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Política, a polissemia dos incautos apátridas

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

    Tive que recorrer às minhas memórias de infância para ter parâmetros comportamentais na política nacional e seus executores. A primeira campanha política que eu tinha noção do que estava acontecendo, muito embora a minha idade de apenas sete anos, fazia uma ideia diferente daquilo que fui aprendendo com o exercício dos estudos e assimilação vinda da experiência adquirida. Em 1960 o Brasil entrava em campanha para presidência da República e governadores, no executivo, além de outros cargos para o legislativo, assim como hoje, senadores e
deputados, federais e estaduais.
Para a presidência da República a disputa era entre o candidato situacionista, Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, e sua espada, pelo antigo PSD, e o candidato oposicionista, Jânio da Silva Quadros, e a vassoura da faxina, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL. Na Paraíba, meu Estado natal, concorria dois fortes candidatos ao governo estadual, o vice governador, Pedro Moreno Gondim, que estava em exercício como governador em substituição ao titular, por isso teve que renunciar para concorrer ao cargo; e o deputado federal Janduhy Carneiro, esse último, filho da minha cidade, Pombal.
Um panfleto que me chamou atenção, naquele tempo, composto por duas fotos com os candidatos discursando, mas em situações distintas: enquanto Pedro Gondim mostrava euforia na sua fala, seu concorrente, Janduhy Carneiro, em posição de discurso e às lágrimas, com lenço em punho, a enxuga-las, e em baixo a frase inesquecível, “Não vote em mim, vote em Gondim”. Claro que era uma ideia de marketing, entretanto, aquela imagem e o que estava escrito na concepção de uma criança, de apenas sete anos, no meu caso, era um verdadeiro absurdo e a desfeita contra o candidato da nossa terra, não obstante a decepção, aquilo era previsto como argumento de campanha.
      O tempo passou, fomos submetidos ao governo militar, 1964, com a ditadura e truculência cerceando o direito do cidadão de ir e vir, além da liberdade de expressão tácita e legalmente proibida, as eleições diretas para presidência da República e governadores dos Estados suspensas, além dos prefeitos para as Capitais e estâncias minerais, por uma questão de segurança pública.
Retoma-se a democracia, corria o ano de 1985, um presidente civil no poder, mesmo por voto indireto, já era o começo de novos tempos, o bipartidarismo era substituído por novas siglas e novos líderes, principalmente aqueles que lutaram para o retorno da democracia formavam partidos com conotações ideológicas e arregimentação de seguidores com fortalecimentos de futuras bases para as disputas eleitorais.
        O Brasil já não era o país do futuro, representava o presente em curso à procura do seu espaço no crescimento econômico e social, os recursos naturais se transformam nas commodities tão desejadas pelos países em crescimento e se tornaram fregueses e parceiros internacionais. A educação é levada aos rincões do país, os programas educacionais implantados faz o homem sem nenhuma instrução ser alfabetizado e se transformar em eleitor, surgindo uma categoria de pessoas que sabiam ler e escrever com certa dificuldade, mas lia e escrevia, era o bastante para que o governo brasileiro transforma-se essa nova classe em homem e mulheres em condições de escolher o destino do Brasil, muito embora essa gente humilde não soubesse, nem mesmo, distinguir os meios dos fins.
Entrávamos numa nova fase, o trabalho pelo social toma nova dimensão, foram implantados algumas ações de assistencialismo como o vale transporte, o vale leite, o bolsa escola, a cesta básica passou a ser quase uma obrigação que as empresas tinham para com os seus colaboradores, imposição do governo dentro das suas políticas sociais.
     Com a entrada de um novo governo, agora o populista, parecido com o regime Getulista, da era Getúlio Vargas, apoiado principalmente pelas centrais sindicais, portanto, adotando as mesmas bases de apoio, seu principal líder surgiu do meio sindical, Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. A partir daí as políticas sociais foram reforçadas, todas as ações sociais vindas do governo neossocialista, Fernando Henrique Cardoso, foram transformadas num único programa, Bolsa Família, de maior alcance e de necessidade premente para tirar o homem que vivia a margem da miséria, e retirasse o país da condição dos mais miseráveis, erradicando a fome do nosso meio.
