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Arenas de tantos desperdícios

Genival Dantas
Genival Torres Dantas*

Desde que começou a competição da Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado), com início em 1930, século passado, com 19 edições, em 16 países em 4 continentes diferentes, portanto, a desse ano será de número 20, com a composição de 32 países participantes, a ser realizada em nosso país, pela segunda vez,  ocorrida a primeira em 1950, cujo desfecho para nós foi lamentável e melancólico, pela derrota histórica que tivemos diante dos uruguaios que se consagraram campeões pela segunda vez.

O Brasil aprendeu, com o futebol, nesses longos 84 anos de competição, ser uma das poucas unanimidades nacionais, nesse esporte, e

é no momento de uma competição da Copa do Mundo que o país esqueça as diferenças sociais econômicas e políticas e forma um coro em apoio a nossa seleção canarinha que tem retribuído com grande espírito de luta se constituindo na maior seleção vitoriosa com o título de hexa campeão, privilégio exclusivamente nosso.
 O Brasil ser sede da Copa de 2014, depois de ter sediado a Copa das Confederações (2013), e antes das Olimpíades (2016), foi o motivo encontrado para que o país desse um grande salto e conseguisse  se modernizar, se mostrando, ficando na vitrine do mundo como exemplo de organização, difundindo nossas belezas para ampliar nosso mercado de turismo, além de buscar a confiança nos investidores internacionais, transformando a infraestrutura que ficará do evento, ponto de apoio para as comemorações em 2022 do Bicentenário da Independência, independentemente dos resultados obtidos pelo nosso futebol durante a competição.

Com tristeza temos verificado que o entusiasmo inicial está sendo corroído pela falta de um planejamento pontual e direcionado aos princípios mais preliminares da eficiência que é o entendimento e atendimento de metas preestabelecidas para consecução das obras prioritárias, dentro de um projeto estruturante. Com previsionamento de custos em 2010, data da avaliação de estudos, de R$ 23,52 bilhões, esse número já supera R$ 25,58 bilhões, depois de retirado 17 projetos tanto na infraestrutura como na mobilidade urbana nas cidades sedes, total de 12, além da modernização de portos e aeroportos, do plano inicial.
Os movimentos de ruas, iniciados em junho de 2013, quando a juventude estudantil e trabalhadores, reivindicavam direitos e serviços mal feitos pelo governo brasileiro, fazia menção ao patrocínio da Copa do Mundo de 2014, não pela sua realização em nosso país, mas, pelos custos abusivos e despropositados apresentados, em detrimento a outros investimentos tão necessários nesse momento de ganhos, por grande parcela da população que com novo realinhamento na pirâmide social outras necessidades se apresentam, mais desejos de novas conquistas, o que lhe é de direito, passam a fazer parte dos seus sonhos e objetivos de consumo.

O questionamento é perfeitamente oportuno quando verifica-se o destrato com o dinheiro público é uma prática comum em todas as esferas governamental e tem se evidenciado no gerenciamento do Projeto Copa, quando as arenas, denominação dos nossos saudosos estádios, reformados ou construídos para essa finalidade, tem se arrastado durante o tempo e agora que não há mais tempo para novas dilatações de prazos há uma verdadeira correria para entrega desses monumentos construídos apenas para atender o padrão espetaculoso da FIFA, observando-se obras complementares, especificamente para essa finalidade, ainda a ser realizada, cujo custos ainda se discute quem arcará com o prejuízo, já não há mais saldo disponível para o custeio, assim o aumento do custo cresce sem maior utilidade depois do evento, em muitos Estados, para nossa perplexidade, escolhidos apenas por caráter político, não foi levado nenhuma consideração, principalmente o aspecto técnico e moral.

Muitos dos portos e aeroportos que seriam feitos melhoramentos certamente suas obras só serão concluídas após o evento; a mobilidade urbana tão propagada, muitas ficaram na propaganda e nem mesmo saíram do papel, foram suspensas, outras iniciadas e não concluídas e muitas concluídas e mal feitas. É o caso específico do Mato Grosso, Cuiabá está com sua arena sendo questionada pelo Ministério Público, não mostrando a segurança desejada, e vias públicas avenidas alargadas e executadas, já interditadas para reparos emergenciais.
O maior problema não está por conta da observância dos prazos das obras, mas aquilo que é fundamental para o bom andamento de qualquer projeto que é o custo, aqui não estamos levando em consideração o seu benefício, pois, como citamos anteriormente esse aspecto não foi considerado. Temos casos de sobrepreços imorais, por exemplo: o aeroporto Afonso Pena em Curitiba, na reforma do terminal de passageiro, teve um acréscimo de 166,7%; mesma reforma no aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, o acréscimo foi de 164,1%, e a reforma do Beira-Rio, em Porto Alegre o adicional foi de 153,8%, nesse caso a obra que inicialmente era de R$ 130 mi passou para R$ 330 mi. A reconstrução do Mané Garrincha, em Brasília, teve 88,3% de adicional, elevando a obra de R$ 745,3 mi, para R$1,403 bi. Portando, os números não são nada modestos e o descaso simplesmente inadmissível.

Pensando simploriamente, os gastos só com excedentes nas obras para realização da Copa, apenas para atender interesses externos, caso específico FIFA, dava para atender algumas necessidades regionais e que trariam muitos benefícios a tantos que estão esperando apenas uma oportunidade de trabalho ou de trabalhar com mais dignidade e menos risco. Apenas para exemplificar o que afirmei: a BR 470 em SC, há muito tempo espera uma decisão política para ser duplicada numa região de escoamento de produção até os portos de Itajaí e Navegantes. O porto de Cabedo na Paraíba precisa apenas de R$ 300 mi, para reformar e ampliar sua área, isso ocorrendo cresce as possibilidades de trabalho, elevando o grau de esperanças para muitos trabalhadores que querem apenas trabalhar, nada mais que isso, e os empresários daquela região, atendida pelo porto, a certeza que seus negócios serão ampliados, possibilitando novos empregos, incremento de vendas e exportação, além de crescimento na arrecadação dos impostos, trazendo por conseguinte melhorias para todos, não é suposição, é fato.

Por essas e outras que o povo tem suas razões em ficar revoltado com o que ocorre na administração pública brasileira, com a forma de priorizar investimentos, a maneira de irrigar recursos para o setor produtivo. O povo brasileiro não vive de expectativas, de orçamentos faraônicos ou projetos megalomaníacos, vive sim, da labuta diária, do resultado do suor derramado no final do dia, sob o sol escaldante do nosso país. O anuncio de corte de R$44 bi no orçamento para esse ano, muita gente já começa a analisar o seu entorno, até onde vai ficar prejudicada, mais uma vez muitas obras eleitoreiras vão ser postergadas para os próximos anos, para que possam impulsionar novas eleições e vitórias de velhos e caudilhos candidatos, até que um dia o povo acorde da letargia que lhe envolve o discurso da desfaçatez.

 *Escritor e Poeta
dantasgenival@hotmail.com  
Arenas de tantos desperdícios Arenas de tantos desperdícios Reviewed by Clemildo Brunet on 2/25/2014 07:06:00 PM Rating: 5

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