Quando votei nulo
Ricardo Ramalho |
Ricardo Ramalho*
Sempre penso
que existe um candidato em que possa votar. Mesmo em situações críticas, de
raras boas opções disponíveis, realizo minha escolha, no arauto do processo
democrático: a eleição.
Assim, continuo defendendo o voto válido, acrescendo
outros argumentos como aquele que a omissão privilegia o pior candidato que tem
votos garantidos de seu “curral”.
Tentar a melhoria social, o primado do bem
comum, o equilíbrio ambiental, usando o poderoso instrumento do voto e
sua
potencial capacidade de transformação política. Mas, houve uma só vez que votei
nulo.
Estávamos em
1970, sob as botas, a truculência e a obtusidade do general Médici. Asfixiada
pelas regras eleitorais, impostas pela ditadura e preparadas para impedir
qualquer resultado expressivo a seu favor, a oposição brasileira pregou, no
boca a boca, o voto nulo como forma de protesto. Poucas pichações nas maiores
cidades do país incitavam a esse gesto libertário.
Ainda
estudante secundarista, fui votar em Pombal, na Paraíba, em 15 de novembro. A
secção situava-se no então Grupo Escolar João da Matta, onde havia, inclusive,
estudado o primário. Resolvi que votaria nulo, com a oposição ao regime
militar. Mas, como votar nulo?Necessitava de um gesto mais eloquente, mais incisivo que,
simplesmente, riscar a cédula eleitoral! No momento criei, imaginariamente, o
MEP (Movimento de Esquerda da Paraíba). Trêmulo (não sei se de medo ou de
fervor político), embora protegido pelo segredo da cabina eleitoral escrevi, em
letras maiúsculas, a minha “organização política”, recém formada e votei nela,
no “glorioso” MEP, que, seguramente, obteve seu primeiro e único voto, em sua
curtíssima trajetória.
*Cronista pombalense
Quando votei nulo
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/30/2014 04:57:00 PM
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