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As folhas amarelam enquanto os corações não se enternecem

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

O verão partiu deixando um rastro de inúmeras ações de consequências ainda por serem avaliadas, com resultados iniciais, e de imediatas sequelas, bem definidas nas nossas respectivas regiões, com  características bem delineadas. Por ter sido um dos mais quentes verão dos último tempos, por conseguinte, o nordeste brasileiro e o centro-sul  foram submetidos a uma das mais longas estiagens já registradas na memória do nosso povo. Como é peculiar à região nordeste, a ausência de chuvas, mais uma vez, fez o nordestino sofrer com seus dramas humanos, colocando em retirada grande parcela daquela população tão judiada e
persistente, resistindo até o último caneco de água barrenta, retirada do último poço que agora é lama e será barro nos próximos dias.
Não fora as parcelas pagas, pelo plano assistencial, oriundo do bolsa família, pelo governo central, às famílias carentes, a penúria seria maior e mais séria do que foi vivenciado. Felizmente, já no final da estação, concomitante com o final de março,naquelas terras as chuvas começaram a cair como se fossem lagrimas sentidas de um céu que acompanha a vida sofrida da gente valente que volta a sorrir, e retorna com sua família e os animais de cria, que a seca não abatera, agora sentindo o cheiro da terra molhada pelos pingos da água, que traz ao peito do valente sertanejo, mais uma vez, uma réstia de esperança de não mais fugir do seu torrão natal.
No Sudeste a escassez foi tanta que o mais rico Estado do nosso país teve, através do seu governador, de engendrar projeto para suprir as necessidades de consumo da água, para a Capital de São Paulo, depois que sua margem de segurança foi estrangulada, na maior represa de abastecimento, o sistema Guarapiranga, hoje com apenas 16% da sua capacidade de armazenamento, de um total de 171 milhões de m³; e ver sua ideia repudiada pelo governador do Estado vizinho, o Rio de Janeiro, alegando um perigo iminente se por acaso ceder parte da água do Rio Paraíba do Sul, desejo do governo paulista, cujo rio nasce em terras paulistas, sua única garantia de abastecimento para parte de uma população superior a 8 milhões de habitantes.
Um verdadeiro imbróglio que deve ser superado pelo bom senso que sempre prevaleceu num momento de aflição de dois estados, o assunto deverá ser mediado pelos órgãos competentes do governo central, lembrando que é para isso que serve uma República Federativa, como somos.
Infelizmente o que está em jogo não é apenas o desvio ou não das águas do Paraíba do Sul, o busílis é mais que isso, é político. Se não estivéssemos em ano eleitoral, a questão seria resolvida com a égide dos dois governantes sem necessidade de intervenção federal, entretanto, constatado a contemporaneidade dos fatos, sem dúvida a disputa fica mais acirrada, ficando a pecha mais acentuada e modorrenta.
Nesse mesmo período o paradoxal ficou no Norte Brasileiro, enquanto algumas regiões sofrem com as águas das chuvas, e vindas principalmente das terras bolivianas, outras estão a queimar suas matas por conta dos incêndios provocados pela alta temperatura da época. Muita gente no isolamento provocado pelas estradas intransitáveis e perigosas para os transportes de cargas, ficando muitas vezes impotentes com toda suas potencias e tecnologia do setor, a soçobrar nas barreiras e lamaçais.
            Depois de longa peleja eis que vem no ritmo cíclico a estação mais amena, o outono austral com a esperança que venha embatucado, como uma sombra a sair das águas trazendo no seu arresto, não uma penhora por uma dívida confessada, mas a certeza da esperança de dias mais suaves, tal qual a brisa da noite a afagar o rosto do paciente impaciente com um diagnóstico favorável a sua causa que não está perdida.
É o continuar da vida, é a luta de uma gente que nunca foi liliputiano, mas, sendo assim confundido pelos falsos fariseus com promessas de bons tempos e nada faz de objetivo para transformar o dia a dia dos mais necessitados e menos favorecidos; a vilipendiar aqueles que imitam as caducifólios que deixam que caiam suas folhas para não perderem a água pelo processo de evaporação e se manterem vivas; assim é o brasileiro lutador, fiel a sua terra, fervoroso amante a sua família, devoto aos seus princípios éticos, tão desmerecidos nos últimos tempos!
           É o tempo passando, as coisas voltando ao seu curso natural, as águas enchendo as represas que geram energia a partir das usinas hidrelétricas, produzindo riquezas com o funcionamento das indústrias; é o comercio intermediando negócios, ajudando as nossas commodities a ser referência como o setor que mais contribui com a nossa balança comercial; são as águas baixando voltando ao seu leito e curso habitual, liberando os campos e estradas, trazendo novamente vida onde tudo parecia algo definitivamente tétrico, e o sorriso estampado no rosto de uma gente efetivamente brava, fazendo a região mais feliz permeada de motivos para continuar a luta de sempre, nem mais parecendo, pelas imagens que chegam à civilização, o velho oeste americano com suas carruagens e seus cavalos perdidos na incerteza de chegarem ao seu destino, roteiro de velhos filmes em preto e branco, que faziam a alegria dos crianças de meio século passado, ao ver o mocinho salvar de índios e bandidos, os passageiros inocentes, nos saudosos cinemas.
            Como seria bom se o homem, esse animal, produto do meio, imitasse a natureza e fizesse como manda o modelo natural, prometendo e fazendo, com escrúpulos e honradez, fechando os ciclos, completando suas ações, sem desvios nem favorecimentos aos seus, se não existissem os mitomaníacos a iludir os seus pares com palavras fáceis e atitudes difíceis.
Infelizmente, outra estação virá e com ela novas promessas enchendo de esperanças nosso povo crédulo, pois não acreditam na maldade no coração dos homens. Se ela não existisse , as transposições estariam completas, sem serem usadas como obras eleitoreiras, e a seca seria algo distante de infelicitar o povo nordestino, pois a tecnologia existente viria a suprir suas ações danosas, pelo menos parte delas. Se não tivesse a usura nas atitudes dos homens, com desvios de recursos nas obras de infraestrutura, com certeza haveria todo um planejamento prévio para que não tivéssemos a possibilidade da falta de água no Sudeste brasileiro, e se o bem fosse a prática dos governantes, o país já estaria com sua malha viária, de norte a sul, suportando os efeitos da natureza e não isolando irmãos que povoam terras distantes desse país continente.
Chegou a hora de repensarmos em tudo que fizemos até agora, o que não presta, com ações procrastinadoras, mentiras descabidas, palavras ao vento, sem consciência ou moral, seja descartado, é hora de mudar, antes que mudem nosso país e transformem nossa liberdade e sejam reeditados as masmorras e cadafalsos e sejamos executados pelos pseudos democratas que usam a política para reeditarem a ditadura, já em prática sem publicização como que silente.
*Escritor e Poeta

As folhas amarelam enquanto os corações não se enternecem As folhas amarelam enquanto os corações não se enternecem Reviewed by Clemildo Brunet on 3/23/2014 09:42:00 AM Rating: 5

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