Democracia Mórbida
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
No período do governo militar, o mesmo do regime de exceção, em que
as garantias individuais e sociais eram restritas, ou mesmo ignoradas, teve apoio
dos partidos políticos existentes na época (1964), com participação efetiva
dentre os apoiadores do antigo PSD (Partido Social Democrático) e UDN (União
Democrática Nacional), sendo o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), principal
opositor ao novo sistema implantado. Com a posse do General Humberto de Alencar
Castelo Branco, 26° presidente do Brasil, em 15 de abril do mesmo ano e o
avanço da oposição nas eleições no ano seguinte, principalmente com a vitória
do Brigadeiro José Vicente Faria Lima, janista, para a Prefeitura de São Paulo,
considerado opositor ao sistema, em 22 de março de 1965, fizeram parte dos
motivos de extinção dos 13 partidos existentes, à época, e
criados 2 partidos
novos, pelo AI2 (Ato Institucional Número Dois), e do Ato Complementar Número
Quatro, de 24 de novembro de 1965. Sendo a ARENA (Aliança Renovadora Nacional),
dava sustentação ao regime militar, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro),
que congregava todas as correntes políticas contrárias ao regime e faziam uma
oposição permitida. O MDB, considerado um partido de atuação moderada, ante ao
sistema, conseguiu avançar com crescimento expressivo no governo do General Ernesto Beckmann Geisel, 29º presidente do Brasil, com esse fato os
militares se viram obrigados a acabar com o bipartidarismo.
Nesse
momento é bom lembrar aqueles que consideramos os maiores líderes que se mantiveram
na oposição e dentro da sigla com coesão na luta pela redemocratização
nacional. Fizeram parte do MDB nomes como
Ulysses Guimarães(SP), Tancredo de
Almeida Neves (MG), Teotônio
Vilela (AL), Oscar Passos (RS), radicado no Estado do Acre,
tendo sido o primeiro presidente nacional do MDB, Marcos Freire (PE), Itamar
Augusto Cautiero Franco (BA), 33° presidente do Brasil, Fernando Henrique
Cardoso (RJ), 34° presidente do Brasil, André Franco Montoro (SP), Francisco Alves Mendes Filho (AC), popularmente conhecido como Chico Mendes, seringueiro,
sindicalista
e ativista
ambiental, Orestes
Quércia (SP) Mário Covas Junior (SP), José Serra
(SP), Eduardo
Matarazzo Suplicy (SP), Ernâni doAmaral Peixoto (RJ), Nelson de
Souza Carneiro (BA), Miro Teixeira
(RJ), Pedro Jorge
Simon (RS) Paulo Brossard de Souza Pinto (RS), José Alberto
Fogaça de Medeiros (RS), Tarso
Fernando Herz Genro (RS), Roberto João Pereira Freire (PE), Humberto Coutinho de Lucena (PB), Rui
Carneiro (PB), Jarbas de AndradeVasconcelos (PE), Fernando
Soares Lyra (PE), Alceu de DeusCollares (RS), Henrique
Antônio Santillo (SP), Álvaro
Fernandes Dias (SP), José Richa (RJ), Roberto Requião de Mello e
Silva (PR), Cândida Ivette Vargas Tatsch (RS), Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho (PE), Dante Martins
de Oliveira (MT). Outros políticos ilustres também fizeram parte da história
desse partido que muito contribuiu para nos livrar das amargas, cabrestos e algemas
impostas pela ditadura militar. Daquele núcleo surgiram vários partidos, cada
um com sua corrente ideológica, caso do PT (Partido dos Trabalhadores), PDT
(Partido Democrático Trabalhista) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro). Esse último sendo um partido sucessor do MDB, continuou
aglutinando e recebendo políticos de ideologias distintas, tais como o
paranaense Roberto Requião, da esquerda-liveral, o desenvolvimentista Luiz
Henrique da Silveira (SC), o populista goiano Ires Rezende Machado, o conservador
José Sarney , e tantos outras correntes antagônicas. Depois do movimento das “Diretas
Já” e com um civil no poder, José Sarney de Araujo Costa, 31° presidente do
Brasil, há uma cisão interna no PMDB e é formado outro partido, PSDB (Partido
da Social Democracia Brasileira), constituindo-se esse novo grupo num partido
de ideologia da social-democracia com fundamentos parlamentarista, congregando políticos
com destaque para o ex-presidente da República, e sociólogo Fernando Henrique
Cardoso, à época senador por São Paulo (1988).