Tudo isso foi muito positivo, mesmo não tendo atingido todos os objetivos traçados, e estarmos pagando um preço muito alto pela nossa nova realidade. Somos um país de 202 milhões de habitantes, estamos colocados na sétimo lugar entre as economias mundiais, participamos do grupo dos emergentes e somos reconhecidos como um país em desenvolvimento com objetivos maiores.
Nem tudo são flores, o Brasil vem sendo administrado por um partido, PT (Partido dos Trabalhadores), que se transformou assim que ocupou o governo, um partido de esquerda tendo que se aliar com uma ala da direita, para ganhar a sua primeira eleição, 1992, e ter condições de governabilidade na sua gestão. Hoje as consequências maléficas com a união da direita com a esquerda vêm tomando um rumo assustador. O executivo passou a controlar o legislativo, que desfigurado e renunciando aos seus deveres constitucionais, vem apenas aprovando leis e projetos de interesse do executivo, não há como fiscalizar o governo central se seu órgão fiscalizador, Congresso Nacional, hoje é submisso, tendo perdido seu principal papel.
A administração pública passou a ser um centro de corrupção com denúncias a todo o momento, já tendo condenações, a membros seus, pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a uma parcela dos principais líderes do partido dominante e seus aliados, no processo mensalão, recentemente sendo acusada de corrupção na maior empresa brasileira, Petrobrás, com um dos seus diretores sendo preso e em delação premiada junto ao Ministério Público Federal e Polícia Federal.
Por estarmos em campanha eleitoral, lembrando aquele panfleto do ano de 1960, chegamos à conclusão que hoje, aquilo seria objeto de trabalho infantil, considerando a tamanha agressividade entre os postulantes aos cargos públicos, por criação dos seus marqueteiros, fazendo questão de apresentar vídeos no horário político gratuito, informação enganosa, nós pagamos para haver esse horário que fala em gratuidade.
O que efetivamente lamentamos, é a falta do bom senso, é o partido do governo, com sua tropa de choque na defesa dos seus atos chegando ao cúmulo de se transformarem em mitomaníacos, na defesa da sua causa, quando a sociedade e o mundo sabe da realidade brasileira, do descalabro que é o governo brasileiro, nunca, na nossa história republicana, tantos dilapidaram tanto o erário público, como nesse governo em andamento.
Por outro lado, temos uma oposição em plena sofreguidão, não sabendo trabalhar com suas limitações e capacidade, ficando a causa oposicionista restrita apenas a dois blocos postulantes ao governo central. O PSDB (partido da social democracia brasileira) vem com um candidato, Aécio Neves, que teve uma participação muito boa enquanto governador do seu Estado, MG, por dois mandatos, porém, deixando muito a desejar como legislador, atuando como senador, no seu atual mandato. Não mostrando um discurso compatível a uma oposição que prega mudanças radicais para o país. O PSB (partido socialista brasileiro), com a tragédia ocorrida, acarretando a morte do seu candidato oficial, em agosto último, lançou a candidata Marina Silva que vem desempenhando um bom papel, com perspectivas de ir ao segundo turno com a candidata oficial Dilma Rousseff. Não sabemos se a candidata do PSB, apesar do seu discurso moralizador, terá fôlego para combater e derrotar a candidata oficial.
A condição de um governo corrupto, como é tido o atual governo, não representa um obstáculo à candidata oficial, apesar de todas as denúncias feitas pela imprensa nacional, o eleitor brasileiro continua com sua posição inabalável no propósito de leva-la ao segundo mandato, é o que tem demonstrado as últimas pesquisas, muito embora todos os três principais candidatos tenham chance para o segundo turno, nenhum deles foi descartado pelos números das pesquisas. Caso a candidato do PSB venha ter força e fôlego, ela é apontada como a maior concorrente dentre eles, principalmente por duas posições tomadas, e que são relevantes nesse momento, para quem entende de política e economia: Independência do Banco Central, e sua gestão por apenas um mandato, renunciando a dois direitos constitucionais, mostrando equilíbrio e sabedoria. Isso é um fato.
*Poeta e escritor
dantasgenival@hotmail.com
Política, a polissemia dos incautos apátridas  Política, a polissemia dos incautos apátridas Reviewed by Clemildo Brunet on 9/19/2014 09:02:00 PM Rating: 5

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