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NO TEMPO DO VOTO CÍVICO E GRACIOSO

Ignácio Tavares

Ignácio Tavares*

A minha formação como eleitor livre e consciente vem do inicio dos anos sessenta do século passado. Nessa época o voto era uma manifestação cívica através do qual eram escolhidos prefeito, vereadores para  mandatos de quatro anos. As escolhas eram feitas em função do partido o qual o eleitor se dizia seguidor. Por sua vez os candidatos vinculados a esse ou aquele partido recebiam os votos de forma graciosa sem exigências de qualquer recompensa financeira, entre outras formas de favorecimentos.

As eleições eram uma festa cívica. O povo manifestava-se segundo as cores das bandeiras partidárias. Improvisavam-se letras e
musicas que enalteciam as qualidades bem como as proposituras de ações políticas dos respectivos candidatos. A primeira eleição municipal da qual participei foi a de 1962, quando Dr. Avelino foi Candidato. Alias participei da campanha não só como eleitor, mas, como ativo militante, pois o discurso de Avelino perfeitamente alinhado aos nossos anseios de mudanças naquela época empolgou a juventude progressista da terrinha.

Ao contrario do que acontece hoje, na eleição de Avelino o povo se cotizava para fazer caixa a fim de manter campanha na rua sem risco de paralisação. Avelino não era o candidato das elites, sim da classe média baixa e dos menos favorecidos pejorativamente denominados pelos adversários de “frasqueiras”. Ademais, Avelino recebeu apoio incondicional da classe estudantil progressista, que, em todo momento esteve ao seu lado nos comícios realizados na cidade e nos distritos.

Foi o único, quem sabe, e ultimo caso de manifestação política de rua de autenticidade cívica, em prol da candidatura de um líder popular. A estrela de Avelino brilhou, portanto, eleições seguintes, o único meio possível para enfraquecer a sua liderança foi o incentivo e prática do “voto mercadoria” que, infelizmente perdura aos dias de hoje. Avelino era pobre, logo não dispunham de recursos para concorrer com os “barões” da compra de votos.

Por outro lado, tenho a convicção de que se Avelino possuísse algum patrimônio financeiro, com certeza jamais usaria para comprar cabos eleitorais ou votos individuais. A sua grande arma era o discurso e os serviços médicos com o qual salvou muitas vidas, em particular das classes  mais pobre, despossuídas   do município. Era um homem de princípios em defesa dos quais era capaz de ir até as últimas consequências. Falo, porque o conheci de perto e privei da sua amizade.

O tempo passa e nada muda. O mercado do “voto” cresceu a uma razão exponencial, portanto, encareceu as campanhas a ponto de dificultar a participação no processo político eleitoral de pessoas pobres, entretanto, capacitadas e vocacionadas para o exercício do legislativo ou mesmo executivo. Isso mesmo, no mercado de compra de votos não há espaço para os sem dinheiro. Por esta e outras razões muita gente boa abandonou a política quando devia estar prestando valiosos serviços a comunidade da qual faz parte.

Não precisa investigar a ocorrência desse expediente nefasto  nas eleições municipais. Não se trata de um caso especifico de Pombal, pois nenhum candidato a eleições majoritárias ou proporcionais elege-se sem gastar rios de dinheiro. Muitas vezes os gastos são tantos que chegam a ultrapassar a soma dos salários que os candidatos vão receber, quando eleitos, nos quatro anos de mandato.

Por isso é comum encontrar candidatos eleitos sufocados, em razão das dividas contraídas junto a agiotas do lugar, que espertamente sabem aproveitar as oportunidades que o momento oferece para ganhar um dinheirinho a mais, em razão das escorchantes taxas de juros impostas aos  infelizes devedores. Vale a pena fazer política nessas circunstancias? Ah, não sei.

Diante de tudo isso se pergunta: é bom para o município, para sociedade quando existe um sistema político baseado na compra de votos? Não sei quem comprou votos na eleição passada, aqui em Pombal, nem tampouco pretendo saber. Apenas escuto conversa em rodas de esquinas, sobre o assunto, o que me deixa bastante preocupado, por uma razão muito simples: quem doa voto por dinheiro vende a sua própria consciência, pois  se trata de uma relação de troca de caráter moral/degenerativo, porque quem vende o voto uma vez, jamais deixará de fazê-lo.

Ademais, quem assim procede está dando um péssimo exemplo a filhos, netos, pra não dizer as gerações futuras.. Assim como existem os candidatos “fichas sujas”, existem também os eleitores “votos sujos”. Este voto é “sujo” nos dois sentidos, seja para quem vende assim como para quem compra.

Como seria bom se voltasse o tempo do “voto cívico”, hein?  Sonhar não faz mal a ninguém, não é? O meu temor é que os jovens eleitores estão ingressando no circuito eleitoral trilhem por esse mesmo caminho. Ai meu senhor tudo esta perdido. Não sei dizer de onde é que sai tanto dinheiro para financiar essas nefastas operações de compra e venda de votos. A cada eleição circula na cidade milhões e milhões de reais com a finalidade de comprar a consciência do povo. Qual é a moral que tem o eleitor pra cobrar do prefeito, do vereador, do deputado, a quem vendeu o seu voto? Nenhuma.

Conheço uma história de um deputado federal que sempre se elegeu através da compra de votos. Certe feita ao ser cobrado por um prefeito que lhe vendeu grande parte do eleitorado, em resposta explicou-lhe porque não havia  consignado nenhuma emenda no orçamento federal  em benefício do seu município: “olhe aqui senhor prefeito, não lhe devo nada, nem tampouco ao  povo do seu município, porque paguei muito caro pela votação que recebi, viu”? “Portanto o senhor nada tem a me cobrar, muito pelo contrario, tem muito a me agradecer pela dinheirama que coloquei em suas mãos”.  As coisas acontecem assim para quem faz do voto uma mercadoria venal, não é?

Moral da história, voto bom é aquele dado de forma graciosa. É aquele eleitor consciente de que é capaz de fazer a melhor escolha dos seus representantes no legislativo estadual, federal, municipal, bem como para administrar o estado ou o município. É o voto dado com o coração, jamais pelo dinheiro. O município somos nós, portanto ame o seu município da mesma forma que você se ama.  Assim sendo teremos um município  administrado por pessoas honradas devidamente qualificadas para conduzir o município aos caminhos da prosperidade onde todos  nós seremos beneficiados.

Não acredito que um vendedor, um comprador de votos durma em paz enquanto vida tiver. A consciência é a mais sublime manifestação da alma, cuja função precípua é reger as boas e más decisões.  Assim sendo é lícito dizer que, quando um ente qualquer vende o seu voto está vendendo a sua consciência, por conseguinte a sua alma. Neste caso está a por em prática uma má decisão no processo de escolha dos autênticos representantes da vontade popular. Ah, Bolinha, quanta falta você nos faz? Que pena, hein?

João Pessoa, 14 de Janeiro de 2013

*Economista e escritor pombalense 
NO TEMPO DO VOTO CÍVICO E GRACIOSO NO TEMPO DO VOTO CÍVICO E GRACIOSO Reviewed by Clemildo Brunet on 1/14/2013 06:14:00 AM Rating: 5

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