás de mim tem um alicerce feito por Cezinha, Ferinha, Ceguinho, Tico, Eduardinho, Juquinha e Chulé. Essa é a voz do comando”.

A rebelião demora vários dias. Pareja convence os presos à libertarem Cel. Limons. Com as câmeras voltadas para a rebelião, ele sobe até o alto da caixa-d´água, hasteia a Bandeira do Brasil e com um violão toca e canta “Admirável Gado Novo”. Após alguns dias, de posse de diversos carros, Pareja e os demais rebelados saem do Presídio com os reféns num comboio que após algumas horas se separa, o que redunda na recaptura de todos.

O Presidente Homero, declara: “Na primeira noite vocês não sabem o pavor que nos invadiu. Na minha cela tinha mais de trinta drogados, com armas brancas soprando maconha. Somente no terceiro dia eu encontrei-me com o Pareja e passei a ter um relacionamento mais estreito com ele. Não quero ornar o Pareja. Mas só estamos vivos graças a Deus e a ele”.
“Talvez, Pareja sabia que estava escrevendo uma história curta e por isso, exagerou em suas atitudes”. O discurso revolucionário e as denúncias graves não eram valorizadas, apesar de muitas serem verdadeiras.

. No dia 09/12/96, Pareja estava tomando café, escutou o grito de um amigo, dirigiu-se ao local e foi fuzilado com oito tiros pelo o seu fiel escudeiro Eduardinho. Confirmava-se, assim, por ironia, a sua máxima: “Bobo é o homem que confia em outro homem”.

*Pombalense, Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB. 
PAREJA ( II ) PAREJA ( II ) Reviewed by Clemildo Brunet on 12/05/2011 06:24:00 AM Rating: 5

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