Arenas de tantos desperdícios
Genival Dantas |
Genival Torres Dantas*
Desde que começou a competição da
Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA (Federação Internacional de
Futebol Associado), com início em 1930, século passado, com 19 edições, em 16
países em 4 continentes diferentes, portanto, a desse ano será de número 20,
com a composição de 32 países participantes, a ser realizada em nosso país,
pela segunda vez, ocorrida a primeira em
1950, cujo desfecho para nós foi lamentável e melancólico, pela derrota histórica
que tivemos diante dos uruguaios que se consagraram campeões pela segunda vez.
O Brasil aprendeu, com o futebol,
nesses longos 84 anos de competição, ser uma das poucas unanimidades nacionais,
nesse esporte, e
é no momento de uma competição da
Copa do Mundo que o país esqueça as diferenças sociais econômicas e políticas e
forma um coro em apoio a nossa seleção canarinha que tem retribuído com grande
espírito de luta se constituindo na maior seleção vitoriosa com o título de
hexa campeão, privilégio exclusivamente nosso.
Com tristeza temos verificado que
o entusiasmo inicial está sendo corroído pela falta de um planejamento pontual
e direcionado aos princípios mais preliminares da eficiência que é o
entendimento e atendimento de metas preestabelecidas para consecução das obras
prioritárias, dentro de um projeto estruturante. Com previsionamento de custos
em 2010, data da avaliação de estudos, de R$ 23,52 bilhões, esse número já
supera R$ 25,58 bilhões, depois de retirado 17 projetos tanto na infraestrutura
como na mobilidade urbana nas cidades sedes, total de 12, além da modernização
de portos e aeroportos, do plano inicial.
Os movimentos de ruas, iniciados
em junho de 2013, quando a juventude estudantil e trabalhadores, reivindicavam
direitos e serviços mal feitos pelo governo brasileiro, fazia menção ao
patrocínio da Copa do Mundo de 2014, não pela sua realização em nosso país,
mas, pelos custos abusivos e despropositados apresentados, em detrimento a
outros investimentos tão necessários nesse momento de ganhos, por grande
parcela da população que com novo realinhamento na pirâmide social outras
necessidades se apresentam, mais desejos de novas conquistas, o que lhe é de
direito, passam a fazer parte dos seus sonhos e objetivos de consumo.
O questionamento é perfeitamente
oportuno quando verifica-se o destrato com o dinheiro público é uma prática
comum em todas as esferas governamental e tem se evidenciado no gerenciamento
do Projeto Copa, quando as arenas, denominação dos nossos saudosos estádios,
reformados ou construídos para essa finalidade, tem se arrastado durante o
tempo e agora que não há mais tempo para novas dilatações de prazos há uma
verdadeira correria para entrega desses monumentos construídos apenas para
atender o padrão espetaculoso da FIFA, observando-se obras complementares,
especificamente para essa finalidade, ainda a ser realizada, cujo custos ainda
se discute quem arcará com o prejuízo, já não há mais saldo disponível para o
custeio, assim o aumento do custo cresce sem maior utilidade depois do evento,
em muitos Estados, para nossa perplexidade, escolhidos apenas por caráter
político, não foi levado nenhuma consideração, principalmente o aspecto técnico
e moral.
Muitos dos portos e aeroportos
que seriam feitos melhoramentos certamente suas obras só serão concluídas após
o evento; a mobilidade urbana tão propagada, muitas ficaram na propaganda e nem
mesmo saíram do papel, foram suspensas, outras iniciadas e não concluídas e
muitas concluídas e mal feitas. É o caso específico do Mato Grosso, Cuiabá está
com sua arena sendo questionada pelo Ministério Público, não mostrando a
segurança desejada, e vias públicas avenidas alargadas e executadas, já
interditadas para reparos emergenciais.
O maior problema não está por
conta da observância dos prazos das obras, mas aquilo que é fundamental para o
bom andamento de qualquer projeto que é o custo, aqui não estamos levando em
consideração o seu benefício, pois, como citamos anteriormente esse aspecto não
foi considerado. Temos casos de sobrepreços imorais, por exemplo: o aeroporto
Afonso Pena em Curitiba, na reforma do terminal de passageiro, teve um
acréscimo de 166,7%; mesma reforma no aeroporto Deputado Luís Eduardo
Magalhães, em Salvador, o acréscimo foi de 164,1%, e a reforma do Beira-Rio, em
Porto Alegre o adicional foi de 153,8%, nesse caso a obra que inicialmente era
de R$ 130 mi passou para R$ 330 mi. A reconstrução do Mané Garrincha, em
Brasília, teve 88,3% de adicional, elevando a obra de R$ 745,3 mi, para R$1,403
bi. Portando, os números não são nada modestos e o descaso simplesmente
inadmissível.
Pensando simploriamente, os
gastos só com excedentes nas obras para realização da Copa, apenas para atender
interesses externos, caso específico FIFA, dava para atender algumas
necessidades regionais e que trariam muitos benefícios a tantos que estão
esperando apenas uma oportunidade de trabalho ou de trabalhar com mais dignidade
e menos risco. Apenas para exemplificar o que afirmei: a BR 470 em SC, há muito
tempo espera uma decisão política para ser duplicada numa região de escoamento
de produção até os portos de Itajaí e Navegantes. O porto de Cabedo na Paraíba
precisa apenas de R$ 300 mi, para reformar e ampliar sua área, isso ocorrendo
cresce as possibilidades de trabalho, elevando o grau de esperanças para muitos
trabalhadores que querem apenas trabalhar, nada mais que isso, e os empresários
daquela região, atendida pelo porto, a certeza que seus negócios serão
ampliados, possibilitando novos empregos, incremento de vendas e exportação,
além de crescimento na arrecadação dos impostos, trazendo por conseguinte
melhorias para todos, não é suposição, é fato.
Por essas e outras que o povo tem
suas razões em ficar revoltado com o que ocorre na administração pública
brasileira, com a forma de priorizar investimentos, a maneira de irrigar
recursos para o setor produtivo. O povo brasileiro não vive de expectativas, de
orçamentos faraônicos ou projetos megalomaníacos, vive sim, da labuta diária,
do resultado do suor derramado no final do dia, sob o sol escaldante do nosso
país. O anuncio de corte de R$44 bi no orçamento para esse ano, muita gente já
começa a analisar o seu entorno, até onde vai ficar prejudicada, mais uma vez
muitas obras eleitoreiras vão ser postergadas para os próximos anos, para que
possam impulsionar novas eleições e vitórias de velhos e caudilhos candidatos,
até que um dia o povo acorde da letargia que lhe envolve o discurso da
desfaçatez.
dantasgenival@hotmail.com
Arenas de tantos desperdícios
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/25/2014 07:06:00 PM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário