Plano Real, um projeto de nação
Genival Dantas |
Genival Torres Dantas*
Para falar do
sucesso do Plano Real, precisamos fazer uma retrospectiva de planos anteriores
e a dissertação de alguns fracassos inevitáveis e algumas moedas que circularam
em nosso país. O Real foi a primeira moeda a circular no Brasil, desde o seu
descobrimento (1500) e início da colonização, até 1942, portanto, num período
superior a 400 anos. A sua longa vigência deu-se em decorrência do período de
sua existência, quando era praticado, ainda, o sistema de troca entre os povos.
O governo de
Getúlio Vargas, já no final de 1942, se viu obrigado a trocar a moeda
brasileira e
cortar zeros,
estabelecendo que cada Cruzeiro, nova moeda, corresponderia a mil Réis. Essa
moeda circulou por 25 anos até que em fevereiro de 1967, no final do governo do
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, foi implantado o Cruzeiro Novo,
perdendo três zeros durante sua implantação, circulação até 1970 quando o
Presidente General Emílio Garrastazu Médici, volta com o Cruzeiro em maio
daquele ano, sem corte de zeros.
Em fevereiro
de1986, o presidente Sarney, nascido José de Ribamar Ferreira de Araújo,
implanta o Plano Cruzado e altera a moeda, com corte de três zeros e leva o
mesmo nome do plano, focando apenas a renda do trabalhador, não teve sucesso,
sendo sequenciado pelos Planos Bresser (1987) e Verão (1989), mesmo congelando
preços, confiscando mercadorias e a presença dos fiscais do Sarney, por se
tratar de Planos superficiais, o déficit fiscal aumenta e a moeda com uma
existência efêmera se desvaloriza com muita rapidez, ficando em circulação até
quando e em função da inflação descontrolada e elevada, num patamar já
considerado de hiperinflação, transforma o Cruzado em Cruzado Novo.
Permanece até
a ascensão do presidente Fernando Affonso Collor de Mello, quando o Cruzeiro
ressurge em março de 1990, como unidade monetária em substituição ao Cruzado
Novo, com o Plano Collor, durante o primeiro ano do Governo de Fernando Affonso
Collor de Mello, nessa mudança não ocorreu corte de zeros. Fernando Collor, nos
seus dois anos de governo, ainda lança o Plano Collor 2 e o Plano Marcílio,
quando já estava no ministério da fazenda
Marcílio Marques Moreira, em substituição a Zélia Cardoso de Mello. Os
três planos não foram suficientes para manter a moeda estável e segurar a
inflação. A insatisfação era generalizada, Fernando Collor tinha confiscado a
poupança, congelado salários dos funcionários públicos e preços.
Com a
renúncia do Fernando Collor (1992), assume a Presidência da República, o
Vice-Presidente Itamar Augusto Cautiero Franco, que patrocina uma mudança
radical na nossa economia, coloca como ministro da área Fernando Henrique
Cardoso, com livre trânsito entre os notáveis do PSDB, os PHDs da economia,
juntos elaboraram o Plano Real. Inicialmente implantaram a URV (Unidade Real de
Valor), com o cruzeiro real em 1993 entrando em ação antecipando o Real.
Dolarizaram nossa economia, fizeram o ajuste fiscal, com gastos policiados. Foi
criado o PAI (Programa de Ação Imediata), focado no combate a sonegação fiscal
e redefinição do BC (Banco Central); ao mesmo tempo é implantando o FSE (Fundo
Social de Emergência), realocando verbas para saúde, educação e outros setores,
comprometendo 2% do PIB para essa finalidade; cria-se automaticamente uma nova moeda, quando a URV
atinge U$2.750,00, são cortados três zeros e instituído o Real, o epônimo do
plano; em 30 de junho de 1994, 1 Real correspondia a 1 URV e equivalia a 1
dólar.
O Plano deu
certo e foi responsável diretamente pela eleição de Fernando Henrique Cardoso
para a presidência da República. No início alguns setores tiveram que se
adaptar com a nova cultura de estabilidade. Ocorreu uma quebra geral nos bancos
que não se estruturaram para essa nova realidade nacional e a compra dos seus
ativos pelos bancos estrangeiros num oportunismo desmedido, já que eles tinham
experiências da nossa situação nos seus mercados de origem, principalmente os
Europeus.
Com a
estabilidade da moeda e a economia, por conseguinte, ficando forte e sólida, o
país se transforma num produtor agrícola, principalmente grãos, dessa forma
ganhamos o mercado internacional e nos colocamos na ponta dos principais
exportadores nesse item, incluindo-se ainda, nessa atividade, nossas
commodities minerais, e manufaturados. A indústria aproveita o momento e cresce
não no ritmo esperando, mas desenvolve práticas de solidez se sustentando e
ampliando oportunidades internas e externas, gerando um comportamento de novas
oportunidades na globalização. O Brasil inicia investimentos no campo social,
com criação de algumas assistências aos mais pobres e carentes, como vale leite
e bolsa escola, é o Brasil começando a se voltar para as periferias das grandes
cidades e o interior do Brasil.
O Presidente
Fernando Henrique é reeleito (1999/2002) e sequencia seus planos e objetivos
para novos patamares para a nação, privatiza setores da economia possibilitando
crescimento mais robusto em diversos setores, muito criticado pela oposição,
que continua, apesar do sucesso, não poupando desconfiança principalmente ao
Plano Real que considerava um golpe eleitoreiro fadado ao insucesso, inclusive
votando contra sua criação.
A esquerda
chega ao poder com Luís Inácio Lula da Silva (PT), (2003/2007), toma uma medida
acertada dando continuado no Plano Real, para tanto, nomeia para sua equipe Henrique
de Campos Meirelles, vindo do ninho Tucano (PSDB), para presidente do BC (Banco
Central), cargo que ele tinha muita intimidade e desenvoltura quando ocupou a
mesma posição no governo anterior, e definiu o Antônio Palocci Filho como
ministro da fazenda. Os dois mantiveram os mesmos fundamentos do Plano Real e o
Brasil avança com a oportunidade que teve quando o mercado internacional nos
era favorável.
O Lula é
reeleito (2007/2011), sem dificuldades, pois tinha investido todo seu Capital
político na área social, agrupando todos os benefícios aos mais carentes num
único plano, e cria o bolsa família, uma grande ideia, apenas com um único
erro, não há contrapartidas nem prazo de validade, não estimulando ao
beneficiado que retorno ao mercado de trabalho ou se integre a ele, um erro
crasso de criação.
Muito embora
o país viesse atravessando uma fase crítica na área da moral, com a descoberta
de corrupção no governo, com a identificação dos famosos mensaleiros, Lula
consegue eleger sua candidata do (PT), a ex-chefe da casa cível Dilma Vana
Rousseff (2011/atual), a presidente da república, e a esquerda continua no
governo, brigando pelo projeto político de 20 anos no poder.
Após 20 anos
de existência o Plano Real está exaurido pelo tempo e por absoluta falta de
ajustes ou realinhamento tão necessário para manutenção da moeda que um dia foi
tão forte, parecendo nunca ter fim, esse descaso tem enfraquecido não só a
moeda, como a economia como um todo. A vocação do governo atual pelo
assistencialismo se esqueceu dos fundamentos e da dinâmica de uma administração
pública eficiente e eficaz, privilegiando alguns setores da economia com
renuncias fiscais, favorecendo áreas industriais específicas, que nada
trouxeram como retorno ao nosso país, pelo contrário, essas ações localizadas
sucatearam nossa indústria, pioraram os serviços públicos, tornaram
ineficientes e precárias as estradas rodoferroviárias encareceram o custo
Brasil, inviabilizando nossas exportações, elevaram o grau de descontentamento
da população, com manifestações pontuais, e reivindicações as mais diversas.
Com a
aproximação das eleições, nesse ano, e a condenação dos mensaleiros pelo STF
(Supremo Tribunal Federal) temos visto uma verdadeira correria do governo para
se manter no poder, na outra ponta temos um oposição perdida entre o que não
fez no passado e que proposta nova pode apresentar para uma população desejosa
de novas oportunidades de ganhos; pois, o governo não pode ficar tratando os
ganhos sociais, muito significativo para a sociedade, como única plataforma
política na sua campanha, e a oposição não deve viver de lembranças de um plano
que foi executado com inteligência e competência, mas, precisa se reinventar se
quiser retornar ao poder, caso contrário, apesar dos problemas atuais e o final
infeliz dos mensaleiros aloprados, o governo não terá dificuldade de reeleger a
atual presidente, é fato.
*Escritor e Poeta
Plano Real, um projeto de nação
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/04/2014 07:31:00 AM
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