Foi nesse mesmo ano que o Congresso Nacional promulga a
nova Constituição, assinada pelo histórico presidente da câmara federal e
da Assembléia Nacional Constituinte,
deputado Ulysses Silveira Guimarães (PMDB). Era presidente do senado e do
congresso nacional, por força do sistema bicameral, federalismo, o
matogrossense do sul, José Manuel
Fontanillas (PMDB).
Esse foi o momento em que o
PMDB manteve o controle do poder executivo e legislativo nacional, com o presidente
da República, da Câmara e do Senado. Depois de 25 anos a história mantém o
curso natural, o Brasil continua com o seu federalismo capenga, com necessidade
urgente de mudanças na divisão dos seus recursos, prestigiando seus Estados
produtores sem esquecer os de recursos menores, sem protecionismo, mas
promovendo desenvolvimentos regionais, fomentando a produção para que suas
comunidades tenham no trabalho o direito de sobrevivência sem o
assistencialismo desmedido praticado no momento. Aproveito o trecho, abrindo um
parêntese para lembrar uma toada
nordestina escrita por Zédantas (José de Souza Dantas Filho) e musicalizada por
Luiz Gonzaga (Luiz Gonzaga do Nascimento),de 1959, mas retrata a seca que
assolou um pedaço do Brasil em 2012, intitulada
“Vozes da Seca”, letra original e com todas as nuances da linguagem
falada no sertão nordestino:
Seu
doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos.
Voltando ao tema
proposto, o quadro político atual e depois das últimas eleições, quando
participaram 26 partidos dos 30 registrados no TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), mostra o quanto é melancólico o atual momento político. Sendo 2013
um ano de mudanças nas administrações das duas casas do legislativo nacional,
são candidatos certos à presidência da câmara federal e do senado, com ampla
vantagem sobre outros prováveis concorrentes, ainda sem definições, o deputado
Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), pertencente ao clã dos Alves, candidato com
acusação de desvio de conduta, dinheiro em conta bancária no exterior, processo
no judiciário. Em substituição ao atual presidente, Marco Aurélio Spall Maia
(PT/RS). Para substituir o experiente presidente do senado, José Sarney
(PMDB/AP), chefe da oligarquia maranhense, 57 anos de vida pública, é apontado
pelo partido e favorável ao cargo, o senador José Renan Vasconcelos Calheiros
(PMDB/AL), já tendo renunciado ao cargo no período 2005/2007, em decorrência do
escândalo do Renangate, largamente divulgado na imprensa à época. Atualmente é
acusado por uso indevido da cota parlamentar, do senado.
As indicações do PMDB são
legais, mas, deixa uma incógnita no ar, por que indicar dois filiados para tão
importantes cargos, com esses currículos maculados nos seus históricos, quando
parte para recuperar a hegemonia política, com o vice-presidente da República
em exercício, Michel Miguel Elias Temer Lulia
(PMDB/SP), e o comando do legislativo nacional nas figuras dos dois indicados
aos respctivos cargos. Sabe-se que essas indicações são construidas dentro do
poder executivo, tornando os cargos subjulgados aos caprichos e imposições,
servindo de manipulação, se apequenando diante do poder central, quando devia
se equiparar para não desviar-se da sua função principal que é a fiscalização e
construção das leis do nosso país. O PMDB tem dentro do seu quadro de filiados,
políticos perfeitamente adequados e adaptados para exercerem as funções em
questão.
O Brasil precisa mudar seu raciocínio político,
prestigiar o novo, o que pode adicionar, não repetir erros antigos, se espelhar
no que realmente deu certo, continuar repetindo os mesmos erros com medo de
acertar com uma nova postura, é retroceder, temer, ser subserviente muitas
vezes aos receios de perder o poder. O mesmo poder que só vale se você puder
execê-lo de cabeça erguida, sem a dúvida do olhar para trás e ver fantasmas.
Qual é a necessidade atual, precisamos de uma
terceira ou quarta via que venha ou venham trazer um pouco de esperança na
condução dos nossos destinos, o modelo atual não serve, não adianta trabalhar
apenas o social, com um sistema político contagiado pela mentalidade corrupta
que tem predominado nos modelos de produção capitalista em todas as democracias
que se propuseram a usar o método aplicado no nosso país.
*Escritor e Poeta
Democracia Mórbida
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/27/2013 08:02:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário