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MEIO AMBIENTE: CAPITAL VERSUS NATUREZA

Ignácio Tavares

Ignácio Tavares*

A penetração do capital no campo contribuiu para aumentar os índices de produtividade da agricultura brasileira até dantes inatingíveis. Isso mesmo, o capital faz-se presente nas suas diversas formas, tais como, máquinas, equipamentos, infraestrutura agrícola, bem como gerenciamento qualificado, sementes geneticamente melhoradas, defensivos de efeitos letais, adubos químicos, orgânicos, mão de obra qualificada, créditos, logísticas de transportes e comercialização, além das modernas práticas de manejo e
controle das diversas etapas das cadeias produtivas.

É evidente que nas últimas décadas houve uma verdadeira revolução na agricultura brasileira.  Seja, a adoção de novos modos de produção diferenciados do ponto de vista prático e teórico decisivamente repercutiu na melhoria dos retornos econômicos na mesma medida dos  investimentos realizados.

Os grandes mercados consumidores do mundo integram-se ao mercado produtor brasileiro formando assim a maior cadeia de agronegócio dos últimos tempos. Isso significa dizer que o Brasil de hoje, faz parte do seleto grupo que lidera a produção de alimentos, entre outras commodities, em escala mundial.

Assim sendo, é lícito dizer que, com o passar do tempo, as inovações tecnológicas ocorridas nas relações de produção no campo fizeram a agricultura brasileira crescer 247% nos últimos trinta e cinco anos ao atingir a marca dos 162 milhões de toneladas de grãos na safra 2010/2011. Há indícios de que esta safra que se avizinha, seja a de 2013, com certeza poderá haver novo recorde de produção, segundo as instituições responsáveis pelas previsões de safra.

Com efeito, esse crescimento espetacular da produção agropecuária nos últimos anos contribuiu para que o setor primário brasileiro passasse a desempenhar um papel importante no conjunto da economia nacional, não só como fonte geradora de emprego e renda, bem como de captação de divisas através das exportações.

Tem sido de fundamental importância para a economia brasileira esse auspicioso desempenho do setor primário nas três últimas décadas, mais precisamente a partir de 1994 quando a política de estabilidade econômica conseguiu equilibrar os preços relativos, com o advento e implantação do plano real.

Com efeito, a inflação, tal qual como era antes, passou a ser coisa do passado. Por conseguinte a estabilização dos preços permitiu aos empresários do setor fazer projeções de longo prazo dos custos e receitas, bem como da realização de novos investimentos sem o risco de defasagem orçamentária.

Por outro lado, em meio a toda essa euforia, o povo está a pagar um preço muito alto pelos estragos ambientais causados pela acelerada da penetração do capital no campo. Este preço atinge proporções alarmantes porquanto perdurar a insustentabilidade ambiental resultante da ocupação do solo via desmatamento para o uso de forma intensiva da terra para fins diversos.

Os órgãos ambientais há muito demonstram preocupações em razão do  descumprimento, por parte dos grandes produtores rurais, das leis que regulam os desmatamento para fins agrícola. Para ter uma ideia da dimensão do problema, há registros de que mais de sessenta milhões de hectares de terras estão em estado avançado de degradação por conta da rotatividade das áreas de pastagens. Ademais há denúncias de agressões causadas a fauna, a flora, por conseguinte ao próprio ser humano.

Apesar dos pesares, não obstante os malefícios em questão, o capital tem sido o principal motor responsável pela prática de uma agricultura competitiva atrelada aos grandes espaços de comercialização dos mercados interno e externos. Esses espaços permitiram que o Brasil se transformasse numa grande potencia do agronegócio da era contemporânea.

Hoje o Brasil ocupa uma posição de fundamental importância na segurança alimentar do mundo. Os preços das nossas commodities servem de referência para formação dos preços agrícolas no mercado mundial. As bolsas de mercadorias do mundo inteiro vivem de olhar fixo nas nossas previsões de safras a fim de fecharem seus negócios de médio e longo prazo.

É verdade que a agricultura moderna, do ponto de vista econômico e social, tem seu lado positivo, mas, também negativo. O lado positivo explica-se pela alta rentabilidade que a atividade oferece por unidade de capital investido.

Quanto o lado negativo explica-se pelo o elevado custo social, porque, se de um lado emprega mão de obra qualificada, por outro fecha postos de trabalhos para milhares trabalhadores menos qualificados. É o caso da cana de açúcar cuja mecanização tem subtraído milhares de empregos para trabalhadores não qualificados.

Há outros custos implícitos que a sociedade paga por conta dos efeitos colaterais causados pela agricultura moderna de resultados. Os produtos alimentares, em particular os hortifrutigranjeiros, até mesmo cereais, depois de colhidos guardam resíduos tóxicos capazes de provocar doenças irreversíveis nos consumidores desses produtos.

Ademais, o agrotóxico quando mal administrado contamina o lençol freático, os reservatórios que abastecem as cidades, alem de prejudicar a fauna e flora. Ainda pode provocar doenças neurológicas nos operadores de campo por conta da obsorção dos resíduos tóxicos que permanecem no ambiente de trabalho.

A fauna tem o seu preço a pagar. Já se observa  a extinção de micro organismos indispensáveis a fertilidade natural do solo, bem como de animais nativos, nas diversas regiões onde se instalou a agricultura moderna fundamentada no capital. Agora surge a pergunta: neste caso vale a pena retornar a velhas praticas agrícolas em nome de uma agricultura sustentável fundamentada na  preservação da natureza?

É pouco provável que isso venha acontecer, mas, a intervenção dos órgãos ambientalistas, fundamentada em legislações específivvas, com certeza, forçará a ocorrência de mudanças que poderão  amenizar a situação. A nova legislação que regula o uso do solo aponta nessa direção.

É isso mesmo, se capital sob as suas diversas formas tem suas mazelas, ruim com ele, pior sem ele. Se por acaso vier acontecer o fim da agricultura moderna baseada no capital intensivo, com certeza haverá um crise de abastecimento sem precedente na história do Brasil.

Isso porque os índices de produtividade da agricultura tradicional são baixos, portanto, a produção de alimentos seria incapaz de atender as necessidades de consumo de uma população, equivalente a quase duzentos milhões de pessoas, conforme o último censo.
Diante do presente quadro, no curto prazo, pouco se pode fazer no sentido de se implantar um sistema produtivo estritamente sustentável. Acredito que, com o passar do tempo, tendo e vista os avanços tecnológicos, num futuro não muito remoto, será possível praticar uma agricultura limpa, mesmo que seja de capital intensivo.

Com efeito, a possibilidade de uma agricultura limpa de resultados, fundamentada na sustentabilidade ambiental, vai depender, com certeza, dos avanços das ciências da natureza. São avanços que resultem na descoberta de novas técnicas de produção, assim como de novas espécies vegetais de ciclo curto, sobretudo resistentes a ação dos agentes externos.

A descoberta de cultivares de ciclo curto é fundamental, para a colheita de três ou mais safras no decorrer de uma única estação invernosa. Hoje o Planeta terra tem sete bilhões de bocas que precisam alimentar-se todo santo dia, não é? Portanto, a solução do problema da fome em escala mundial, necessariamente passará por mais uma revolução no modo de produção agrícola.

A comunidade cientifica internacional tem consciência do problema, por isso está a trabalhar exaustivamente na busca de encontrar soluções para mitigar a fomes dos terráqueos menos favorecidos que hoje somam um bilhão e algo mais, de pessoas.

O pessoal da futurologia acredita que a solução está próxima, pois, o sequenciamento do genoma dos seres vivos pode contribuir para mudanças revolucionárias na biologia animal e vegetal (biotecnologia, biogenética).

Desse modo vai ser possível alterar o ciclo de produção das gramíneas alimentares, das árvores frutíferas,  entre outros, bem como de animais cuja finalidade seja a produção de carne, entre outras necessidades. Portanto, não está muito distante de que um dia esse acontecimento fenomenal torne-se realidade. Neste caso a fome será coisa do passado e a mãe natureza com certeza dirá: muito obrigado! Espero que assim seja.

João Pessoa, 20 de Fevereiro de 2013

*Economista e escritor pombalense
MEIO AMBIENTE: CAPITAL VERSUS NATUREZA MEIO AMBIENTE: CAPITAL VERSUS NATUREZA Reviewed by Clemildo Brunet on 2/20/2013 09:06:00 AM Rating: 5

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